Marcada por traços do realismo fantástico, peça mistura humor e absurdo em situações improváveis e poéticas para pensarmos sobre a urgência de rever as nossas relações com a natureza
Da Redação Canal Teatro MF (publicada em 20 de outubro de 2025)
A imagem de animais silvestres ocupando as ruas de várias cidades desertas durante o período da pandemia da covid-19 é uma das mais emblemáticas para apontar a devastação ambiental em curso no planeta. A distopia passou a ser realidade e o surreal virou cotidiano. Quase uma década antes o autor escocês Eric Coble escreveu um texto cuja ação central é um animal selvagem que habita a escadaria do prédio de uma cidade grande e passa a interferir na vida de dois moradores.
A discussão sobre as consequências danosas do capitalismo e da devastação do meio ambiente para a saúde física e mental das pessoas está presente no texto Coyote, que ganha uma montagem inédita brasileira, dirigida e interpretada por Karen Coelho e Rodrigo Pandolfo, com estreia no Tusp Butantã.
No espetáculo, dois jovens solitários em uma grande metrópole narram como tiveram suas vidas profundamente transformadas após a misteriosa aparição de um coiote na escadaria do prédio onde vivem. Sem qualquer entusiasmo, Melinda trabalha durante a madrugada em uma fábrica de impressão e segue sua rotina mecânica e sem muita interação social. Já Tony está desempregado e desiludido, mal consegue arcar com as contas da casa e questiona sua motivação para viver.
Certa madrugada, os dois vizinhos avistam, a partir de diferentes pontos de vista, um coiote na escadaria do prédio e ficam absolutamente fascinados. Eles esperam noite após noite que o animal apareça novamente até que, alguns dias depois, Tony observa Melinda levando carne crua para o visitante. A partir de então, eles se tornam cúmplices e parceiros dessa experiência tão peculiar, enquanto tentam compreender por que um animal selvagem estaria invadindo a área urbana.

“Coyote nos traz questionamentos a respeito da direção que esse sistema tem nos conduzido. O texto aborda de forma fabular, com comicidade e leveza, temas urgentes pro nosso tempo. O que estamos fazendo, ao longo da evolução humana, é justamente nos afastar da natureza. E as consequências disso são devastadoras, tanto para o meio ambiente, quanto para nossa saúde física e mental”, comenta a atriz e codiretora Karen Coelho.
A peça ainda convida o público a pensar sobre a solidão, como acrescenta Rodrigo Pandolfo. “Preso em seu quadrado, o indivíduo deixa de alimentar a sua melhor possibilidade de cura: a relação com os outros. O individualismo tem imperado de tal forma, que talvez seja mais fácil trocar afeto com um cão, um gato ou um coiote. E quem sabe eles, os animais, sejam os mensageiros da mudança que precisamos realizar?”, indaga o ator e codiretor.
Serviço
Coyote
Tusp Butantã. Rua do Anfiteatro, 109
Quartas a sábados, 20h. Domingos, 18h. Ingressos gratuitos – reservas via Sympla
Até 9 de novembro (estreou 16 de outubro)
