Com texto do inglês Philip Ridley e direção de Alexandre Dal Farra, espetáculo estreia no Sesc Pompéia exacerbando a lógica desenfreada e irresponsável da extinção do outro a qualquer custo
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 15 de julho de 2025)
Para quem vive na cidade de São Paulo, percebe-se há um bom tempo que os bairros vivem em processo constante de transformação, muitos deles atrelados a um dinamismo interesseiro em alterar principalmente seus habitantes e, a partir daí, toda a infraestrutura que cerceia as regiões, visando extinguir populações desfavorecidas para que estes espaços sejam habitados por pessoas com uma classe social com o poder aquisitivo maior. Esse processo de gentrificação suprime uns para que outros ocupem estes espaços, que passam a ser “valorizados” na cidade.
O espetáculo Vermes Radiantes, do poeta, dramaturgo e roteirista inglês Philip Ridley, aponta em sua estrutura uma poderosa e ácida crítica social, com humor perspicaz, para tratar justamente deste poder de supressão do outro. Trata do que as pessoas podem se tornar se cooptadas pela ideia distorcida de ascensão, colocando em xeque até onde estamos dispostos a seguir para realizar os nossos mais ínfimos desejos.

O diretor Alexandre Dal Farra entende que vivemos o ápice deste momento de gentrificação. “Hoje, talvez, vivamos no momento de maior intensidade e brutalidade desse processo, não só no Brasil, mas no mundo. É nesse contexto que se torna fundamental uma obra como Vermes Radiantes, que explicita com imensa precisão e ironia mordaz ao extremo os meandros dessa lógica voraz e assassina – algo que, numa cidade como São Paulo, é o nosso pão de cada dia. Mas Ridley não faz só isso. Seus personagens, fazendo a roda viva da autorreprodução do capital girar, e sendo girados por ela, desdobram também a linguagem, e a fazem girar na espiral louca e impossível do capital que é louco e enlouquece, e que não acaba.”
A peça, protagonizada por Maria Eduarda de Carvalho e Rui Ricardo Diaz, com múltiplas contribuições do ator e músico Marco França, cumpre temporada no Sesc Pompéia e convida o espectador a um exercício estranho, que diverte, mas também aterroriza: refletir sobre a ideia do humano transformado em matéria de ascensão, mediante ao sacrifício ou aniquilamento do outro.
O enredo traz Jill e Ollie querendo contar para as pessoas sobre a casa dos sonhos e sobre como eles conseguiram essa casa. No entanto, para alcançar tal objetivo, fizeram algumas coisas que talvez não tenham sido boas. Uns vão dizer que foram até mesmo chocantes, mas eles vão explicar, tentando fazer as pessoas entenderem. E deixando no ar o seguinte questionamento: Vocês não fariam o mesmo?
Serviço
Vermes Radiantes
Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93
Quinta e sábado, 20h. Sexta, 16h. R$ 60
Até 10 de agosto (estreia em 17 de julho)
