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“Fuga” une linguagens artísticas distintas para mostrar o racismo ambiental

Sinopse

Encenação coloca o público dentro de um museu em meio a uma catástrofe climática. Por meio de sensações físicas e emocionais, peça tem como inspiração romance afrofuturista de 1993 e constrói narrativas que dialogam com o cotidiano contemporâneo

Por Redação Canal Teatro MF (publicado em 30 de junho de 2025)

A escritora afro-americana Octavia Butler publicou no ano de 1993 o livro A Parábola do Semeador, em que faz uma previsão do mundo para 2025. Referência central do afrofuturismo, ela antecipou neste romance questões sociais, políticas e climáticas, onde vários eventos são apontados de forma assustadora e dão ênfase às crises enfrentadas atualmente, incluindo os incêndios devastadores que aconteceram em Los Angeles recentemente. 

A encenadora Beatriz Barros e a atriz Jennifer Souza, em conjunto com a Frente Coletiva, formada por artistas transdisciplinares, trazem como referência e ponto de partida este romance para a pesquisa que realizam sobre o capitalismo como um dos motores da degradação ambiental e das desigualdades sociais que dele decorrem. Esse estudo serviu de base para o espetáculo Fuga, que estreia no Sesc Belenzinho

Cena do espetáculo Fuga. Foto Duda Portella

A dramaturgia, escrita por Louise Belmonte com colaboração da diretora e das intérpretes, poderia ser uma notícia de jornal. Tudo acontece dentro de um museu em São Paulo, durante uma tempestade que paralisa a cidade. Quatro trabalhadoras do museu ficam presas no trabalho, enquanto outras tentam chegar na instituição a qualquer custo.

Impedidas de retornar para casa por conta do desastre climático, elas seguem trabalhando enquanto as outras tentam chegar, movidas pela urgência de garantir o sustento em meio ao caos. Suas presenças no local revelam como o racismo ambiental afeta, de forma desigual, a população periférica. “Elas seguem trabalhando porque não têm escolha: a necessidade de garantir o sustento falou mais alto que o medo da catástrofe. Isso diz muito sobre o sistema em que vivemos”, observa Jennifer, que também atua na peça ao lado de Julia Pedreira, Joy Catharina e Tricka Carvalho.

A encenação propõe uma espécie de visita mediada a esse museu fictício e se construiu por meio de uma linguagem que provoca sensações físicas e emocionais: sons de chuvas intensas, trovões, falhas de energia, vento e água criam um ambiente de instabilidade constante. Beatriz destaca que o som tem um papel fundamental nessa narrativa e que a presença da água no cenário interfere diretamente nas interpretações, tornando a encenação uma verdadeira orquestração de experiências sensoriais.

Outra cena da peça Fuga. Foto Duda Portella

O público acompanha, em tempo real, um dia de trabalho que é rompido por uma emergência climática. A estrutura dramatúrgica se transforma junto com a narrativa: o que começa como uma cena cotidiana evolui para um espaço extra cotidiano, mais instável, quase apocalíptico. 

Para a Frente Coletiva, o apocalipse não é uma questão, porque o planeta já está em colapso. “A obra pretende dar forma a tudo que vemos e escutamos. De dizer que sim, ouvimos: cada queimada, cada deslizamento, cada espécie desaparecida, cada corpo que afunda”, completa.

Serviço

Fuga

Sesc Belenzinho. Rua Padre Adelino, 1000

Sextas, sábados, 20h. Domingos, A partir de 17 de julho também às quintas, 20h. R$ 50

Até 3 de agosto (estreia 4 de julho)

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Ficha Técnica

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Serviço

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