O melhor do teatro está aqui

Grupo Contadores de Mentira encerra temporada de ‘Cícera’ e inicia luta em busca de novo território

Sinopse

Conjunto  com 28 anos de trajetória em arte e cultura migra seu espaço de cultura para Mairiporã.

Por Kyra Piscitelli e Redação Canal Teatro MF

Primeiro monólogo do grupo Contadores de Mentira, Cícera encerrou temporada nesta quinta-feira, dia 28, no Sesc Pompeia, com grande sucesso. A obra nasceu em 2019 após uma profunda jornada de pesquisa dos Contadores de Mentira no Agreste de Alagoas.

O grupo Contadores de Mentira nasceu na cidade de Suzano em 1995 e manteve residência nesta cidade cidade até 2024 e, recentemente, precisou migrar de território em decorrência de violência política por parte do poder público social que arbitrariamente retirou a permissão de uso do terreno onde o grupo ergueu com suas próprias mãos a sua sede.

Cena de Cícera – Contadores de História. Foto Jacquelino Angelo

Em janeiro deste ano, o grupo iniciou a grande operação de desmontagem do Teatro para então se instalar em nova morada-território na cidade de Mairiporã, em um teatro independente, construído de contêineres, com arquitetura inovadora e sustentável. Logo se tornou atuante em fóruns e movimentos culturais e sociais. Mesmo assim, o grupo não desistiu do terreno nem Suzano onde construíram sua sede e de onde saíram sob suposta perseguição de artistas independentes locais por meio da prefeitura comandada por Rodrigo Ashiuchi (PL).

Cícera assume, portanto, uma posição de resistência artística. Para a Canal Teatro MF, a atriz Daniele Santana conta do processo de seu monólogo, o primeiro do Grupo Contadores de Mentira, A atriz que também assina a dramaturgia conta como criou a obra, inspirada em sua mãe, a Cícera real da história.

ena de Cícera – Contadores de História. Foto Alessandro Silva

“Eu sempre tive o desejo desde que eu entrei no teatro de falar sobre a história da minha mãe
e das mulheres que como ela tiveram a sua trajetória tracejada por desigualdade social e
desamparo do Estado. Mas é claro que isso era a princípio algo distante no aspecto de fazer
de fato”, conta.

Segundo ela, foi em 2017 que começou a desenhar essa possibilidade de forma mais certeira.
“ no ano anterior, eu adentrei no “The Magdalena Project”. Essa é uma rede de mulheres
intercultural no teatro e na performance e o protagonismo feminino é muito discutido nos
encontros, um protagonismo também de trazer as histórias. “Ali fui muito estimulada a fazer logo
o projeto, conta a atriz.”

Foi então que em 2018, ela viajou com a sua mãe e o diretor Cleiton Pereira para Alagoas. Ali
pesquisaram a cultura, entenderam mais sobre as mulheres estaladeiras de fumo (a profissão
de sua mãe), e o que poderiam trazer para essa construção cênica, fizeram uma vivência sem
falar que era para um projeto, assim tudo viria mais natural

O interessante, é que Daniele escolheu fazer a história acontecer dentro do seu grupo
Contadores de Mentira. Segundo ela, todos já conheciam sua mãe ali e sabiam que a história
dela é a história de boa parte dos brasileiros. “A história da minha mãe convergia da história de
pessoas do grupo, de familiares de pessoas do grupo. Embora fosse uma história particular,
privada minha, tem uma conexão arquetípica dentro da nossa sociedade”.

História de muitas Cíceras

No entanto, a atriz conta que fez questão em ter o olhar coletivo dentro da sua história. “ O que
era micro, transformamos em macro, entendemos que a história dessa Cícera é a história de
muitas Cíceras e é por isso que eu trago outras mulheres à cena, trago poesias femininas,
cantos… Isso foi o tempo todo uma preocupação da direção: não transformar isso em uma
história umbilical, que embora, traga algo pessoal conseguisse se conectar com outras
histórias e vivências”, afirma a atriz.

“A ancestralidade e a brasilidade estão em cena. “No grupo falamos muito de três pilares: a
metáfora, rito e celebração. Cícera é a metáfora enquanto tema. E é um rito de um grupo, de
uma mulher, de uma nordestina e que ao encontrar ali com outras pessoas que podem ter
vivido aquilo ou não, cria-se uma celebração, que é o momento que aquilo deixa de ser interno
de um grupo para ser externo ao partilhar com outras pessoas”, explica a atriz sobre a forma
como o grupo Contadores de Mentira veem o teatro.

[acf_release]
[acf_link_para_comprar]

Ficha Técnica

[acf_ficha_tecnica]

Serviço

[acf_servico]