Distópico, o solo “Branco Ancestral”, que terá sessão única nesta segunda-feira, 8, ironiza a branquitude e seus privilégios
Por Ubiratan Brasil (publicada em 8 de dezembro de 2025)
Histórias distópicas trazem uma questão que desafia a civilidade humana: depois de uma devastação completa, seria possível o homem reconstruir o mundo sem repetir a hierarquia, o poder e os preconceitos que moldaram a desigualdade? A questão foi o ponto de partida para Jessé Scarpellini escrever o monólogo Branco Ancestral, interpretado por ele mesmo na sessão única que acontece na segunda-feira, 8 de dezembro, no Teatro Estúdio, em São Paulo.
Com direção de Bruno Sigrist e preparação de ator de Paula Ravache, o espetáculo mostra um Brasil futurista devastado por desastres ambientais, pandemias e pela própria soberba humana. O único sobrevivente é Alê, um típico paulista do Itaim Bibi encarregado de recomeçar a humanidade. O rapaz vive isolado em um bunker-pop futurista e cercado por embriões criados pela avó cientista e pela voz de Mabê, a última inteligência artificial da Terra, programada por seu avô.

“O absurdo está no texto, na sátira, que chega onde o panfletarismo e o letramento não alcançam”, conta Scarpellini, que buscou surpreender pelo estilo. “Quando ouvi o texto pela primeira vez, percebi que a forma da escrita é muito provocativa, com um humor absurdo para tratar de questões que precisam ser levantadas”, completa Paula Ravache, que trouxe referências da mímica, do teatro físico e da palhaçaria. “O público pode se sentir incomodado, inquieto, mas certamente vai rir.”
O desconforto está na forma engenhosa com que Scarpellini trata da branquitude e seus privilégios, expondo seus absurdos por meio de personagens cômicos e situações exageradas. O autor reconhece influências vindas de distopias clássicas como os filmes De Volta para o Futuro e O Homem Bicentenário, cujo futuro imagino traz elementos distópicos como consumismo exagerado, a manipulação por meio do poder financeiro e um controle social velado, mostrando que o progresso tecnológico não garante uma sociedade melhor.
Serviço
Branco Ancestral
Teatro Estúdio. Rua Conselheiro Nébias, 891
Sessão única na segunda-feira, 8 de dezembro, 20h. R$ 100
