Dirigida por Pedro Granato, peça do francês Pascal Rambert é estrelada por Paula Cohen e Jiddu Pinheiro que, em cena, refletem sobre opressores e oprimidos no ambiente público e privado
Por Redação Canal Teatro MF
No quarto de um hotel em Helsinque, um casal que está em processo de separação tenta estabelecer um diálogo sobre o futuro de seu relacionamento, especialmente encontrar um consenso sobre a criação e guarda da sua filha pequena. É nesse duelo de linguagem entre dois mundos aparentemente inconciliáveis que acontece o drama da peça Finlândia, em cartaz no Teatro Vivo.
Escrita pelo francês Pascal Rambert, a peça conta com a direção de Pedro Granato e é estrelado pelo casal Paula Cohen e Jiddu Pinheiro, que também compartilham a tradução. As diferenças apresentadas pelos dois personagens refletem o momento que vivemos, uma estrutura de padrões opressivos que está por ruir, um mundo em desconstrução que aponta novos caminhos. E, por consequência, junto com a mudança vem os conflitos, as quebras e as resistências.
“Acredito que o texto traz muito essa nova onda feminista para dentro das relações em que os pais estão mais presentes, compartilham as tarefas do lar e cuidados com os filhos e não terceirizam os cuidados. E aqui há também uma certa inversão de papéis em alguns momentos, uma desconstrução, uma visão mais crítica dessas estruturas de poder dos homens, do que é violência e do que é respeito. O texto traz muito a filha para o centro da questão”, observa Pedro Granato.
O diretor comenta também sobre como o clima claustrofóbico provocado pelo reduzido espaço do quarto influencia a discussão. “Deixamos a encenação diagonal, o que diminui o espaço do quarto e permite essa relação mais cinematográfica como se o espectador visse quase que um plano contraplano. E, assim, rompe-se um pouco com aquela ação mais frontal ou da quarta parede. Temos um caminho de usar elementos de forma mais minimalista para que se sobressaiam os atores e o texto.”
A atriz Paula Cohen aponta para um aspecto importante do texto relacionado à dicotomia entre o modo como as pessoas foram criadas para reproduzir os velhos padrões de relacionamento e a tentativa de romper com essas formas antigas a partir da mudança de tempos, olhares e valores. “Acho que a peça explora essas contradições colocando em perspectiva esses questionamentos, de maneira muito humana na boca dessas personagens. Esse casal passa por muitos assuntos que estão em pauta na sociedade e, por isso, encontra ressonância em muitas casas, em muitos lares, em outros países”, diz ela.
A forma atual de se olhar para um relacionamento proposta pela peça de Pascal Rambert impressiona o ator Jiddu Pinheiro. “O debate sobre opressores e oprimidos no ambiente público e privado, o embate político ideológico nos mais diversos fóruns, as lutas por igualdade de direitos de gêneros e representatividade feminina, a forma como a estrutura patriarcal moldou e molda subjetividades de homens e mulheres são pautas de primeira ordem neste momento. O texto de Rambert traz de forma brilhante esse imaginário e esse debate nas subjacências dos dizeres desses personagens fazendo com que tudo pareça orgânico e cotidiano”, acredita.
Serviço
Finlândia
Teatro Vivo. Avenida Dr. Chucri Zaidan, 2460. Telefone: (11) 3430-1524
Quartas e quintas-feiras, 20h. R$ 80
Até 20 de março (estreou 22 de janeiro)