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“O Marinheiro” navega pelas palavras de Fernando Pessoa com atrizes dirigidas por Elias Andreato

Sinopse

Cristina Mutarelli, Michele Matalon e Muriel Matalon interpretam mulheres que refletem sobre a existência em rara obra teatral do poeta português

Por Dirceu Alves Jr.

Foi da boca de Maria Bethânia que Elias Andreato ouviu pela primeira vez as palavras do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). O futuro ator e diretor, então com 17 anos, assistiu ao show Rosa dos Ventos, em que a cantora alinhava música popular e textos poéticos. Pouco tempo depois, já integrante de um grupo de teatro amador, Andreato ganhou um colega um livro com a obra completa de Pessoa. Entre as joias incluídas no volume aparecia O Marinheiro, peça de teatro escrita em três dias por um jovem um tanto atormentado para os seus 23 anos.   

Conhecido como um drama estático, O Marinheiro enfoca três figuras femininas na torre de um castelo que discorrem sobre questões existenciais enquanto velam uma morta e foi sugerido pelo diretor para as atrizes Cristina Mutarelli, Michele Matalon e Muriel Matalon. As três, desde a pandemia, buscavam um texto para levar ao palco e leram obras de Samuel Beckett e William Shakespeare que, apesar da qualidade, não atravessavam a racionalidade para bater de encontro ao sentimento.

Michele Matalon, Cristina Mutarelli e Muriel Matalon em O Marinheiro. Foto Ronaldo Gutierrez

“Procurava um texto que me levasse a sair de casa para voltar ao teatro e que fizesse sentido para que alguém saísse de casa para me assistir”, resume Muriel, aos 63 anos, que retorna à cena depois de um jejum superior a duas décadas. “Quando li Pessoa, enxerguei situações que acontecem com qualquer ser humano e, principalmente, comigo.”

O espetáculo O Marinheiro, que entra em cartaz nesta terça, 18, no Espaço Ateliê Cênico, na Vila Buarque, começou a ser formatado em outubro sem qualquer previsão de estreia. Andreato e as atrizes marcaram encontros quinzenais que passaram para uma ou duas vezes por semanas até que, no fim de fevereiro, uma equipe de produção foi montada e os ensaios se intensificaram.

“Eu falava para elas que, no máximo, dedicaríamos um tempo maravilhoso de criação para a gente mesmo e, no fim do processo, nós nos vimos diante de uma experiência intensa pronta para ser compartilhada com interessados em poesia e reflexão”, comenta o diretor, que protagonizou dois solos baseados no autor português, Outros Eus (2018) e Pessoa (2020).

Michele Matalon, Cristina Mutarelli e Muriel Matalon em O Marinheiro. Foto Ronaldo Gutierrez

O cenário de O Marinheiro, criado por Simone Mina, é formado por 12 mil metros de cordas. Lá, o trio, sentado, divaga sobre vida, morte, sonho e solidão. A personagem de Muriel propõe um jogo para que cada uma revele histórias pessoais – embora ela seja a primeira a demonstrar resistência a isso. A mulher representada por Michele traz à tona um caso vivido, e a revelação a transporta para um caminho indesejado. A terceira, defendida por Cristina, fica em cima do muro, concordando em certos momentos com uma das parceiras e, em seguida, com a outra.

“São frases que reverberam na minha cabeça o tempo todo de um jeito forte porque falam do passado e do imaginário, mas principalmente da importância de viver o presente, de não desistir e perder a curiosidade em relação ao outro”, afirma Muriel. “Envelhecer não é fácil, mas hoje sabemos que entramos na terceira idade com a possibilidade de uma quarta e até de uma quinta idade pela frente e vejo admirada a minha mãe, que, aos 90 anos, se interessa pelas novidades do mundo.”       

Muriel Matalon começou a estudar teatro com a atriz e professora Myriam Muniz (1931-2004) nos anos de 1980 e despontou nas peças Peer Gynt e Bomba Relógio, dirigidas por Roberto Lage, e Pentesiléias, comandada por Bete Coelho, na década seguinte. Seus últimos trabalhos, como intérprete, entre 1999 e 2001, foram Ventriloquist e Nietzsche contra Wagner, encenações de Gerald Thomas

Michele Matalon, Muriel Matalon e Cristina Mutarelli em O Marinheiro. Foto Ronaldo Gutierrez

O nascimento das duas filhas, hoje com 18 e 20 anos, levaram Muriel ao prolongado afastamento e, em meio à maternidade, a artista se dedicou às atividades junto ao terceiro setor, voltando ao teatro em 2012 como diretora do musical infantil Pedro e o Lobo.  

A experiência mais recente de Muriel no terreno da atuação foi em A Gaivota, versão audiovisual da peça do russo Anton Tchekhov (1860-1904), rodada em uma fazenda pelos diretores Bete Coelho e Gabriel Fernandes em 2021, no auge da pandemia. “Eu sempre fui uma atriz da palavra e queria ser capturada de novo por ela”, define. “Estou encantada com o universo de Fernando Pessoa e o processo desenvolvido pelo Elias Andreato, acho que o que tanto esperava aconteceu em O Marinheiro.”

Serviço

O Marinheiro

Espaço Ateliê Cênico. Rua Fortunato, 241, Vila Buarque

Quarta e quinta, 20h. R$ 50.

Até 18 de julho

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Ficha Técnica

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Serviço

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