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Peça inédita de Tennessee Williams traz temas tabus

Sinopse

“Por que Desdêmona Amava o Mouro?” é baseada em um conto abandonado pelo autor por tratar de assuntos à frente de seu tempo como a misoginia, a homofobia e o racismo

Por Redação Canal Teatro MF

O dramaturgo americano Tennessee Williams (1911-1983) sempre assinalou o caráter ambíguo da natureza humana em suas peças. Foi assim em Um Bonde Chamado Desejo e Zoológico de Vida (também conhecida como À Margem da Vida), entre outras. Seus textos tratavam de assuntos que, muitas vezes, só seriam comuns décadas depois. É o caso de Por que Desdêmona Amava o Mouro?, conto pouco conhecido de sua autoria e que só publicado em 2019 graças ao professor, dramaturgo e diretor Tom Mitchell. Ele também criou uma versão para teatro, que está em cartaz no Sesc Santo Amaro.

Escrito entre 1939 e 1943, o conto foi abandonado pelo autor por recomendação de sua agente. O motivo seria a presença de três personagens impensáveis para a sociedade conservadora estadunidense em plena Segunda Guerra Mundial: um homem negro com alto status social, uma mulher branca apaixonada, porém independente e que luta por seu desejo, e o amigo homossexual dela que não tinha traços caricatos ou um final trágico.

Camila dos Anjos em Por que Desdêmona Amava o Mouro? Foto Ronaldo Gutierrez

Com direção de Noemi Marinho, a peça trata de misoginia, homofobia e racismo ao narrar o inusitado romance entre Helen, uma famosa e solitária atriz de Hollywood, reconhecida como símbolo sexual, e Kip, um jovem e talentoso roteirista. Ela, uma mulher que exerce sua liberdade sexual, precisa lutar contra seu próprio preconceito e é obrigada a assumir seu desejo e sua paixão por esse homem negro e bem-sucedido.

Por ser um homem negro com um cargo prestigiado de roteirista de Hollywood, Kip é uma figura absolutamente inconcebível para a época, visto que as pessoas negras sofriam embargos racistas pela sociedade de então de fazer parte de um grupo tão importante e seleto, reservado apenas para pessoas brancas.

“É incrível imaginar que Tennessee Williams, um homem branco, nos anos 1930, conseguiu imaginar e escrever com tanta elegância e sutileza, Kip. Esse homem negro de sucesso, que tem plena consciência da sua negritude, mas que não se deixa cair no glamour ilusório de Hollywood. Kip percebe que aquela parcela da sociedade branca, que ele se vê obrigado a conviver naquele momento, não o vê como ele realmente é e sim como mais um homem negro objetificado”, comenta o ator Alfredo Tambeiro sobre seu personagem.

O elenco de Por Que Desdêmona Amava o Mouro? Foto Ronaldo Gutierrez

Williams a retrata como uma mulher que se permite viver essa atração sexual, uma paixão que pode destruir sua reputação, sua profissão e sua moral, segundo os ditames da época – que exigia das mulheres o recato, o silenciamento, subserviência e obediência, anulando sua sexualidade.

Por fim, o terceiro personagem da peça, também inconcebível naquele momento histórico, é Renaldo, o melhor amigo e confidente de Helen. Um homossexual aberto, com trejeitos efeminados, portanto com um comportamento que destoa das atitudes de um homem heterossexual cis, o que era proibido de ser abordado na época pelos códigos censores.

Um dos pontos mais altos do texto é a forma como Tennessee Williams questiona o tão almejado “sonho americano”, desconstruindo a meritocracia e revelando as desigualdades enraizadas na sociedade estadunidense. “Ele frequentemente retrata personagens marginalizados, cujas vidas são marcadas pela luta, pela desilusão e pela falta de oportunidades. Ao invés de romantizar a ascensão social, expõe as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade, questionando a noção de igualdade de oportunidades de brancos e negros na sociedade americana”, comenta a atriz Camila dos Anjos.

Serviço

Por que Desdêmona Amava o Mouro?

Sesc Santo Amaro. R. Amador Bueno, 505

Sextas, 21h. Sábados, 20h. Domingos e feriados, 18h. R$ 60

Até 17 de novembro (estreou 11 de outubro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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