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“Otelo, o Outro” faz uma releitura da personagem shakespeariana

Sinopse

Ancorada no pensamento do psiquiatra e filósofo Frantz Fanon, montagem propõe três Otelos em cena que conversam e questionam a identidade do sujeito negro

Por Redação Canal Teatro MF

A última frase do livro Pele Negra, Máscaras Brancas, de Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo nascido na Martinica, é um apelo, ou pra ser mais fiel às suas palavras, é uma prece derradeira: “Ó meu corpo, faz sempre de mim um homem que questiona!”.

O clamor descrito no final deste livro, base do pensamento deste autor, ancora a montagem de Otelo, o Outro que estreia no Sesc Santana na sexta-feira, dia 30 de agosto. 

Cena de Otelo, o Outro. Foto Julieta Bacchin

Partindo da emblemática personagem escrita por Shakespeare no século XVII, a peça é uma potente reflexão poética sobre a identidade do sujeito negro em diáspora, um questionamento acerca do homem negro que o Ocidente inventou. E, para se distanciar dessa idealização ocidental, o espetáculo expõe o Otelo já conhecido do teatro elisabetano, pautado principalmente no casamento com Desdêmona e seu desmesurado ciúme.

O casamento com uma mulher branca da elite é o ápice da metáfora que evidencia essa entrega incondicional a um sistema de valores e a comportamentos que o estigmatizam como “o mouro”, ao mesmo tempo que se serve dele. 

Mas esse Otelo não está sozinho. A dramaturgia faz a releitura expondo uma consciência dividida e que conversa consigo e com o outro, ou melhor, os outros, já que a personagem de Shakespeare encara outros dois Otelos que o habitam e que o guiam num caminho tão intrincado quanto doloroso. Para isso, a montagem com direção de Miguel Rocha conta com os atores Carlos de Niggro, Jefferson Matias e Kenan Bernardes

Cena de Otelo, o Outro. Foto Julieta Bacchin

O debate que se dá entre as três alegorias da personagem passa necessariamente por Desdêmona, mas percorre outras sendas, explorando ambiguidades e aporias da memória e da identidade afro diaspórica, marcadas pelo deslocamento social e cultural.

Apesar do tom questionador que Frantz Fanon conclamou ao final do livro já citado, o espetáculo não quer dar respostas. Ele quer provocar mais que solucionar. Otelo, o Outro explora as contradições da própria consciência negra numa sociedade como a brasileira contemporânea, hegemonizada pelo capitalismo neoliberal e pela indústria cultural pós-moderna, que sempre aspira ao novo sem enfrentar e superar o legado do escravismo colonial e de seu autoritarismo estruturante.

Assim, o espetáculo olha para um passado colonizador, por meio de uma figura tão simbólica como Otelo, para narrar os efeitos da racialização da experiência humana. 

Serviço

Otelo, o Outro

Sesc Santana.  Av. Luiz Dumont Villares, 579

Sexta e sábado, 20h. Domingo, 18h. Dia 07/09, sessão às 18h. R$ 60

Até 8 de setembro (a partir de 30 de agosto)

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Ficha Técnica

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Serviço

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