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Com enfoque na sátira social que permeia as vidas domésticas e políticas do início do século passado, o diretor Eduardo Tolentino traz à cena duas montagens do dramaturgo francês
Por Redação Canal Teatro MF
O Grupo Tapa completou no ano de 2024 meio século de existência e como já é hábito deste coletivo, neste início de ano fará o seu Festival de Verão com apresentações de dois textos do dramaturgo francês Georges Feydeau (1862-1921). É a primeira vez que o grupo do diretor Eduardo Tolentino de Araújo visita os textos desse autor famoso por seus vaudevilles que marcou presença na Belle Époque e agora poderá ser visto pelo público no Teatro Itália, a partir de 9 de janeiro. Pouco encenado no país nos últimos anos, há quatro décadas, em 1984, neste mesmo Teatro Itália, o diretor José Renato encenou um de seus textos, O Peru, com adaptação de Juca de Oliveira.
Os textos que foram escritos no início do século passado trazem como enfoque a sátira social, permeando a vida doméstica e política de uma época, mas que vistas hoje podem ser facilmente apropriadas ao momento atual.
Em A Falecida Senhora sua Mãe, de 1908, o humor explora confusões e mal-entendidos após a morte da mãe de um dos personagens principais, envolvendo heranças, trocas de identidade e situações absurdas que satirizam as convenções sociais da época. “Este texto foi a primeira peça de Feydeau a entrar no repertório do Teatro da Comedie-Française. Tem uma série de reviravoltas e quiproquós dos personagens que revelam o falso bom-mocismo dessa classe média”, enfatiza o diretor Eduardo Tolentino.
A história se passa em um quarto, onde o protagonista está vestido de Luis XIV após chegar de uma festa a fantasia, com uma cenografia que utiliza o preto e o branco com o decorrer da trama. O elenco conta com Fernanda Viacava, Fernando Nitsch, Paloma Galasso e Mauricio Bittencourt
Já em Não Andes Nua Por Aí, de 1911, a sátira se dá à sociedade burguesa da época, que explora a moralidade através da história de Ventroux, um político preocupado com sua imagem pública e com o comportamento da esposa, Clarice, que costuma andar pela casa em trajes minimalistas. As situações cômicas se intensificam com a chegada de visitas inesperadas, como um político da oposição e um jornalista que pode arruinar a carreira de Ventroux. Ambientada em um verão europeu ensolarado, a peça destaca homens vestidos de linho e Clarice em uma camisola de renda transparente, que acentua as ansiedades do protagonista.
Nesta montagem, os atores são André Garolli, Camila Czerkes, Laerte Melo e Mauricio Bittencourt. “Aqui o que mais preocupa são as aparências, a hipocrisia da classe política. São questões que conversam muito bem com o nosso tempo atual”, continua Tolentino.
“Feydeau ficou particularmente conhecido como escritor de vaudeville, não era visto como um autor de comédias, o que acabou sendo revisto com essas peças posteriores, devido a sua dinâmica e acabamento. As tramas são pequenas radiografias da classe média do início do século 20 que começou a ocupar os espaços urbanos de Paris com a chegada dos boulevards. São peças que exigem muito da atuação em função dos tempos cômicos e o jogo entre os atores”, enfatiza Tolentino.
E para quem for assistir ao Não Andes Nua por Aí entrará em contato com um outro texto curto, Jantar de Despedida, do austríaco Arthur Schnitzler, um dos textos da coletânea que o Grupo Tapa montou em 2018 no espetáculo Anatol.
Na história, o protagonista arma um jantar para terminar a sua relação quando é surpreendido pela namorada que se antecipa a ele. O elenco é formado por Adriano Bedin, Bruno Barchesi e Camila Czerkes. Segundo o diretor, as duas peças conversam entre si, uma se passa na Belle Époque e outra em Viena.
Serviço
A Falecida Senhora Sua Mãe
A partir de 9 de janeiro. Quintas e sextas, 20h. Até 21 de fevereiro
Não Andes Nua Por Aí + Jantar de Despedida
A partir de 11 de janeiro. Sábados, 20h. Domingos, 19h. Até 23 de fevereiro
Teatro Itália. Av. Ipiranga, 344. R$ 80
