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Exclusivo: Luci Salutes viverá Capitu em “Dom Casmurro – Musical”

Sinopse

Atriz está confirmada para projeto que será visto em breve com texto de Davi Novaes, músicas e letras de Guilherme Gila e direção de Zé Henrique de Paula; financiamento coletivo está aberto para arrecadar recursos

Por Ubiratan Brasil

Um dos mais fascinantes mistérios da literatura brasileira marca o romance Dom Casmurro (1899), clássico de Machado de Assis. Bentinho é um dos três principais personagens de uma obra elogiada, entre várias qualidades, pela dúvida plantada na mente do leitor: teria Capitu traído seu marido, Bentinho, com o amigo dele, Escobar? E, desde então, leitores de diversas gerações se perguntam: o ciúme de Bentinho era mesmo justificado? Ezequiel era de fato filho de Escobar, fruto de uma aventura extraconjugal de Capitu?

O mistério será um dos grande trunfos de Dom Casmurro – Musical, que poderá ser visto em breve em uma adaptação produzida pela A Casa Que Fala em parceria com a Tomate Produções. Com texto de Davi Novaes, músicas e letras de Guilherme Gila e direção de Zé Henrique de Paula, a produção está prevista para estrear ainda este semestre e anuncia agora a abertura de um financiamento coletivo para arrecadar recursos para a montagem.

Os interessados poderão fazer sua contribuição na Benfeitoria, pelo formato Tudo ou Nada, e a meta inicial é a de arrecadar R$ 30 mil. A campanha estará no ar até 7 de outubro e, para maiores informações, basta acessar @musicaldomcasmurro que vai trazer as condições e benefícios e também acompanhar as mídias do espetáculo.

Luci Salutes será Capitu em Dom Casmurro – Musical. Foto Felipe Quintini

Entre os papéis, o de Capitu já está definido e o Canal Teatro MF anuncia com exclusividade que será interpretado por Luci Salutes, que esteve em musicais como Se Essa Lua Fosse Minha, Romeu e Julieta ao Som de Marisa Monte, Marrom, o Musical e Uma Linda Mulher.

Ao ouvir a primeira música, a atriz prontamente aceitou o convite. Foi o que convenceu Gila, responsável pela trilha sonora, a compor todas as canções levando em consideração o tom de voz e o estilo vocal da artista, o que faz deste musical uma obra personalizada e diferenciada. Sem processo de audição, a produção anunciará em breve os demais nomes que darão vida aos clássicos personagens Bentinho, Prima Justina, José Dias, entre outros.

O ousado projeto nasceu em 2021 durante a pandemia, com uma proposta que foi tomando formas variadas até que tudo foi reformulado para se encaixar em uma perspectiva original e intimista. Tudo começou quando Gila notou uma brecha no mercado de musicais brasileiros – conhecedor da obra de Machado (é de sua autoria o divertido A Igreja do Diabo – um musical imoral e hilário, baseado em texto do Bruxo do Cosme Velho), ele convidou outro ávido leitor de bons livros, Davi Novaes que, como autor, escreveu e atuou nas peças O Que Restou de Você em Mim e É Sempre mais Difícil Ancorar um Navio no Espaço.

Luci Salutes será Capitu em Dom Casmurro – Musical. Foto Felipe Quintini

“Tanto eu quanto o Davi temos um apreço gigante por literatura, sobretudo a do nosso país. Percebi que lá fora muitos dos musicais que amamos e são sucessos gigantes na Broadway partem da adaptação da literatura americana e mundial, mas no Brasil os musicais nacionais em sua maioria partem das biografias. Decidi então focar em adaptar nossos livros e autores para o teatro musical, e rapidamente apareceu Dom Casmurro”, conta Gila sobre o processo do projeto.

Com Davi já envolvido no trabalho, a dupla começou a se encontrar às segundas-feiras à noite, quando compartilhavam o que cada um havia escrito para então alinhar as ideias. “Às vezes, um texto se transformava em música e uma letra de música virava texto, assim fomos costurando o espetáculo”, lembra Gila. Com a chegada de Zé Henrique de Paula para comandar a direção do musical, mais ideias surgiram, proporcionando uma nova visão sobre o texto.

“A importância que o Zé dá para o trabalho dos atores e para a construção de uma encenação orgânica e sensível são coisas que me atraem muito. Em 2022, quando todo o texto e as músicas estavam prontas, juntei alguns amigos queridos e fizemos uma leitura fechada de Dom Casmurro para o Zé e a (diretora musical) Fernanda (Maia) em uma tarde. Ele ficou muito tocado pelo projeto e, a partir daí, já era nosso diretor”, conta Gila.

Luci Salutes será Capitu em Dom Casmurro – Musical. Foto Felipe Quintini

O primeiro grande desafio foi certamente adaptar o texto de Machado de Assis, marcado por uma ironia e uma elegância que, na verdade, traduzem sentimentos profundos da alma humana. Especialmente Dom Casmurro, que se escancara a verossimilhança do adultério feminino para que o leitor chegue à verdade do ciúme masculino, possessivo. Se o leitor se encantar com a verossimilhança, tropeça, cai no chão e é devorado pela esfinge.

Assim, no processo criativo do musical, Davi Novaes faz algumas escolhas para chegar a um lugar único e original que eles desejavam para obra. “Tentei me ater ao livro o máximo possível, fonte de todas as outras adaptações que, querendo ou não, figuram na minha memória. A minissérie dirigida por Luiz Fernando Carvalho, Capitu, me acompanhou no imaginário, pois me marcou muito, mas não escrevi nenhuma cena diretamente influenciada por ela ou por qualquer outra adaptação que tenha encontrado pelo caminho. Tentei criar a minha própria, a partir das palavras do Bruxo do Cosme Velho“, explica o ator e dramaturgo.

Um detalhe sempre lembrado – Bentinho é o narrador da história, portanto, suas informações não totalmente confiáveis – permitiu ainda que seus criadores trabalhassem a ambiguidade do seu discurso, abrindo a possibilidade de que várias escolhas artísticas apareçam no palco. “Nessa adaptação, tomei a liberdade de evidenciar algo que já vem sendo discutido há décadas sobre nosso protagonista Dom Casmurro: sua inconfiabilidade. Na nossa versão, isso é assumido: Dom Casmurro prepara os atores de sua própria história para entrarem em cena, dá falas para que Capitu saiba o que dizer na história que ele conta sobre os dois. Esse é o fio principal que guia essa nossa visão do clássico machadiano. E, por fim, Guilherme Gila faz justiça e concede à Capitu a palavra final”, antecipa Davi.

A MPB também foi decisiva no processo criativo do cancioneiro original da espetáculo. A partir de um viés emocional provocado pelas decisões estilísticas de Machado de Assis, Gila chegou à música brasileira para manter conectado o espetáculo com a cultura nacional. “As melodias surgiram como uma forma de engrandecer e reproduzir estas emoções que Machado evoca a cada parágrafo. Busquei usar referências da MPB tanto na forma de escrever as letras quanto em algumas melodias para envelopar esses estilos e manter a identidade brasileira da obra,” explica o autor do espetáculo.

Sobre a eterna dúvida se houve ou não traição de Capitu, a incerteza alimentou debates ao longo de décadas, alguns divertidos – como a variação de julgamentos que marcou o pensamento da grande escritora Lygia Fagundes Telles, falecida em 2022. Segundo ela, depois de sua primeira leitura da obra, o que fez quando cursava Direito nos anos 1940, acreditava que Capitu era uma santa, enquanto Bentinho, um neurótico, histérico.

A segunda leitura foi na maturidade, em 1967, quando Lygia estava casada com o crítico e escritor Paulo Emílio Sales Gomes. Juntos, preparavam Capitu, roteiro filmado por Paulo César Saraceni. Depois de reler o livro, a escritora disse ao marido: “Mudei completamente de ideia: a mulher traiu ele sim, o filho não era dele”. Nos últimos anos de vida, porém, Lygia confessou sua indecisão. “Minha última versão é essa: não sei”, disse ela a esse repórter, em 2008, entre risos.

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