Musical inspirado na obra de Roald Dahl mostra menina que pretende mudar o mundo por meio dos livros
Por Ubiratan Brasil
O nome do escritor galês Roald Dahl (1916-1990) vem se destacando nos últimos anos por motivos positivos e negativos. A favor, a recuperação de uma obra em que o inusitado e até o macabro são utilizados pelo autor para refletir criticamente a humanidade. De negativo, a tentativa de parte dessa humanidade em querer transformar justamente essa visão crítica em algo politicamente incorreto, obrigando revisões em sua obra.
Isso reforça ainda mais o valor de seu trabalho, que continua incomodando olhares totalitários. Afinal, as situações não são o que parecem, não podem ser o que parecem, mas, sob a visão de Dahl, elas são. Tem sua assinatura obras como A Fantástica Fábrica de Chocolate, As Bruxas, O Bom Gigante Amigo, James e o Pêssego Gigante e, especialmente Matilda, cuja versão musical está em cartaz no Teatro Claro-SP.
O espetáculo conta a história da menina Matilda que, dentro de casa e na escola, passa por inúmeras situações de descaso e de disciplina rígida nas mãos de sua família perversa e da diretora opressiva. Por isso, Matilda busca mudar sua vida e transformar o mundo que a cerca através dos livros, do mundo que eles descortinam e da bondade de sua professora, a Srta. Honey, uma verdadeira amiga.
Para interpretar Matilda, foram escaladas as atrizes-mirins Belle Rodrigues, Luísa Moribe, Mafê Diniz e Maria Volpe. O elenco ainda conta com nomes como Cleto Baccic, no papel da terrível diretora Agatha Trunchbull, Fabi Bang, que interpreta a doce e dedicada Srta. Honey, e Myra Ruiz, que encarna a desnaturada Sra. Wormwood, mãe de Matilda.
Apresentado por BIC Produções, em parceria com o Ateliê de Cultura (que também trouxe ao palco o musical Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate), o espetáculo nada deve às versões mais deslumbrantes e luxuosas das encenadas em outras capitais, especialmente na Broadway.
Aqui, o universo da escrita está presente por meio de grandes letras (4 m de altura), que formam a palavra Matilda. Cada uma delas cumpre um objetivo cenográfico e se desdobra para formar um ambiente cênico. A ideia é que o mecanismo funcione como uma verdadeira caixa de brinquedos gigante que trará magia e encantará o público.
Segundo material divulgado pela assessoria de imprensa, a estrutura conta com uma plataforma rotatória, feita especialmente para o musical, vinda da Holanda. Trata-se de um piso redondo que se move por auxílio de motores em uma estrutura mecânica. A grande novidade é sua automatização, pois o acionamento não é manual, mas sim impulsionado por comandos eletrônicos transmitidos pela mesa de operações via rádio frequência.
A plataforma se move e para com precisão cirúrgica e garantirá uma magia extraordinária nas transições de cenas e de ambientes, permitindo um impacto das coreografias para encantar o público. Apenas os mecanismos que compõem toda a estrutura da plataforma pesam cerca de 9 toneladas.
O olhar agudo e crítico de Roald Dahl permeia o musical, o que confere um atrativo especialmente para o público adulto. Apesar da genialidade de sua escrita, não se pode ignorar passagens condenáveis de sua biografia, como seu declarado antissemitismo, algo presente até em sua obra – no conto Madame Rosette, a personagem de mesmo nome é descrita como sendo “Uma velha judia síria imunda”. A família de Dahl pediu desculpas pelo antissemitismo em 2020, em uma uma declaração no site oficial do escritor.
Serviço
Matilda – O Musical
Teatro Claro-SP. Shopping Vila Olímpia – R. Olimpíadas, 360
Quarta à sexta-feira, 20h. Sábado e domingo, 15h e 20h. R$ 39,60 / R$ 400
Até 23 de dezembro