Cantor e compositor alagoano inspira “Djavan – O Musical: Vidas pra Contar”, que mostra como sua obra transita entre samba, jazz, pop e ritmos afro‑brasileiros
Por Ubiratan Brasil (publicado em 12 de agosto de 2025)
Cenógrafo de formação, o mineiro Raphael Elias, de 30 anos, não se empolgou muito quando foram abertas as audições para selecionar o protagonista de Djavan – O Musical: Vidas pra Contar. “Ele mandou vídeo, mas não participou da seleção”, relembra o diretor João Fonseca. “Não tínhamos nenhuma escolha que realmente agradasse quando resolvi rever os vídeos e encontrei o dele. Imediatamente o convoquei.” A escolha revelou-se certeira, como mostra o espetáculo em cartaz no Teatro Sabesp Frei Caneca.
Além da aparência semelhante, o ator demonstra ter um timbre de voz que se aproxima do cantor alagoano. “Tenho certa facilidade para imitar vozes e não foi difícil encontrar a ideal para viver o Djavan no palco”, conta Elias que, segundo o produtor Gustavo Nunes, da Turbilhão de Ideias, tem o perfil perfeito: negro, vindo do interior de Minas, o ator trilhou um caminho artístico movido pela paixão e incentivado pela mãe, enfrentando desafios financeiros e estruturais.

“Em nossos musicais, pretendemos mais que mostrar a vida e a obra do artista, mas também o contexto em que ele se insere”, afirma Nunes. “Além da brasilidade, o espetáculo destaca ainda a importância da religiosidade na carreira de Djavan.”
Conhecido nos palcos, Djavan é, no entanto, uma figura discreta em relação à sua vida particular. O que representou um desafio para os autores do roteiro, Patrícia Andrade e Rodrigo França. “A grande maioria dos vídeos mostra ele no palco, cantando. É raro termos imagens dele no dia a dia”, conta Raphael Dias, que contou com o apoio imprescindível do filho do cantor, João Viana, assina a direção musical. “Para entender um pouco como ele anda, gesticula, eu pesquisei em um filme antigo, Para Viver um Grande Amor, de 1983, de Miguel Faria Jr., no qual Djavan aparece com ator.”
Com cerca de duas horas de duração, a montagem percorre a vida de Djavan desde a infância em Maceió, onde nasceu, em 1949, até sua consolidação como compositor, cantor e músico de destaque. Ao longo do espetáculo, o público descobre detalhes do universo estético de Djavan, cuja obra transita entre samba, jazz, pop e ritmos afro‑brasileiros.
“Ele é samba, ele é forró, ele é Gonzaga, ele é jazz”, comenta o diretor João Fonseca que, pela primeira vez, dirige um musical biográfico com o homenageado ainda vivo. “A responsabilidade é maior, as dúvidas são mais constantes, mas o apoio do Djavan e da família foram fundamentais.”
A sessão assistida por Djavan, aliás, durante a temporada carioca, foi inicialmente marcada por uma certa tensão. “E se ele não gostar?”, perguntava-se Fonseca. “Djavan disse, antes do início, que estava talvez mais nervoso que o elenco”, relembra Nunes.
A consagração veio com a total aprovação do cantor. “Ele me cumprimentou e disse ter gostado muito do meu trabalho”, relembra Elias. A certeza de que Djavan realmente se emocionou com o musical veio do comentário que ele fez com o filho, ao ver em cena a atriz Marcela Rodrigues, que vive sua mãe, Dona Virgínia. “Ele cochichou para mim: ‘veja, assim era a sua avó'”, conta João Viana.
Serviço
Djavan – O Musical: Vidas pra Contar
Teatro Sabesp Frei Caneca. Shopping Frei Caneca. Rua Frei Caneca, 569 – 7º andar.
Sábado, 16h e 20h. Domingo, 15h e 19h. R$ 42 / R$ 250
Até 28 de setembro (estreou 9 de agosto)
