Com direção de Luiz Antonio Pilar, espetáculo aborda a relação entre uma avó octogenária e uma neta de 20 anos
Por Redação Canal Teatro MF
O Brasil vivenciou as primeiras manifestações de discursos e projetos a favor das cotas raciais nas universidades durante a década de oitenta. A lei de fato só surgiu no ano de 2012, mas a pesquisadora, educadora, historiadora e filósofa Helena Theodoro não esperou o século XXI para se tornar a primeira mulher negra a conquistar um doutorado em filosofia, em 1985.
É a partir dos relatos dessa intelectual de oitenta anos, que recebeu em abril deste ano a Medalha Tiradentes, maior honraria do Estado do Rio de Janeiro, que surgiu a inspiração para o espetáculo Mãe Baiana, que fará apenas três apresentações em São Paulo no mês de agosto.
Ele faz parte da trilogia Matriarcas, idealizado pela atriz Vilma Melo e pelo produtor cultural Bruno Mariozz, e que apresenta outros dois espetáculos: Mãe de Santo e Mãe Preta.
No palco, Dja Marthins e Luiza Loroza interpretam avó e neta que, ao viver um momento de luto em família, veem a relação entre as duas renascer. A peça parte da perda de um filho, fato que Helena Theodoro viveu quando seu menino de quatro anos morreu afogado.
Para o diretor Luiz Antonio Pilar, a concepção de Mãe Baiana nasce da proposta do texto que surgiu das conversas de Helena com as autoras Thaís Pontes e Renata Andrade. Nele, estão os conflitos de gerações e de conceitos entre uma jovem mulher de seus 20 e poucos anos e sua avó, octogenária.
“Esse espetáculo é sobre relações – sobre relação de avó e neta, relação com a morte, com a cozinha, com a religião. A gente vai se transformando nos nossos, a gente vai se vendo. Escrever com a Renata Andrade foi um doce exercício de memórias, em que fomos lembrando histórias das nossas famílias”, conta Thaís Pontes, que recorda as conversas com a avó durante as madrugadas na cozinha de casa.
O conflito que aparece na cena não é o da violência, tão característico até bem pouco tempo atrás das telenovelas e do cinema nacional ao retratar o negro na sociedade. Aspecto que já vem aos poucos se ressignificando como obras como essa. “Me ressinto com a dramaturgia nacional que quando vai falar do negro, principalmente o urbano, é sempre no conflito da violência. A questão nunca é contraditória ou está na diferença de perspectiva. É sempre no jovem negro matando ou morrendo, da família desconstruída, da falta de afeto. Em Mãe Baiana, o conflito está inserido numa sociedade cotidiana e na família geracional, constituída por mulheres negras, convivendo no mesmo espaço”, finaliza Pilar.
Serviço
Teatro Flávio Império. Rua Prof. Alves Pedroso, 600, Cangaíba
9 de agosto (sexta), 20h.
Centro Cultural Olido. Av. São João, 473, Centro
16 de agosto (sexta), 19h.
Teatro Alfredo Mesquita. Av. Santos Dumont, 1.770, Santana
28 de agosto (quarta), 21h.
Entrada gratuita. Retirada de ingressos 1 hora antes do espetáculo