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Pepé, o pequeno palhaço da Paideia, está de volta em novo espetáculo

Sinopse

O diretor e dramaturgo Amauri Falseti sentiu a necessidade de criar outra peça com o mesmo personagem, desta vez para falar com as crianças sobre a sede de aprender e a transformadora relação entre mestres e aprendizes

Por Dib Carneiro Neto

Você pensa que é só filme que tem continuação? Rambo 1, Rambo 2, Rambo 3, Rambo 85? Esqueceram de Mim quantas vezes?  2? 3? 9? 101? É raro, mas o teatro também pode ter um personagem tão bem aceito, tão pleno de possibilidades, que o dramaturgo sente vontade de fazer uma nova peça com ele. Aconteceu com o Amauri Falseti, o dramaturgo e um dos fundadores da Cia. Paideia, em São Paulo. Seu bem-sucedido espetáculo infantil Pepé, O Pequeno Palhaço ganha agora, a partir deste fim de semana, uma sequência, Pepé e Carmela, com estreia nesta sexta-feira, na sede da companhia. 

Para quem não viu, a primeira peça mostrava Pepé, um garoto em situação de rua (como apropriadamente se diz hoje em dia), brincando de ser palhaço em um terreno baldio, na companhia de uma criança de outra classe social, moradora das proximidades do terreno. Nesta “parte 2”, Pepé tenta viver fazendo graça nos faróis da cidade grande, mas é proibido por inclementes autoridades de continuar no cruzamento onde “atuava”. Volta tristemente para o mesmo terreno baldio da primeira peça e lá, desta vez, encontra Carmela, uma palhaça de verdade, clown de profissão. Nascerá dali uma transformação, um sopro de esperança. 

“A trajetória do espetáculo Pepé, o Pequeno Palhaço teve uma aceitação maravilhosa por parte das crianças e das escolas que frequentaram as sessões”, conta Amauri Falseti. “Fiquei bastante animado com essa repercussão. Havia bate papos com as plateias depois dos espetáculos, que muito me entusiasmaram. Foi aí que senti vontade de continuar com esse personagem, uma vez que ele chegou e habitou o coração do público. Como a gente, aqui na Paideia, tem um trabalho bastante forte com as escolas, já sabemos captar logo quando há a empatia, tínhamos portanto uma certa garantia de que era um espetáculo necessário.”

Quartos e quintais: dois espaços da infância

O premiado dramaturgo tem uma sensibilidade extraordinária para retratar a diversidade das infâncias. Vejo em sua já vasta obra pelo menos duas frentes: as peças que se passam em interiores (as casas, os quartos das crianças), como as recentes Pedro e Quim e A Menina de Uruçuca, e essas em que o mundo se descortina em espaços abertos, como os quintais, os terrenos, as ruas. Mas há muito mais. Suas criações, também como diretor, passeiam por fábulas, desvendam livros, recontam mitos. Um artista de criatividade ampla e abrangente. 

Ele conta: “O que me toca na situação de rua é que observo nas crianças livres uma ânsia de vida. A rua tem esse lugar da liberdade, do passeio, da descoberta, do tamanho louco de uma cidade. Eu tenho esse encanto de trabalhar esses temas, lidar com o sonho dessas crianças que querem resolver a própria vida . Esses pequenos seres veem a rua como lugar de fuga, de busca, de sonho mesmo. De vida vivida. E com um medo que perpassa tudo isso. Acho forte e encantador.” 

Cartaz do espetáculo Pepé e Carmela. Foto Cia. Paideia

O jeito como Amauri Falseti fala de seu trabalho, com uma comoção cativante na voz, já vira um convite acolhedor para mergulharmos em sua dramaturgia. Além da liberdade do personagem que vive na rua, Falseti detalha mais um aspecto que ele quis trazer ao novo espetáculo. Vejam: “Pepé pede que Carmela lhe ensine palhaçaria. Essa, para mim, é a chave do espetáculo: essa questão de a criança estar aberta ao aprender, ao conviver, ao estar junto. Ao desejar o ensino, Pepé quer a dignidade. Essa relação de mestre e aprendiz foi o que eu quis evidenciar na dramaturgia desta vez. A vida se transformando a partir do encontro entre mestre e discípulo.” 

O fascínio pela arte dos palhaços

Amauri é fascinado pelos palhaços desde a mais tenra idade. No quintal de sua casa interiorana de infância, como acontecia tanto nas décadas passadas, ele improvisava um circo armado e até cobrava “ingressos”. “Vinham as crianças da rua assistir, e as entradas eram palitos de fósforo”, relembra, comovido. Vem daí sua imensa alegria quando se convenceu de que Pepé, seu personagem, palhaço aprendiz, mereceu ganhar mais um espetáculo. 

Daí para incluir Carmela na trama, como palhaça convidada, foi um passinho só. Melina Marchetti, a Carmela, tem respeitável currículo de dramaturga, diretora, atriz, palhaça e oficineira, formada pela Unicamp. É fundadora da Cia. Teatral Circo Delas. E, claro, tem uma forte relação de afeto com a Cia. Paideia, como nos conta Amauri Falseti: “Ela já fez espetáculos aqui na Paideia, temos uma relação de amizade e parceria. Pessoas da nossa companhia fizeram faculdade com ela. Então, ela é muito próxima. E é tão bom trabalhar com a Melina, porque sempre há respeito, amor, atenção. Foi um processo bem lindo e tenho certeza de que a temporada também será. O convívio com Melina Marchetti combina com o que a gente sonha e com o que a gente espera do mundo.” 

Serviço

Pepé e Carmela.

Paideia Associação Cultural. Rua Darwin, 153. Tel.: (11) 5524-1468

Sábados de abril e maio (exceto dia 20/04), 17h. R$ 30

Entrada gratuita para Professores da Rede Pública e alunos das escolas parceiras: EMEF Carlos de Andrade Rizzini, CEMEI Andaguaçu, CEI Jd. São Joaquim, EE Prof. Alberto Conte e EE Odete Maria de Freitas. 

Até 25 de maio.

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Ficha Técnica

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Serviço

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