Ideias de morte e ressurreição são atualizadas em montagem que faz uso das vivências do coletivo de artistas fundado em 2015 no contexto das Casas de Acolhida, para questionar a persistência das imagens
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 26 de agosto de 2025)
Há imagens que perduram ao longo dos séculos. Elas podem ser reais ou fictícias. A última refeição que Jesus Cristo compartilhou com seus apóstolos antes de sua crucificação foi imortalizada por Leonardo da Vinci em seu famoso mural A Última Ceia, que foi pintado no refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, Itália
Partindo da pergunta “Como criar uma imagem final que persista, mesmo quando aquele grupo de pessoas já não existir mais?” e do mural renascentista pintado por Da Vinci, o espetáculo do grupo MEXA, cujo título é o homônimo do mural, estreia no Sesc Pompéia. Logo em seguida vai embarcar em uma turnê internacional, além de ser um dos destaques da 36ª Bienal de São Paulo.

Assim como no quadro, um grupo de pessoas se senta em uma mesa para sua última refeição e alguém avisa que vai morrer. Esse é o ponto de partida do espetáculo A Última Ceia, com direção e dramaturgia de João Turchi.
A montagem se divide em dois momentos. Na primeira parte, a estética e a encenação remetem a uma peça-palestra. As atrizes Aivan, Alê Tradução, Dourado, Patrícia Borges, Suzy Muniz, Tatiane Arcanjo e Veronika Verão exploram as suas relações com o trabalho de Da Vinci e com os apóstolos. “As artistas são muito ligadas à religião e têm histórias bem significativas com a obra, até porque o MEXA foi fundado em uma casa de acolhida que tinha um quadro com a reprodução do mural na parede. Então, elas vão compartilhando as suas narrativas, e, enquanto isso, o grupo vai acabando. Acontecem brigas, as artistas saem de cena e, em um determinado ponto, o cenário é desmontado”, afirma Turchi.
Depois da grande discussão, as atrizes rearranjam o cenário: o que eram apenas praticáveis formando um pedestal gigantesco de 6mx10m se transforma em uma mesa e o MEXA serve um jantar real para o público. “É como se o grupo tentasse concretizar todas as promessas feitas durante a primeira metade da peça”, acrescenta o diretor.

O grupo costuma incorporar nos seus trabalhos algumas situações emblemáticas que ocorrem durante os ensaios. No caso de A Última Ceia, após todos terem lido a Bíblia juntos, as artistas escreveram em um papel quem gostariam de interpretar e a resposta foi unânime: Judas. Por esse motivo, foi incorporada no espetáculo uma cena em que elas disputam para ser esse personagem – e é a plateia quem escolhe a vencedora.
A encenação propõe para o público acompanhar a ação tal como ela é. Para isso optou por deixar a parte técnica à vista. A vídeoperfomer Laysa Elias e as artistas Podeserdesligado e Iara Izidoro, que fazem, respectivamente, o som e a luz da peça, estão sempre em cena.
“O mural do Leonardo da Vinci se tornou a imagem mais significativa da última ceia de Cristo. Ele venceu essa narrativa. Então, se essa for a nossa última peça, queremos controlar qual é a imagem que vamos deixar para o mundo”, defende o diretor.
Serviço
A Última Ceia
Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93
Quartas a sábados, 20h. Domingos, 19h. Sessão extra em 5 de setembro, 16h. R$ 70
Até 7 de setembro (estreia em 28 de agosto)
