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A INCRIVEL VIAGEM DO QUINTAL

Luisa Arraes estreia como dramaturga com peça sobre temas adultos vistos pela criança

Sinopse

“Não acredito na diferença entre teatro adulto e teatro infantil”, diz atriz, que é autora de “Suelen Nara Ian

Por Dib Carneiro Neto

Uma nova família está se formando: as duas irmãs, Suelen e Nara, conhecem Ian, filho único da namorada do seu pai, um menino introvertido e muito sensível. As três crianças recebem a notícia de que farão parte da mesma família e passam a questionar a “novidade”. Inconformados, os três resolvem fugir juntos e viver várias aventuras. Isso os leva a descobrir aquilo que é o tema principal da peça em que são personagens principais: que uma família pode ser muito diferente da outra.

Esse é o enredo de Suelen Nara Ian, peça infantil que chega ao Teatro das Artes, em São Paulo. O espetáculo arrebanhou prêmios no Rio de Janeiro, em sua temporada de estreia, em 2019, pouco antes do início da pandemia, incluindo melhor texto (Luisa Arraes) e melhor direção (Débora Lamm). Foi a primeira peça escrita pela atriz Luisa Arraes, feliz agora por poder mostrá-la também ao público paulistano. Ela não está no elenco, mas também atuou como diretora-assistente.

Cena do espetáculo Suelen Nara Ian. Foto Constelar/Divulgação

Luisa Arraes comenta sobre a feliz parceria com a amiga Débora Lamm:  “Débora já havia me dirigido em um infantil e tem muita experiência nisso, no Tablado, então foi ótimo, ela é brilhante, foi um prazer. Ela pilotou a direção, mas eu estava sempre junto. E cada vez que revejo o espetáculo, fico mais feliz ao constatar que tudo o que eu queria está ali, ver que eu pari a peça e ela foi pro mundo, que não é mais só minha, isso é bem emocionante. Adoro escrever, faz parte do meu ofício de atriz. Escrevi também agora o meu primeiro filme, um curta chamado Dependências. Não sei se farei logo outra peça, mas sei que a criança que eu fui e que ainda está dentro de mim entra em tudo o que eu escrevo”. 

Ainda tomo Toddynho!

Tudo o que a gente escreve é autobiográfico, segundo atesta Luisa Arraes. Ela conta o que há da vida dela na peça que escreveu: “Tem muito da minha experiência, a vivência de filha de pais separados, querer saber quem o pai está namorando, com quem a mãe está, e muitas vezes a falta de diálogo com eles sobre isso. Tudo isso está no espetáculo. Em essência mesmo, essa peça é sobre crianças percebendo a falta de maturidade dos adultos”.

Os temas são sérios, mas tratados com humor. Por exemplo, nessas aventuras que enfrenta, o trio de  crianças encontra figuras como um YouTuber com 101 seguidores, do Canal ATT (Ainda Tomo Toddynho!) e uma telefonista de telemarketing, do “maravilhoso complexo de prédios resorts superexclusive máster class beautiful wonderful dreaming experience”! Luisa, como autora, explica que foi cuidadosa: “Não coloquei barbaridades, exageros irresponsáveis, mas os temas são bem adultos, como separação, a emancipação das crianças, a vontade de odiar os pais. Acho que podemos conversar tudo com a criança no teatro, desde que seja o ponto de vista delas. Um autor que me inspirou foi René Goscinny, da série de livros Le Petit Nicolas, porque ele sempre tratou de temas sérios, mas como o humor da criança”.

Metida a adulta desde cedo

Luisa foi uma criança que vivia no teatro. Ela conta: “Meu pai e minha mãe faziam quase sempre a mesma peça, e não era infantil. Eu ia muito com eles e ficava na coxia, na plateia, no camarim. Durante muitos anos, todos os meus fins de semana eram no teatro. E eu gostava de ver a mesma peça várias vezes. Isso é engraçado, porque tenho isso até hoje: quando gosto de uma peça, quero ver e rever, várias vezes. E como, desde muito cedo, eu via peças de todas as idades, eu sempre fui assim meio metida a adulta precoce. Resultado: hoje não concordo muito com essa diferença entre teatro infantil e teatro adulto. Na época em que escrevi Suelen, Nara, Ian, eu estava terminando a faculdade de Letras e fazia, como atriz, a peça infantil  Pedro Malazarte e a Arara Gigante, do Jorge Furtado. Era incrível ver como os adultos também gostavam muito dessa peça. Então, quando fui escrever a minha primeira peça, não pensei: ‘Vou escrever para criança’. Nada disso. Pensei em escrever do ponto de vista da criança, mas para todo mundo ver. Suelen Nara Ian é uma peça sobre uma fase pela qual eu tinha passado, mas já fazia tempo, então eu já podia enxergar tudo isso com distanciamento. É um assunto de adulto, sob o olhar da criança. É a primeira vez que os três personagens crianças saem pelo mundo adulto  e encontram as dores e também as delícias de se aprender a viver sozinho”. 

Cena do espetáculo Suelen Nara Ian. Foto Constelar/Divulgação

Desde a estreia no Rio, essa autora estreante vibra com as reações da plateia ao seu trabalho na dramaturgia. Na estreia carioca, aconteceu para ela a felicidade de ouvir comentários espontâneos do público mirim. “Fui ao banheiro e as crianças estavam lá contando umas para as outras as suas dinâmicas sobre como era a rotina delas, pulando da casa da mãe para a casa do pai. Achei o máximo elas aproveitarem a peça para depois falarem entre si, com orgulho, sobre suas vidas. Uma das coisas que sempre me incomodavam na infância era quando parecia que tinha um jeito certo de ter família. A minha sempre foi diferente.”  

Serviço

Suelen Nara Ian

Teatro das Artes – Av. Rebouças, 3.970, loja 409, Shopping Eldorado, 3º andar

Sábados e Domingos, às 15h. R$ 40 / R$ 100

Até 29 de outubro

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Ficha Técnica

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Serviço

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