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“Julius Caesar – Vidas Paralelas” se inspira em Shakespeare para refletir sobre poder dentro e fora do palco; veja vídeo

Sinopse

Peça em cartaz no teatro Anchieta, do Sesc Consolação, celebra os 35 anos da Cia. dos Atores com uma intrigante revisita à tragédia do bardo em um contexto contemporâneo

Por Ubiratan Brasil

O ator, diretor e dramaturgo Gustavo Gasparani criou uma íntima relação com a obra de William Shakespeare (1564-1616) ao longo dos anos. Em Ricardo III (2014), representava sozinho 21 dos 54 personagens, preservando o humor diabólico do rei. Já em Otelo da Mangueira (2017), desconstruiu a trama de Otelo, escrita por volta de 1603, e a levou ao morro que deu origem à Estação Primeira de Mangueira, propondo um mergulho no universo do samba e também no carnaval dos anos 1940. 

Finalmente, em 2018, foi responsável pela escolha das canções de Marisa Monte que se encaixaram como uma luva no musical Romeu e Julieta, produzido pela Aventura. A quarta interação está em cartaz no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação: Julius Caesar – Vidas Paralelas, celebrando 35 anos de trajetória da Cia. dos Atores. Trata-se de uma instigação da adaptação do fazer teatral a partir da encenação da tragédia originalmente publicada em 1599.

Cena de Julius Caesar – Vidas Paralelas, com Cia dos Atores. Foto Nil Caniné/Batman Zavareze

Com Júlio César, Shakespeare aborda as intrincadas relações de poder ao recriar a conspiração que levou ao assassinato do grande ditador romano Júlio César, bem como os seus desdobramentos. “A contemporaneidade do texto de Shakespeare é surpreendente. Ele não oferece soluções, mas apresenta os problemas e induz o espectador a buscar as respostas”, comenta Gasparani, que divide o palco com Cesar Augusto (também um dos fundadores da Cia. dos Atores), Isio Ghelman, Gabriel Manita, Suzana Nascimento e Tiago Herz. 

Em Julius Caesar – Vidas Paralelas, a dramaturgia assinada por Gasparani (que também atua e assina a direção) propõe uma reflexão pertinente sobre questões sociais e políticas, entrecruzando a trama original de Shakespeare e as relações encontradas nos bastidores do processo criativo de uma companhia teatral fictícia com mais de três décadas de trajetória.

“O que me chamou atenção na peça é que a macropolítica do poder romano não tem diferença alguma para a micropolítica do dia a dia. Nós vemos isso na sala de aula, no condomínio ou numa relação de casal. Esse jogo de poder está presente no nosso cotidiano”, diz Gasparani. Em cena, uma companhia teatral vive um tumultuado processo de ensaio da peça sobre o imperador romano. Enquanto a diretora vive ausente por estar ligada a uma produção de televisão, os atores revelam suas inseguranças e problemas de auto estima.

Todas as questões de um grupo de teatro que convive há décadas, bem como assuntos mais amplos da classe artística, vão se revelando no decorrer da trama – cruzando-se com a história original de Shakespeare, que vai se desenhando ao longo dos ensaios. Em cena, uma companhia teatral está ensaiando a famosa peça sobre o imperador romano. “Estou interessado no que vai dentro do ser humano. O que faz as pessoas agirem de determinada forma? O que faz alguém quebrar um camarim? O que motiva outro a trair o seu melhor amigo em Roma? É inveja? É medo? Quais são as questões internas de cada personagem?”, indaga Gasparani.

Cena de Julius Caesar – Vidas Paralelas, com a Cia. dos Atores. Foto Humberto Araújo

Em seu texto, o dramaturgo utilizou também Vidas Paralelas, livro do filósofo e historiador grego Plutarco (ca. 46 – ca. 120) no qual Shakespeare se inspirou para escrever Júlio César. “Há muita intersecção entre os dois textos”, conta Gasparani.

Criador dos figurinos de quase todas as produções da companhia, o ator Marcelo Olinto investiu no realismo contemporâneo por meio de roupas frequentemente usadas em uma sala de ensaio, como moletons e camisetas. “Fiz um trabalho de tingimento, manualmente, usando uma cartela de cores com tons de cinza, azul, vinho e verde”, diz. “Na transição para a peça de Shakespeare que os personagens estão ensaiando, usamos o moletom com capuz que, amarrado de diferentes maneiras, vai ganhando novas identidades.”

Serviço

Julius Caesar – Vidas Paralelas

Sesc Consolação – Teatro Anchieta. Rua Dr. Vila Nova, 245 – Vila Buarque.

Quinta, sexta e sábado, 20h. Domingo, 18h. R$ 50

Até 14 de julho

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Ficha Técnica

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Serviço

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