Com direção de Dani Angelotti, que divide a dramaturgia com Dirceu Alves Jr., o ator Eduardo Estrela relembra histórias e memórias de chefs e cozinheiros movidos por uma paixão pela culinária profissional
Por Ubiratan Brasil
A gastronomia não é capaz de acionar o sentido do paladar – pode também agitar a visão e a audição em sua relação com outras artes. No filme Estômago (2008), por exemplo, dirigido por Marcos Jorge, o público acompanha a ascensão de Raimundo Nonato que, de faxineiro, descobre-se um exímio cozinheiro. Sua vida muda e ele se depara um mundo novo, repleto de aromas, sabores e amores que ele nunca experimentou. O longa, aliás, vai ganhar uma continuação que estreia no dia 15 de agosto.
Uma viagem pelos sentidos do olfato, audição, visão, paladar e tato é o que proporciona o espetáculo O Que Tem na Cozinha, que estreia no dia 17 de julho em um local apropriado: o Restaurante Modi Giardino.
A peça, interpretada por Eduardo Estrela, é dividida em 5 atos, cada um deles abordando um dos sentidos humanos para relembrar histórias e memórias de chefs e cozinheiros profissionais e amadores, que relatam sua paixão pela gastronomia. Nesse ambiente sensorial, o público poderá degustar, além das histórias, um prato a cada ato, complementando a experiência multissensorial que o espetáculo busca proporcionar.
O menu degustação de 5 tempos é opcional e foi elaborado pelo chef Diogo Silveira, que possui mais de 20 anos de experiência em gastronomia italiana, de acordo com cada história. Já as harmonizações e serviços foram concebidos por Sissi Spitaletti, sommeliére.
“A ideia inicial era mostrar esse fascínio em torno de uma boa comida, capaz de seduzir e aproximar diferentes pessoas, despertar sensações indescritíveis, mas sempre apoiado no humano, em quem faz a comida e quem vai comer, e o quanto as vivências e as emoções de cada um colaboram para essa experiência”, comenta o jornalista Dirceu Alves Jr., colaborador do Canal Teatro MF que escreveu a dramaturgia ao lado de Dani Angelotti, responsável pela direção.
O espetáculo homenageia tanto a culinária profissional dos restaurantes, aquela comandada por grandes chefs, como também a cozinha afetiva. A proposta é proporcionar uma imersão do público por sabores e memórias. Para isso, a peça foi idealizada para acontecer em espaços onde a comida é o centro das atenções.
“Quando convidei o Dirceu para participar da escrita do espetáculo, pensei no estímulo que a gastronomia pode oferecer”, conta Dani Angelotti. “A ideia de dividir os atos da peça em cada um dos 5 sentidos é para que o público possa perceber cada uma das coisas ao qual está vivenciando, tanto nas histórias do espetáculo como através do que estará saboreando no menu degustação com 5 provas diferentes, pensada para cada ato da peça.”
Na criação do texto e na concepção da direção do espetáculo, especialmente em relação às questões técnicas sobre gastronomia, a equipe contou com a assessoria do chef Alejandro Huerta, que possui vasta experiência como chef em restaurantes renomados no Brasil e no exterior e acompanhou todas as etapas da escrita e ensaio.
Dani, além de diretora e produtora teatral, é uma apaixonada pela gastronomia, o que a incentivou a abrir um restaurante em São Paulo em 2014 em parceria com Eduardo Estrela, Sissi Spitaletti e Diogo Silveira. Apesar do sucesso, sua verdadeira vocação era o teatro, e ela deixou a sociedade dois anos depois.
Casou-se com o chef chileno Alejandro Huerta que, apesar de sua experiência em restaurantes renomados, tem formação em artes cênicas e também ama o teatro. Juntos, tiveram a ideia de criar um espetáculo que combinasse teatro e gastronomia e para isso convidaram Dirceu Alves Jr. para fazer a dramaturgia.
“Foi nesse momento que a participação da Dani, do Eduardo e do Alejandro, com a grande experiência deles no mundo gastronômico, deu um novo rumo ao material que eu tinha apurado. Eu me preocupei desde o início com a emoção dos personagens, como a gastronomia pode ter transformado a vida de cada um e também em estabelecer conexões entre o universo da cozinha e do teatro. Com estas informações levantadas, a Dani arrematou com o lado mais técnico e emotivo da gastronomia”, explica Dirceu.
Acompanhe como foi elaborada a divisão dos atos
1º Ato – Olfato
No começo do espetáculo, o ator Eduardo Estrela lembra dos aromas da sua casa de infância e relata como se apaixonou pela gastronomia, conectando lembranças afetivas ligadas à sua mãe e sua experiência como dono de restaurante.
2º Ato – Audição
Nesse ato, Eduardo se transforma em um apresentador, como os dos programas gastronômicos de televisão e, por meio de brincadeiras, ressalta experiências auditivas, como a habilidade de perceber o ponto certo de cozimento do arroz pelo som da panela. Por fim, convida o público para uma experiência gustativa surpresa.
3º Ato – Paladar
A cena se converte em uma cozinha, que representa mudanças e descobertas por sabores ainda não explorados. Após mais de três décadas trabalhando em casas e cozinhas de diversos restaurantes, um cozinheiro vindo para São Paulo percebe o quanto essas descobertas mudaram e conduziram a sua vida.
4º Ato – Visão
A cena se desdobra em uma cozinha afetiva onde Eduardo retrata uma mãe que recebe os filhos e netos em sua casa todo final de semana. Enquanto prepara uma massa, conta sobre sua história e o sobre cuidado que tem com cada ingrediente e com a apresentação de cada prato, deixando tudo lindo pois, como diz o ditado, comer começa com os olhos.
5º Ato – Tato
No último ato, Eduardo volta a ser o ator e conta o que o instigou a fazer esse espetáculo que faz um paralelo entre teatro e gastronomia. Diz ele: “Um dia, vi um chef francês que, ao perder uma estrela no guia Michelin, disse: ‘A cozinha é um ambiente com uma grande pressão. Qual outra profissão liberal aceitaria ser constantemente avaliada?’. Na hora, pensei – a do Ator!”
Assim, o último ato compara a experiência teatral tanto do ator como do público com a experiência gastronômica do Chef e do cliente e utiliza o sentido do tato como metáfora para conduzir as relações afetivas nesses dois universos.
Serviço
O Que Tem na Cozinha
Modi Giardino. R. Dr. Cândido Espinheira, 431 – Perdizes.
Quartas e quintas, 20h.
Ingressos:
(Espetáculo: R$ 90 + Menu degustação: R$ 120)
Pacote individual: R$ 210
Pacote individual meia entrada: R$ 165
Pacote promocional para casal ou 2 pessoas: R$ 380
O que compõe o Menu:
Na chegada: Couver + 1 bebida (taça de vinho, refrigerante, drink da casa ou água)
Entre os atos: Menu de 5 tempos, com 4 pequenos pratos e um prato principal.
*O participante só descobrirá o cardápio na hora do jantar, pois a surpresa faz parte da experiência. Dessa forma poderá informar sobre restrições no ato da compra no site de vendas.
Até 29 de agosto.