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“Querido Evan Hansen” trata de temas delicados com empatia e compreensão; veja vídeo

Sinopse

Musical fala de fobia social, depressão e bullying com carinho, apontando o resgate por meio da arte

Por Ubiratan Brasil

Uma triste notícia de jornal chamou atenção dos compositores americanos Benj Pasek e Justin Paul, responsáveis por musicais de sucesso como La La Land, O Rei do Show e Aladdin. O texto falava sobre um estudante que cometera suicídio, deixando para trás uma série de cartas que pareciam indicar que ele tinha uma amizade com outra pessoa – e que, na verdade, não existia. Baseados em suas próprias experiências no ensino médio e universidade, além de histórias reais de pessoas que lutaram contra problemas de saúde mental, eles criaram o musical Dear Evan Hansen.

Foi um sucesso espontâneo, especialmente entre os jovens. O espetáculo que estreou na Broadway em 2016 conquistou 6 prêmios Tony, além do Grammy de melhor Álbum de Teatro Musical. Motivada pela força da montagem americana, a produtora Renata Borges Pimenta, da Touché Entretenimento, decidiu comprar os direitos para o Brasil. O trabalho logo ganhou o apoio de outros dois fãs do espetáculo, o diretor Tadeu Aguiar e o produtor e dramaturgo Eduardo Bakr. Mesmo com a falta de apoio de patrocinadores (veja mais abaixo), o espetáculo Querido Evan Hansen saiu do papel, passou com sucesso pelo Rio de Janeiro e agora está em cartaz em São Paulo, no Teatro Liberdade.

Flavia Santana, Mouhamed Harfouch e Gab Lara em Querido Evan Hansen. Foto Ricardo Brajterman

Trata-se de um musical de rara sensibilidade. Conta a história de Evan, um estudante que enfrenta transtorno de ansiedade e se sente invisível entre seus colegas, até que uma pequena mentira o coloca no centro das atenções, levando-o a uma jornada de autodescoberta e redenção. Temas delicados como suicídio, fobia social, depressão, bullying, a pressão da vida virtual, relações afetivas, a importância do pertencimento, e a necessidade do apoio emocional no ambiente familiar e escolar são tratados com extrema delicadeza.

“Não é um espetáculo triste, pra baixo. Ao contrário: mostra como é possível encontrar soluções para problemas tão difíceis”, conta Renata. Mesmo com todo cuidado, Querido Evan Hansen não conseguiu nenhum patrocínio vias leis de incentivo por causa dos temas urgentes que, para empresas com um olhar muito conservador e nada evoluído do ponto de vista do marketing social, não eram atraentes para serem associados às suas marcas.

Cena do musical Querido Evan Hansen. Foto Ricardo Brajterman

“A peça mostra como um abraço pode resolver muita coisa”, comenta Bakr. É o que mostra a trajetória de Evan (Gab Lara), um adolescente socialmente ansioso que busca se destacar na escola e recebe uma conturbada proteção de sua mãe, Heidi (Vanessa Gerbelli), que se divide entre o trabalho no hospital e cursos noturnos, sobrando pouco tempo para o filho. Evan é aconselhado por seu psiquiatra a escrever uma carta para si mesmo todos os dias, relatando coisas boas que lhe acontecem. Uma delas, porém, vai parar no bolso de Connor (Hugo Bonemer), também estudante e que esconde sua fragilidade por meio de atitudes agressivas.

Quando chega a notícia do suicídio de Connor, algo inexplicável para seus pais Larry (Mouhamed Harfouch) e Cynthia (Flavia Santana) e sua irmã Zoe (Thati Lopes), Evan torna-se uma provável fonte de explicação, pois uma carta endereçada a ele foi encontrada no bolso do casaco de Connor.

Cena do musical Querido Evan Hansen. Foto Carlos Costa

De repente, Evan ganha destaque na escola por sua amizade com um colega problemático, o que o aproxima da família dele. Em meio a essa repentina felicidade, Evan perpetua uma mentira que lhe deu uma dose bem-vinda de popularidade. Conta com isso com a ajuda do amigo Jared (Gui Figueiredo) e também de uma aluna socialmente ativa, Alana (Tati Christine).

“É uma situação muito delicada, pois Heidi percebe que seu filho está mais feliz com outra família”, comenta Vanessa. “E ela só cai em si quando percebe o tamanho do problema”, comenta ela na entrevista acompanhada pelo Canal Teatro MF.

Os problemas tratados na peça não dizem respeito apenas aos adolescentes, na opinião de Mouhamed. “O musical fala da ausência na presença. Larry é um homem que está presente em casa, mas seu pensamento é todo tomado pelos problemas profissionais.” E a tentativa de manter a casa sempre em ordem, ignorando de fato os problemas, é o principal defeito de Cynthia, no entender de Flavia Santana. “Ela quer edificar o lar, com tudo funcionando perfeitamente bem. Ela não se enxerga nas próprias dores e Evan traz algo que ela esperava de Connor e não recebia.”

Nesse sentido, Hugo Bonemer estudou o papel para entender as razões de Connor. “Ele e Evan são parecidos, mas reagem de forma diferente. Connor é violento, quer desabafar, e ele sofre porque a família não o conhece de fato”, comenta o ator, que buscou referências para um personagem tão complexo e sedento de atenção.

Também estudiosa de seu papel, Thati Lopes cria uma Zoe carregada de referências conhecidas. “Todo mundo se reconhece em algum lugar, em algum personagem ou situação dessa peça. Assim, busquei os sentimentos que eu sentia naquela idade. E consigo entender a Zoe porque eu também tive perda na minha família, mas fui forte”, afirma.

Nesse emaranhado de relações delicadas, a estudante/ativista Alana buscar um mínimo de atenção. “É uma peça que fala de ausências e Alana não se sente aceita em sua comunidade. Por isso, ela preenche seu tempo com diversos projetos que possam lhe trazer alguma projeção”, observa Tati Christine.

Em meio a situações dramáticas, a presença de Jared é um bem vindo alívio cômico, especialmente quando decide caçoar de Evan quando inventam cartas supostamente escritas por Connor. “Ele usa da ironia para se proteger, para se esconder. No fundo, Jared é engraçado mas parece não ter amigos e, por isso, ri para que as pessoas não o conheçam de verdade”, explica Gui Figueiredo, hilariante no papel.

Todos giram em torno de Evan, papel que Gab Lara (aliás, neto do escritor Otto Lara Resende) abraça com afeto e delicadeza. Ao contrário da montagem americana, cujo protagonismo de Ben Platt praticamente ofuscava os demais atores, desequilibrando um jogo que deveria cuidadosamente bem distribuído, a versão brasileira é mais pungente e, portanto, provoca maior identificação. E Gab Lara contribui para isso. “A maioria das pessoas se identifica com algum problema enfrentado por Evan. Ele é um jovem do século XXI: frágil, indeciso, carente de amor e, muitas vezes, depressivo.”

O retrato é confirmado pelo relato dos adolescentes que conversam com os atores depois do espetáculo, muitas vezes ainda chorando. “Ouvimos diversos jovens contando que tentaram ou pensaram em cometer suicídio”, comenta Tadeu Aguiar. “É uma situação grave. Por isso que o musical é recomendado para adolescentes e também seus pais, para facilitar um entendimento e evitar que situações tristes continuem acontecendo.”

Serviço

Querido Evan Hansen

Teatro Liberdade. Rua São Joaquim, 129

Sextas, 21h. Sábados, 16h e 20h. Domingos, 16h. R$ 60 / R$ 280

Até 22 de setembro

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Ficha Técnica

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Serviço

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