Exposição sobre o encenador acontece antes das sessões do espetáculo, que foi dirigida por ele e agora, após turnê em Portugal, chega a São Paulo para também comemorar os 40 anos de carreira de Alexandre Borges
Por Redação Canal Teatro MF
Para quem chega ao Teatro Oficina pela primeira vez, há sempre um instante de deslumbramento por sua arquitetura. O imenso corredor ladeado pelas arquibancadas, seu jardim interno e as grandes janelas que possibilitam ver o lado de fora são espaços que se ineriram nas muitas encenações realizadas pelo diretor José Celso Martinez Corrêa, falecido no ano de 2023.
A reinauguração do Teatro Oficina, com o atual projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi e Edson Elito, se deu no ano de 1993 com a montagem de Hamlet. Nela, o ator Alexandre Borges fazia a personagem do Rei Cláudio. Agora, ele volta a esse mesmo teatro para comemorar seus 40 anos de carreira com o espetáculo Esperando Godot, ao lado de Marcelo Drummond e atores do Oficina, montagem que foi dirigida por Zé Celso e que retorna para uma curta temporada em São Paulo.
Dessa vez, o espaço arquitetônico irá acolher uma exposição, Fragmentos do Paraíso, já imersa na própria encenação. Antes das sessões, enquanto o público se dirige ao seu assento, poderá acompanhar um memorial do fundador do Oficina, por meio de objetos pessoais, escritos, pensamentos, figurinos de suas personagens mais marcantes, numa espécie de encontro íntimo com o gênio que revolucionou o teatro brasileiro. A organização da exposição foi realizada por Marcelo Drummond (viúvo do diretor), Carila Matzenbacher e Cida Melo.
Desde o incêndio em seu apartamento no bairro do Paraíso, em São Paulo, em julho de 2023, as “matérias” de Zé estavam empacotadas, embaladas junto às cinzas. Essa exposição é um ato de abertura, abertura desse material que passa por um ritual de cura, cuidado e compartilhamento. A exposição culmina com uma instalação inspirada na direção de Zé Celso: Esperando Godot no fim do mundo. Uma experiência imersiva que transporta o público para o universo cênico da peça.
A montagem do texto do irlandês Samuel Beckett tem fortes simbologias com a trajetória do Oficina. Foi o último espetáculo de Cacilda Becker que, no ano de 1969, vivia a personagem Estragon e foi acometida por um aneurisma cerebral em cena, falecendo no auge da carreira. Cacilda se tornou a força motriz de criação para as muitas gerações de artistas do Teatro Oficina. Anos mais tarde Zé Celso criou um espetáculo que permeia a história da atriz em meio à história do teatro brasileiro pelo ângulo dionisíaco e delirante do encenador.
A arquitetura do Teatro Oficina mais uma vez dará o tom da representação. A Árvore presente no texto de Beckett é uma personagem muito importante na montagem, um totem das transmutações do tempo. É um sujeito que catapulta ações na cena e fora dela. Essa montagem tem correspondência direta com a árvore plantada por Lina Bo Bardi, nos anos 1980, nas terras internas do chão do Teatro Oficina: uma Cesalpina. Faz ligação ainda com a árvore tombada pela tempestade e que insiste em germinar e dar frutos, na horizontal, mais viva do que nunca.
A Árvore de Esperando Godot é o que insiste e reexiste como força cosmopolítica de insurreição da vida, como o Rio Bixiga, que corre a quatro quilômetros do chão, no epicentro das terras verdes que circundam o Teatro Oficina.
Com isso, espetáculo e exposição se juntam para dar força às memórias e à presença viva dos que ainda persistem em transmutar sentidos no espaço que foi eleito pelo jornal britânico The Guardian como o melhor teatro do mundo na categoria projeto arquitetônico.
Serviço
Esperando Godot
Teatro Oficina. Rua Jaceguai, 520
Segunda, 14h30. Sexta e sábado, 20h. Domingo, 18h. R$ 80
Até 23 de dezembro (estreia 13 de dezembro)
