Nem nos meus melhores sonhos eu podia pensar em um dia ser convidada pelas meninas Célia Forte e Selma Morente para escrever um artigo no lançamento do Canal Morente Forte.
De frente para a tela do micro, as ideias pulando de um lado pro outro, penso em não desperdiçar a oportunidade. Entre o spray pra sinusite, o santinho protetor e a foto do Jô Soares em um programa de peça, tem o peso da responsabilidade de ocupar este espaço da melhor maneira.
Encontro o caminho das pedras. Imagino uma das grandes batalhas de nosso tempo: conviver civilizadamente nas redes sociais, sem arrumar treta ou criar caso. O acesso imediato aos brinquedinhos “roubadores de tempo” contribui para atiçar a vontade incontrolável de dar opinião sobre tudo, sem pensar, sem analisar, sem buscar informações antes de tirar uma conclusão.
Nessa gincana, o desafio é evitar opiniões estreitas, elaborar as ideias, refletir. Desenvolver o pensamento crítico amplia nossa visão de mundo e contribui para o avanço da humanidade. Nesse cenário, a crítica embasada em fatos e análises é cada vez mais necessária. E, por falar em crítica, sempre é tempo de reconhecer e lembrar de Athos Abramo.
Um dos pioneiros da crítica teatral em São Paulo, de 1945 a 1968, Athos era um dos membros da família Abramo, formada por artistas e intelectuais, entre eles Lívio Abramo (o pai da gravura), a atriz Lélia Abramo e o jornalista Claudio Abramo (responsável pela reformulação da Folha e do Estadão).
Já nos anos 40, Athos era um crítico em atividade. Cobriu a movimentação teatral da cidade em várias épocas – antes de sua modernização, com Procópio Ferreira e Dercy Gonçalves, passando pelo circuito do teatro amador, pelo TBC (com Cacilda Becker, Maria Della Costa, Tonia Carrero e Sergio Cardoso, entre outros) e pelo Teatro de Arena nos anos 1950.
Homem culto e empenhado em acompanhar a efervescência cultural, chegou a fazer a crítica de Roda Viva, em 1968, espetáculo polêmico do Teatro Oficina, como registra Jefferson del Rios no livro Athos Abramo, o Crítico Reencontrado, em que divide a autoria com Alcione Abramo, filha de Athos.
Maria Fernanda Teixeira
Presidente da APCA