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“O Adorável Trapalhão, o Musical” mostra como Renato Aragão desmistificou o humor da TV; veja vídeo

Sinopse

Espetáculo traz Rafael Aragão no papel do humorista que deu destaque para o picaresco, em uma mistura de trabalho árduo com intuição; Renato Aragão se emocionou ao fazer uma breve aparição nas primeiras sessões

Por Ubiratan Brasil

Renato Aragão sempre fez uma distinção entre o humorista e o comediante: enquanto o primeiro usa a palavra falada para fazer graça, o comediante utiliza o corpo para provocar risos, por meio de situações físicas amalucadas. E, aos 89 anos, ele ainda se vê como um comediante. É o que poderá ser conferido em O Adorável Trapalhão, o Musical, que estreia no Teatro Villa-Lobos.

Escrito por Marilia Toledo, o espetáculo traça um panorama da vida e carreira Aragão e seu personagem mais conhecido, Didi Mocó. A peça traz momentos importantes como o nascimento em Sobral, no Ceará, em 1943, seguindo a jornada até seu sucesso na televisão, passando pela sua estreia na TV Ceará, sua mudança para o Rio de Janeiro, e até a criação em 1974 do grupo Os Trapalhões, que dominou a audiência dominical da Globo e conquistou enormes bilheterias com os filmes de cinema, que estreavam nas férias de julho e dezembro.

Renato e Didi aparecem como dois personagens contando a história, que é apresentada fora da ordem cronológica, até que Didi passa a dominar a narrativa”, conta Marilia, que fez pesquisas e entrevistas com Aragão para enriquecer o texto. Ciente de que o humor dos Trapalhões enfrentaria hoje problemas (piadas consideradas normais nos anos 1970 e 80 atualmente seriam vistas como racistas, homofóbicas e misóginas), ela tomou precauções. “Não há nada ofensivo, apenas muita ironia”, explica ela, que recuperou histórias pouco conhecidas como a fase em que Aragão serviu o exército, que inspirou os quadros envolvendo o Recruta 49 e o Sargento Pincel.

Cena de O Adorável Trapalhão, o Musical. Foto Ubiratan Brasil

“Fazemos hoje uma correção histórica em temas considerados delicados, mas há também um patrulhamento com a comédia, que nasce justamente do erro”, comenta José Possi Neto, que assina a encenação e a direção de arte. “Por isso que é mais difícil trabalhar com comédia hoje.”

Mesmo assim, ele persistiu e exibe seu talento na condução de um tipo de espetáculo a que não está acostumado a trabalhar: dirigido também a crianças, público alvo de Aragão e sua trupe que, em cinco décadas apresentando programas humorísticos em diversas emissoras, arrebanharam uma audiência com mais de 138 milhões de espectadores.

Nascido em Sobral, no Ceará, Antonio Renato Aragão prometia seguir outra carreira no início dos anos 1960: já morando em Fortaleza, ele trabalhava no Banco do Nordeste e terminava o curso de Direito. O futuro advogado, no entanto, era fanático pelas comédias de Oscarito, um dos maiores humoristas que o Brasil já teve – Charlie Chaplin e Carmen Miranda fecham a tríade de artistas que o inspiraram.

Empregado como roteirista da TV Ceará, Aragão começou a escrever para outros artistas, mas logo seus textos chaplinianos e seu humor físico o levaram para diante das câmeras. Era o nascimento de Didi que, mais que um personagem, tornou-se a persona extrovertida do sempre tímido Renato Aragão. Sua estreia ocorreu a 30 de setembro de 1960, no programa Vídeo Alegre.

Apesar da espontaneidade, o personagem foi criado a partir da união entre intuição e um trabalho árduo. O nome Didi, por exemplo, surgiu depois de muito pensamento e foi inspirado em Oscarito, pseudônimo bem simples e sonoro – o ator, aliás, tinha o pomposo nome de Oscar Lorenzo Jacinto de la Inmaculada Concepción Teresa Díaz.

Rafael Aragão e Renato Aragão, no cartaz de O Adorável Trapalhão, o Musical. Arte em foto de Pedro Dimitrow

Foi essa também o caminho que culminou com a criação de expressões que se tornaram clássicas como “psit” e “ô da poltrona” para se comunicar diretamente com o telespectador, quebrando a parede imaginária criada pela TV entre os artistas e o público. 

Também a formação do quarteto dos Trapalhões seguiu uma série de regras básicas, pois delineava as várias faces do Brasil. Assim, era um nordestino sofrido (Didi), um galã de periferia (Dedé), um malandro do morro (Mussum) e um mineiro atrapalhado (Zacarias), ou seja, a cara do País.

“Falar de Renato Aragão e os Trapalhões é como falar um pouco da história do Brasil”, comenta Rafael Aragão, intérprete do protagonista que, apesar do mesmo sobrenome, do fato de também ter nascido no Ceará e da incrível semelhança física, não tem nenhum parentesco com o humorista.

Seu trabalho de composição foi minucioso – além de rever filmes e programas de TV, ele conversou diversas vezes com o humorista em sua casa, no Rio. “Renato e Didi têm raciocínios próprios. Comecei pelo personagem, revendo as imagens, e cheguei ao Renato a partir das conversas com o Aragão.”

Falar e raciocinar como Didi Mocó

“Rafael fez um estudo tão profundo que, sem perceber, ele raciocinava e falava como Didi durante os ensaios e mesmo fora deles”, comenta Possi Neto, que escalou ainda Enrico Verta para viver Dedé, Milton Filho como Mussum e Vicenthe Oliveira, no papel de  Zacarias.

Alonso Barros se inspirou em um clima circense para criar a coreografia e a direção de movimento. “É se a trama se passasse na cabeça de um palhaço”, explica ele, enquanto Marco França e Fernando Suassuna se inspiraram nos sucessos dos anos 1980 para criar a trilha sonora original. “Há desde Xuxa até as clássicas canções do filme Os Saltimbancos Trapalhões“, conta França.

Empolgado com o projeto, que acompanha detalhadamente mesmo à distância, Renato Aragão poderá fazer algumas participações especiais durante a temporada. “Ele é um senhor de quase 90 anos e tem dificuldades para ficar viajando entre o Rio e São Paulo”, explica a produtora Renata Alvim, da Rega Início Produções Artísticas. “O espetáculo está estruturado de forma a ter ou não ter o Renato em cena.”

Nas primeiras sessões do espetáculo, entre os dias 19 e 22 de abril, Aragão participou brevemente e se emocionou com a calorosa recepção do público. Veja no vídeo:

Renato Aragão na sessão para convidados, na segunda-feira, dia 22 de abril

Serviço

O Adorável Trapalhão, o Musical

Teatro Villa-Lobos. Shopping Villa-Lobos. Av. Drª Ruth Cardoso, 4777

Em abril: Sexta, 20h. Sábado e domingo, 16h e 20h.
Em maio: Sexta, 10h. Sábado e domingo, 15h e 18h30

Ingressos de R$ 36,90 a R$ 280

Até 26 de maio

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Ficha Técnica

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Serviço

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