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“Mater” revela as distâncias entre laços de sangue e alma

Sinopse

Produção luso-brasileira com texto de Maria Adelaide Amaral terá apenas quatro apresentações, no Teatro Sérgio Cardoso

Por Ubiratan Brasil (publicada em 19 de maio de 2025)

Desde sua primeira encenação, em 1994, a peça Querida Mamãe, de Maria Adelaide Amaral, sempre teve montagens emocionantes. Foi assim com a pioneira, com Eliane Giardini e Eva Wilma, com direção de José Wilker, que apostou nas pausas densas, que levava o espectador a alternar riso e lágrimas, enquanto se apropriava dos diálogos poderosos. Dezoito anos depois, foi a vez de Cássia Linhares e Stella Freitas atuarem sob a orientação de Herson Capri e Susana Garcia.

Agora, o jogo de afetos e confrontos proposto por Maria Adelaide ganha uma adaptação da Companhia portuguesa Teatro Livre, que propõe uma abordagem singular sobre as relações maternas agora sob o título de Mater. A montagem poderá ser vista no Teatro Sérgio Cardoso em apenas quatro apresentações, de 19 a 22 de maio.

Luísa Ortigoso e Carla Chambel em cena de Mater. Foto Daniel Fernandes

O original mostrava a difícil relação entre Ruth, uma dona de casa viúva, conservadora e controladora, e sua filha Helô, uma médica insegura, de personalidade autodestrutiva, ácida e solitária. Agora, produção luso-brasileira dirigida por Beto Coville aborda os desencontros entre mãe e filha, explorando os silêncios, confrontos e tentativas de aproximação entre Luísa e Rute, interpretadas, respectivamente, por Carla Chambel e Luísa Ortigoso. Rute, ao revelar seu passado, tenta se aproximar da filha, enquanto Luísa, presa a suas próprias dores, hesita em acolher essa história que não lhe pertence.

“Perdi a conta das vezes em que disse e repeti que jamais escreveria um texto tão ameno sobre a relação mãe e filha. A minha versão certamente estaria longe de ser uma relação delicada”, conta Maria Adelaide Amaral, que não viu quando a montagem foi encenada em Portugal. A dramaturga explica que a peça surgiu após um mal-entendido, quando, nos anos 1980, fez uma edição da tradução de Ce tendres liens, da autora francesa Loleh Belon. “Foi assim que nasceu Querida Mamãe, no início dos anos 1990.”

A direção de Coville se afasta do realismo convencional e propõe um olhar simbólico e sensorial sobre os embates emocionais e reflete o quão importantes são os gestos que às vezes não fazemos. Mais do que um relato de conflito, a peça reflete sobre o desejo de pertencer, os laços que se rompem e a busca pelo afeto que, por vezes, se perde nas entrelinhas da convivência.

Carla Chambel em cena da peça Mater. Foto Daniel Fernandes

“A encenação busca materializar sentimentos muitas vezes não expressos. Aquilo que se gostaria de ouvir ou de ter dito, mas que é deixado passar por medo e insegurança, é concretizado aqui no espetáculo. Assim como a presença do inconsciente que vem buscar a verdade da relação, neste caso entre mãe e filha, que mesmo dolorida, é revista em forma de catarse”, conta o diretor. “A peça fala de amor, saudade, resgate e superação, elementos essenciais para tentar resolver a difícil tarefa que nos foi imposta pelo universo, que é ‘sobreviver’ às nossas famílias”.

Beto Coville ainda destaca que Mater não se limita ao drama familiar, mas mergulha no imaginário das personagens, dando vida ao que não foi dito: “Aquilo que se gostaria de ouvir ou de ter dito, mas que foi deixado passar por medo ou insegurança, é concretizado aqui no espetáculo.”

Luísa Ortigoso em outra cena de Mater. Foto Daniel Fernandes

Portuguesa radicada no Brasil, Maria Adelaide Amaral é conhecida do público por novelas e minisséries famosas, mas é no teatro que sua dramaturgia ganha contornos mais fortes, especialmente quando convida o público a se reconhecer nas fragilidades e forças das personagens.

“A cena final é impactante e é onde o ponto de vista é mais claro. É onde as peças encaixam e as mudanças são compreendidas (ou não)”, comenta o Beto Coville. Para ele, “cada um se revê naquilo que lhe toca e leva consigo os pontos e situações em que mais se identifica, pois as diferentes experiências vividas ao longo da peça chegam de forma distinta para cada pessoa. E são oito. Pelo menos as visíveis”.

Serviço

Mater

Teatro Sérgio Cardoso. Rua Rui Barbosa, 153

De 19 a 22 de maio. Segunda, terça e quarta, 19h. Quinta, 18h. R$ 50

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Ficha Técnica

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Serviço

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