Musical produzido e estrelado por Tiago Abravanel reflete sobre questões sociais muito atuais
Por Ubiratan Brasil
Na primeira versão brasileira do musical Hairspray, em 2009, o ator Tiago Abravanel era o substituto imediato de Edson Celulari, que interpretava Edna Turnblad. Mas não teve nenhuma oportunidade de viver a personagem. A vontade só crescia a cada vez que Abravanel revia a versão cinematográfica estrelada por John Travolta.
Cansado de esperar, ele se uniu aos amigos Antônia Prado, Rafael Villar e Tinno Zani e juntos compraram os direitos autorais e também dividiram a produção da montagem que estreou no Teatro Renault, depois de uma curta temporada no Rio de Janeiro.
“Hairspray faz parte da minha história no teatro. Eu interpretei Edna nos meus tempos de estudante”, conta Abravanel, que agora vive a personagem de forma plena. Com seios postiços carregados de bojo e enchimento nos quadris, ele é a mãe da jovem estudante Tracy Turnblad (Vânia Canto), que sonha em se apresentar no The Corny Collins Show, programa musical nos Estados Unidos, nos anos 1960. Por ser uma garota gorda, ela enfrenta desafios para conquistar seu sonho.
Para isso, conta com a ajuda de muitos amigos como Corny Collins (Ivan Parente), Link Larkin (Rodrigo Garcia), Motormouth Maybelle (Aline Cunha), Penny Pingleton (Pâmela Rossini) e Seaweed J. Stubbs (Thales Cesar). No caminho ao estrelato, ela precisa superar a rival Amber Von Tussle (Verônica Goeldi) e todas as artimanhas de sua mãe e produtora do programa musical, Velma Von Tussle (Liane Maya). Tracy também contará com o apoio de seus pais Wilbur Turnblad (Lindsay Paulino) e Edna.
Fora dos tradicionais padrões de beleza, Tracy enfrenta muitos preconceitos, mas, ao ganhar um lugar no show e virar uma celebridade instantânea, se junta a seus amigos para lutar contra a segregação racial e promover a inclusão de todos na cidade: brancos, pretos, gordos, magros etc.
“O musical é alegre, vibrante, mas mostra a dificuldade em se vencer preconceitos”, conta Vânia, que finalmente foi escalada como protagonista de um musical. Sua incansável trajetória, aliás, se assemelha à de Tracy e de também da de Fanny Brice, principal personagem do musical Funny Girl, em que era a principal substituta da atriz titular, Giulia Nadruz. Ambas não se curvam às limitações impostas pelas exigências físicas impostas pela sociedade.
O musical traz diversos números marcados pela vitalidade da coreografia de Tiago Dias, como Bom Dia, Baltimore, que abre o espetáculo de forma vibrante. Outro número emocionante é interpretado por Aline Cunha que, como Motormouth Maybelle, exibe toda a dor e a esperança na luta contra o preconceito racial.
Um trunfo é a versão em português criada por um veterano nesse trabalho, Victor Mühlethaler. “Esse musical é uma verdadeira aula de comédia musical porque é muito bem escrito, por Marc Shaiman e Scott Wittman. Existem várias gírias da época e precisei fazer um mergulho também nessa cultura dos anos 60, no Brasil, como os jovens daquele momento falavam, sem tirar a linguagem da época, nos Estados Unidos”, conta.
O visual alegre é resultado da combinação do cenário e dos figurinos. “Para Hairspray, tive a liberdade de criar uma identidade de cada cenário com muitas cores vintage e uma pegada cartunista bem dos anos sessenta”, explica Rogério Falcão. Já os 238 figurinos foram criados por Bruno Oliveira. “Poder revisitar todos os personagens que nos levam para caminhos de muitas cores e formas foi prazeroso demais”, explica.
Serviço
Hairspray
Teatro Renault. Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista
Quintas e Sextas, 20h. Sábados, 16h e 20h. Domingos, 15h e 20h. R$ 36,90 / R$ 350
Até 15 de dezembro (estreou em 5 de setembro)