De 3 a 10 de dezembro, ocorre no Centro Cultural Olido a nona edição do Encontro Internacional de Mulheres Palhaças (EIMPA). A criadora e diretora Andréa Macera, a palhaça Mafalda Mafalda, nos conta por que não perder
Por Dib Carneiro Neto
Uma celebração anual que reúne em São Paulo palhaças talentosas de todo o mundo. Assim é o Encontro Internacional de Mulheres Palhaças (EIMPA), evento criado pelo grupo Teatro da Mafalda, que está de volta em sua nona edição. A programação – para público de todas as idades – ocorre de 3 a 10 de dezembro na Sala de Espetáculos Paissandu, localizada no Centro Cultural Olido, com oficinas acontecendo no Sebrae 24 de Maio, atual parceiro do projeto.
Neste ano, o tema é Quanto Riso. “O tema do Eimpa é sempre conectado com a curadoria do festival, que, ao receber as inscrições públicas, percebe pontos fortes da produção artística selecionada”, diz Andréa Macera, atriz e palhaça criadora do EIMPA e diretora artística do Teatro da Mafalda. Ela prossegue: “Neste ano, a multiplicidade de formas de se ‘palhacear’ foi a característica mais forte e mais presente. Observamos uma criação de caminhos para a comicidade feminina, formas diversas de introduzir a cultura de mulheres do nosso povo na comicidade, a palhaçaria preta, e outras tantas possibilidades de ser palhaça. Isso tudo nos fez escolher esse tema, Quanto Riso.”
Olhar feminino modifica o humor
É um grande desafio do festival pensar em humor para diferentes públicos. Andréa explica: “As mulheres criaram um diversidade de abordagens de temas femininos e isso nos faz eleger nossos públicos e nos comunicar diferentemente com cada um deles. É diferente, por exemplo, fazer palhaçaria para adultos e para crianças, Outro ponto é que palhaços são figuras ancestrais, são anteriores ao circo, são necessárias socialmente, revelam o que precisamos refletir sobre o lugar e a sociedade em que vivemos, sendo assim acho que os adultos precisam até mais dos palhaços do que as crianças.”
E será que existe mesmo um humor que é só feminino? Claro que sim, responde Andréa Macera. Ela discorre: “Sim, existe um humor feminino, porque existe um olhar feminino sobre o mundo que difere de uma normativa masculina, que revela o quanto ainda somos patriarcais. Existe também um espectro da energia feminina que lida num mundo material e isso também é fonte de uma comicidade específica. Outro ponto importante é lembrar que a construção artística das mulheres palhaças muitas vezes vem também de outras artes, visto que ainda não temos uma tradição de palhaçaria.”
Mil palhaças espalhadas pelo Brasil
“Suponho que temos hoje em torno de 1.000 mulheres palhaças espalhadas pelo Brasil”, contabiliza ela. “Temos alguns movimentos, blogs, sites e pesquisadoras universitárias que fazem este esforço de levantar dados de Palhaças em atividade no Brasil. Temos também a Rede de Palhaças do Brasil, com quase 400 mulheres cadastradas. E há ainda o https://lugardepalhaca.blogspot.com, do Rio Grande do Sul, que faz um belo trabalho de coleta de dados. Além disso, há diversas pesquisadoras de olho nesse crescimento, como por exemplo Maria Silvia do Nascimento e a professora Hermínia Silva, entre outras.”
O EIMPA deu um grande salto de sua primeira edição até agora. Andréa conta o que melhorou: “Avançamos em termos de infraestrutura de produção com a @ste.produ e em termos de recursos, com o patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura e da Associação MoveCentroSP (@movecentrosp).” A programação – toda gratuita – está vasta, mas Andréa Macera, a nosso pedido, selecionou as que acha imperdíveis: “Gostaria de recomendar o espetáculo de Portugal, com Susana Cecilio, que abre o Eimpa, também as mulheres do Piauí, Marias da Terra, as palhaças da Argentina, da cia Tengo una Ideia, e por fim duas palhaças brasileiras de grande porte: Adelvane Neia e Silvia Leblon em Mortes Ardentes e Paixões Enterradas, com direção de Rhena de Faria.”
Uma palhaça com nome duplo
Andréa Macera é também uma ativa participante do projeto Teto Trampo e Tratamento. Ela explica o que é: “É um projeto social de redução de danos, por meio da arte de palhaçaria, com usuários da Cracolândia, em São Paulo. Eu trabalho com Flávio Falcone, psiquiatra e palhaço, há 13 anos, fazendo palhaçaria aplicada à saúde mental. Esse trabalho para mim remonta à função arquetípica da figura do palhaço nas tradições dos povos originários, nos quais essa figura cômica tinha a função equiparada ao curandeiro. Sua presença norteada pelo riso revela a possibilidade de reflexão individual e social de pontos sensíveis da sociedade e de como ela se constitui, para o bem e para o mal, para a saúde e/ou para a doença coletiva. Assim fazemos na Cracolândia. Trabalhamos com a máscara do palhaço para agregar e fazer pensar, para acolher e vincular, para dar um passo adiante, pois nada é tão sério que não pode ser mudado e transformado para o bem individual e coletivo.”
E tem mais: Andréa Macera é a palhaça Mafalda Mafalda, assim mesmo, com nome duplo. “Para não deixar dúvidas”, brinca ela, rindo. “Mafalda Mafalda é uma palhaça branca, do gênero branca, o que significa que é mais brava e trabalha com o tema da ordem para revelar o quanto o poder é ridículo. São temas mais para o público adulto. Venho do teatro e também uso essa arte como parte das minhas construções artísticas, criando personagens interpretados pela palhaça.”
E o palhaço o que é? É ladrão de mulher? Andréa Macera (ou seriá que foi Mafalda Mafalda?) respondeu mudando a pergunta: “E a palhaça o que é? Ela é o que ela quiser!”
Confira a programação completa:
Abertura (3 de dezembro): Espetáculo “Com amor, papel manteiga e marcador” com Susana Cecílio (Portugal): às 16h na Sala Paissandú, Centro Cultural Olido.
Segunda (4 de dezembro): Oficina Odilia Nunes (PE): Das 09:00 às 12 horas. Oficina Cia Tengo Una Idea (ARG): Das 14:00 às 17 horas. Exibição do documentário “Não estamos tontas” com direção de Patrícia Poção (Portugal): Às 17:30 no Cine Olido. Mesa Rede de Palhaças do Brasil: Às 18:30h no Cine Olido. Espetáculo “Descripolou Totepou” com Odília Nunes (Ingazeira – PE): às 20:00 na Sala Paissandú, Centro Cultural Olido .
Terça (5 de dezembro): Oficina Odilia Nunes (PE): Das 09:00 às 12 horas. Oficina Cia Tengo Una Idea (ARG): Das 14:00 às 17 horas. Espetáculo “Vírgula iLtda” com Jéssica Alves (São Paulo): às 20:00 na Sala Paissandú, Centro Cultural Olido.
Quarta (6 de dezembro): Oficina Odilia Nunes (PE): Das 09:00 às 12 horas. Oficina Cia Tengo Una Idea (ARG): Das 14:00 às 17 horas. Cabaré de Gala com artistas de destaque (CE): às 20:00 na Sala Paissandú, Centro Cultural Olido
Quinta (7 de dezembro): Comece seu planejamento financeiro: Precificação para apresentações artísticas para teatro e circo – Parte 1: Das 09h às 10h45. Faça suas vendas decolarem: Proposta de venda de apresentações artísticas do jeito certo! – Parte 1: Das 14h às 17 horas. Espetáculo “Circo da Rarley” com Odelta Simonetti (RS): às 17:30 na Galeria 77, Rua 24 de Maio. Espetáculo “Deslady” com Natália Luís (Paraná): às 20:00 na Sala Paissandú, Centro Cultural Olido
Sexta (8 de dezembro): Comece seu planejamento financeiro: Precificação para apresentações artísticas para teatro e circo – Parte 2: Das 09h às 10h45. Vivência: Com Trupe de Mulheres esperança Garcia (PI): Das 9h às 12 horas. Espetáculo “Fuzuás” com diversas artistas: às 16:00 na Escadaria. Espetáculo “Humanas-Cabaré” com diversas artistas (SP-BA): às 20:00 na Sala Paissandú, Centro Cultural Olido.
Sábado (9 de dezembro): Espetáculo “Carpa Diem” com Cia Tengo Una Idea (Argentina): às 14:00 no Centro Cultural Olido. Espetáculo “Mortes Ardentes, Paixões Enterradas” com Adelvane Néia (PR) e Silvia Leblon (SP): às 20:00 no Centro Cultural Olido.
Domingo (10 de dezembro): Espetáculo “Sobre a pele dos pêssegos” com Silvia Brunello (São Paulo): às 14:00 no Centro Cultural Olido. Espetáculo “Marias da Terra – as palhaças agricultoras” com Trupe de Mulheres Esperança Garcia (Piauí): às 16:00 no Centro Cultural Olido.
Oficinas: O Sebrae 24 de Maio irá recepcionar, em sua unidade na rua 24 de maio, com distância de 1km do Centro Cultural Olido, todas as oficinas previstas na programação. Mesa de discussão: “Rede de Palhaças do Brasil” no Centro Cultural Olido. Vivência “Corpo e território na descoberta da comicidade” com Trupe de Mulheres Esperança Garcia (Piauí). Oficina “Corpos brincantes – pensando a comicidade” com Odilia Nunes – Pernambuco. Oficina com a Companhia Tengo una idea – Argentina. Faça o preço certo, não perca dinheiro: Precificação para apresentações artísticas para teatro e circo. Faça suas vendas decolarem: Proposta de venda de apresentações artísticas do jeito certo!
SERVIÇO
Encontro Internacional de Mulheres Palhaças (EIMPA). De 3 a 10 de dezembro de 2023. Local das Apresentações: Sala Paissandu, Centro Cultural Olido – Av. São João, 473 – Centro Histórico de São Paulo. Local das Oficinas e vivências: Sebrae – R. 24 de Maio, 32 – Centro Histórico de São Paulo.
Ingressos: gratuitos | Retirada pela plataforma Sympla e na Galeria Olido – Sala Paissandu uma hora antes do evento. As inscrições e mais informações para as oficinas estão no Instagram do Teatro da Mafalda
