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Musical infantil leva o sambódromo para o palco

Sinopse

Com enredo da carnavalesca Rosa Magalhães, em homenagem aos contos de Andersen, “Sonho Encantado de Cordel, O Musical” é peça de teatro adaptada em forma de cordel pela roteirista de TV Thereza Falcão

Por Dib Carneiro Neto

Peça infantil inspirada em enredo de escola de samba? Sim, existe. Não só existe, como vai estrear em São Paulo neste fim de semana especial do Dia das Crianças, em curta temporada no Teatro Claro Mais, do Shopping Vila Olímpia. Com nada menos do que 14 artistas, cantores e multi-instrumentistas, Sonho Encantado de Cordel, O Musical é inspirado no enredo Uma Delirante Confusão Fabulística, de 2005, criado pela carnavalesca Rosa Magalhães (1947-2024) para a Imperatriz Leopoldinense, escola de samba do Rio de Janeiro. Naquele ano, a escola prestava homenagem a Hans Christian Andersen em seu centenário. 

Com texto e direção de Thereza Falcão, a peça narra a vida de Andersen (1805-1875), famoso autor dinamarquês, e os contos de fadas por ele criados, recontados aqui pela rica tradição da literatura de cordel e ambientados no Nordeste do Brasil. “São as mesmas histórias que passaram pelo sambódromo no enredo da Rosa e, não por acaso, são as mais conhecidas de Andersen”, conta Thereza Falcão, escritora, dramaturga, diretora teatral e roteirista de TV, com mais de 25 anos de carreira na Rede Globo. Ela se refere aos contos: ‘A Pequena Sereia’, ‘Os Sapatinhos Vermelhos’, ‘O Patinho Feio’, ‘Soldadinho de Chumbo’, ‘O Rouxinol e o Imperador’, ‘A Roupa Nova do Rei’ e ‘A Rainha da Neve’.  

Jornada encantada

O musical funde elementos da cultura nordestina com o universo dos contos de fadas. A história gira em torno de Rosa Cordelista (nome em homenagem a Rosa Magalhães), uma jovem que sonha em se tornar uma grande cordelista. Em sua imaginação, encontra-se com Hans Christian Andersen e, com ele, inicia uma jornada encantada. “Os contos de Andersen e a literatura de cordel se encontram no alcance popular e ambos se utilizam de uma linguagem acessível para alcançar o seu ouvinte/leitor”, comenta Thereza. “Ambos podem tratar de temas sociais e humanos de forma fabulosa e crítica, no caso de Andersen também de forma moral, uma tradição dos contos de fadas.”

Igor Rickli como Rei em Sonho Encanto de Cordel, o Musical. Foto José Pedro Hachiya

Ela prossegue, contando como foi parar nessa aventura: “Quando recebi o convite da própria Rosa, com quem muito trabalhei, entendi que precisava encontrar uma forma orgânica para apresentar essa intersecção de mundos, e encontrei no cordel essa linguagem. E com ele, por meio do movimento de Mulheres Cordelistas, que lutam contra o machismo reinante no estilo, cheguei à personagem desta adolescente sonhadora”.

Concurso de reis e rainhas

Nesse reino de fantasia, Rosa e Andersen se envolvem em uma aventura épica, onde reis vaidosos, imperadores sábios e a poderosa Rainha da Neve competem pelo título de Maior Monarca de Todos os Tempos. No palco, mais de 10 cenários e 50 figurinos, criados pela eterna Rosa Magalhães e conduzidos pelo seu braço direito, o carnavalesco Mauro Leite. O elenco conta com Aline Wirley, Igor Rickli, Gab Lara, Elizândra Souza, Ricca Barros, Adren Alves, Marcela Coelho, Giulie Oliveira, Sofie Orleans, Danni Marinho, Fábio D’Lélis, Carol Romano, Lígia Bié e Mikael Marmorato.

Aline Wirley como Rainha em Sonho Encanto de Cordel, o Musical. Foto José Pedro Hachiya

Thereza fala dessa provável primeira vez em que um enredo de samba vira peça para crianças no teatro. “Pelo que sei, sim, é a primeira vez que esse casamento chega ao teatro”, diz ela. “E não por acaso num enredo de Rosa Magalhães, que viveu entre esses mundos, fez dezenas de peças, além dos desfiles. A própria fusão dos elementos Europa e Brasil, Contos de Fadas e Realidade foi uma presença constante em seu trabalho. Pois não é o carnaval o maior espetáculo da Terra?’

A ordem exata do desfile

A dramaturga, apaixonada por carnaval, prossegue em sua análise: “Os desfiles nas últimas décadas começaram a levar para a avenida um conteúdo social muito forte, exigindo grande carga dramática das alas, comissões de frente e dos componentes Haja vista o desfile de Joãozinho Trinta, para a Beija-Flor em 1989, que levou para a avenida o contraste entre luxo e lixo com um Cristo censurado, alas de mendigos, ratos e urubus.”

Ela relata que Sonho Encantado de Cordel fez questão de tentar levar a ordem de um desfile para o palco: “Cenários e adereços entram e saem de cena como se fossem alas que, juntas, contam a história de uma reunião de mundos: na Dinamarca do século 19, Andersen batalha para ser aceito, para ser artista, para realizar seu sonho de ser escritor. No Brasil do século 20, uma adolescente batalha para realizar o mesmo sonho. Levamos a magia e a riqueza das “fantasias” do desfile para o palco, mas associadas a elementos nordestinos, como a chita e a palha. A história é contada através dos olhos de uma brasileira, que vê o mundo com os elementos que ela conhece ou imagina, passando por alegorias, bonecos e trocas de roupa instantâneas, até à apoteose final”.

Elizandra Souza como Rosa Cordelista em Sonho Encanto de Cordel, o Musical. Foto José Pedro Hachiya

  “Meu maior desafio”, descreve Thereza Falcão, “foi exatamente a essência desse trabalho, encontrar os elementos que permitiriam essa intersecção de mundos e traduzir no palco a grandeza do desfile que Rosa Magalhães criou. E gerar, a partir dele, um conteúdo dramático que falasse com todas as idades: a importância dos sonhos em nossas vidas”.

Trilha com trio de ouro

E se a peça nasceu em um sambódromo, nada mais especial do que escolher com muito cuidado e respeito a música do espetáculo. São 10 canções inéditas compostas por ninguém menos do que Paulinho Moska, Chico César e Zeca Baleiro. Cada um deles que fizesse a trilha, já seria uma escolha maravilhosa. Imaginem os três juntos na mesma peça… “O primeiro a ser convidado foi o Paulinho”, relata Thereza. “Foi ele quem trouxe o Chico e o Zeca, que são seus antigos parceiros. Entendemos que era necessário ter compositores com propriedade da linguagem regional e poética, como o cordel demanda. O resultado, eu garanto, é belíssimo. As baladas do Paulinho, a levada pop/folk do Zeca e a poesia de Chico César encontraram na direção musical de Marcelo Alonso Neves e na interpretação afinadíssima do elenco uma combinação perfeita.” Vamos lá conferir?

Serviço

Sonho Encantado de Cordel, O Musical

Teatro Claro Mais São Paulo – Shopping Vila Olímpia – R. Olimpíadas, 360

Sábados e domingos, dias 12, 13, 19 e 20 de outubro às 11h30, 15h e 17h, e dias 26 e 27 de outubro e 02 e 03 de novembro às 11h30. R$ 19,50 a R$ 120

Até 3 de novembro (estreia 12 de outubro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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