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Quaderna conduz as peripécias de “A Caseira e a Catarina ou O Processo do Diabo”

Com direção de Fernando Neves, especialista no circo-teatro, montagem do terceiro ato de “As Conchambranças de Quaderna”, escrita em 1987 por Ariano Suassuna, estreia no Teatro Parlapatões

Por Redação Canal Teatro MF

A personagem Pedro Diniz Ferreira Quaderna surgiu a primeira vez nas narrativas do mestre Ariano Suassuna no Romance d´A Pedra do Reino, escrito em 1971. Lá, Quaderna é preso em Taperoá por subversão. O romance picaresco, tal como o próprio autor definiu, é formado por cinco livros, divididos em folhetos, que mostram como o protagonista foi parar na prisão.

Trata-se de uma obra extensa e híbrida que não cabe em definições limitadoras. Tamanha grandiosidade narrativa resultou em uma encenação feita para o teatro em 2006 por Antunes Filho e, no ano seguinte, em uma minissérie com direção de Luiz Fernando Carvalho

Patricia Gaspar, Fábio Espósito e ,Fernanda Cunha em A Caseira e a Catarina. Foto Erik Almeida

Mas o protagonista carismático, encrenqueiro e divertido criado por Suassuna não se limita a conduzir apenas as peripécias desse romance. Ele ressurge em As Conchambranças de Quaderna, peça escrita em 1987, dividida em três atos assim denominados: O Caso do Coletor Assassinado, Casamento com Cigano pelo Meio e A Caseira e a Catarina ou O Processo do Diabo, essa última estreia no sábado, dia 7 de setembro, no Espaço dos Parlapatões, com direção de Fernando Neves. 

O enredo, cheio de imbróglios, como é característico da obra de Suassuna, traz uma parteira que tem seu marido roubado por uma prostituta e, para tê-lo de volta, ela faz um pacto com o Diabo. Como ele não cumpre o combinado, ela o intima para um julgamento. Assim, o circo está montado. E, para fazer os conchavos entre a justiça de Deus e a dos homens, é Quaderna quem tentará de todas as formas ganhar tempo para amenizar o possível final trágico. 

Suassuna capricha, como marca de sua escrita, nos estereótipos sociais, muito bem entrelaçados na narrativa, a exemplo da prostituta de personalidade forte, da parteira que comete destinos para defender seu casamento, do marido que trai e diz que ama a esposa, da carola que gosta de arrolar uma confusão, do ateu que apela para Deus quando lhe convém e do juiz que dança conforme a música.

Segundo Fernando Neves, esse texto é muito próximo da realidade nacional. “O brasileiro acredita no impossível, transita entre a lógica e a fé. E, quando poderia haver algum ruído quanto à lógica da história, Suassuna apela brilhantemente para o artifício dramático criativo, mantendo o grotesco e o sublime lado a lado, em toda a peça”.

Patricia Gaspar e Fernanda Cunha em A Caseira e a Catarina. Foto Erik Almeida

Não à toa, a obra foi escrita a partir de uma matéria de página policial de jornal que Ariano Suassuna ouviu pela primeira vez sobre a história de uma mulher que queria prender o diabo. Assim, o autor escreveu a partir desse fato ocorrido em Limoeiro, em Pernambuco.  

Para dar vida às personagens e todos os quiproquós que o texto propõe, Fernando Neves explora a linguagem do circo-teatro. “A questão técnica deve ser preciosa na composição do ator: tempo e ritmo são fundamentais para o protagonismo das cenas, trazendo a graça e fisgando o público pelas ironias irretocáveis, pela qualidade cômica do texto que dispensa cacos e improvisos”, comenta.

Segundo ele, a música potencializa os dramas e os sons incidentais ajudam a revelar emoções, sensações e reações. “A peça é como uma partitura. A música no circo-teatro cumpre funções importantíssimas: cria o clima das cenas e dá o ritmo e o tempo para a atuação, revelando estados emocionais e ligando as situações que preparam o público para o final”.

Neves completa: “os elementos e conceitos criados pelo circo-teatro são os melhores anfitriões para receber a dramaturgia corrosiva de Ariano Suassuna: mágica, sem vínculo psicológico e repleta de metáforas”. O elenco é formado por Jorge de Paula, Fábio Espósito, Guryva Portela, Henrique Stroeter, Tay Lopez, Fernanda Cunha, Patrícia Gaspar e Renata Maciel.

Serviço

A Caseira e a Catarina ou o Processo do Diabo

Espaço Parlapatões. Praça Roosevelt, 158 – Consolação

Quartas e sábados, 20h30. Domingos, 19h. R$ 30

Até 29 de setembro (estreia 7 de setembro)


Sinopse

Ficha Técnica

Serviço