A produtora e gestora Aniela Jordan prepara cardápio de atrações que privilegiam a importância da mulher na arte, como a volta de ‘Elis, a Musical’ e a ópera ‘Isolda/Tristão’
Por Ubiratan Brasil
A ponte aérea entre Rio e São Paulo já se consolidou como parte da rotina da produtora, gestora e diretora artística Aniela Jordan. Na noite da sexta-feira passada, por exemplo, dia 18, ela prestigiou a estreia do musical O Jovem Frankenstein na capital fluminense e a festa nem tinha terminado quando Aniela rumou para São Paulo onde, no sábado à tarde, acompanhou o início da temporada de Disney Princesa, o Espetáculo, que apresenta canções de mais de 20 animações clássicas como A Pequena Sereia, Moana, Aladdin e Frozen.
“Sem contar que, dias antes, estive em Belém para a estreia de Floresta Amazônica, da Cia de Ballet Dalal Achcar“, comenta ela sobre o grupo de dança da irmã, filha do primeiro casamento de sua mãe. Foi Dalal, aliás, quem convenceu a jovem Aniela a começar a dançar – a aptidão, porém, não estava no palco, mas nos bastidores, especialmente na produção.
A escolha foi certeira – Aniela Jordan é hoje uma das mais atuantes produtoras do país, com destaque na criação e condução de grandes espetáculos musicais e na recuperação, gestão e curadoria de programação de tradicionais aparelhos culturais. Ao lado do empresário Luiz Calainho, comanda a Aventura Entretenimento, empresa fundada em 2008 e responsável por mais de 40 produções, de espetáculos inéditos a versões da Broadway – a mais recente é justamente O Jovem Frankenstein.
O sucesso da empresa convenceu a dupla a abrir no ano passado a Aventurinha, braço especializado na programação cultural, educativa e social para um público consumidor cada vez mais ávido, o infantojuvenil. A estreia aconteceu com o espetáculo Pixar in Concert, primeira parceria com a Disney, que se renova agora com Princesa.
Bastar um olhar atento para a programação das empresas para se notar a orientação conduzida por Aniela: espetáculos que valorizem principalmente a atuação da mulher, tanto no campo criativo como no de gestão. Em Princesa, por exemplo, o toque nacional está na narrativa das seis atrizes cantoras. “Cada uma conta sua história e elas mostram que, nessa luta, são princesas de verdade”, comenta Aniela, que trilha caminho semelhante na primeira coprodução a ser assumida pelo Teatro Municipal de São Paulo.
Trata-se da ópera Isolda/Tristão, que estreia em 15 de setembro. Com direção de Guilherme Leme Garcia, libreto de Marcia Zanelatto e música de Clarice Assad, o espetáculo se inspira no secular mito de Tristão e Isolda, mas é ambientado nos tempos atuais.
Em apenas um ato de 70 minutos, a ópera narra o drama de um grupo de refugiados vivendo uma situação limite: eles não são autorizados a atravessar a fronteira e ser recebidos em um novo país e tampouco podem voltar à própria nação de origem.
“Aqui o protagonismo é de Isolda, que ruma para esse campo de refugiados com o objetivo de resgatar sua mãe”, detalha Aniela que, com a ópera, completa uma trilogia formada ainda pelos musicais Romeu e Julieta e Merlin e Arthur – Um Sonho de Liberdade, todos dirigidos por Leme Garcia e com a luta pela liberdade como fio condutor. Isolda/Tristão será apresentada em um programa duplo com outra ópera, inadamar, de Osvaldo Golijov e com libreto de David Henry Hwang.
Outra artista de trajetória exemplar, Elis Regina volta a ser homenageada em Elis, a Musical, que comemora dez anos de estreia com nova temporada, a partir de 5 de outubro, no Teatro Sérgio Cardoso. Laila Garin volta ao papel que a tornou nacionalmente conhecida, ao lado de outros nomes do elenco original, como Claudio Lins.
“O cenário é novo e o musical está mais condensado”, conta Aniela, lembrando que a concepção cênica continua a Dennis Carvalho. Como ele se recupera de um problema de saúde, o ator Guilherme Logullo estreia na função de diretor assistente.
Para 2024, a agenda já começa a ficar cheia. Está prevista, por exemplo, uma nova montagem de A Noviça Rebelde, justamente o musical que marcou o início das atividades da Aventura. “E, entre as apostas inovadoras, estou muito animada com uma que vem sendo concebida por Guilherme Leme Garcia“, conta a produtora.
Trata-se de Hip Hop Hamlet, espetáculo que segue a trilha de Hamilton, musical de grande sucesso em que Lin-Manuel Miranda se valeu, entre outros ritmos, do rap. “Aqui, um grupo de hip hop reconta a história de Hamlet, de Shakespeare. Para isso, vamos contar com a consultoria do Núcleo Bartolomeu de Teatro, especialista nesse ritmo.”
Finalmente, Aniela quer retomar o projeto Vozes Negras, em que grandes cantoras inspiram espetáculos que contam sua trajetória de luta e de sucesso.
Isso é apenas o início para 2024, ano que também promete ser marcante para a carioca de origem aristocrática, filha de banqueiro e que passou boa parte da infância na Europa. As conquistas vieram com muito trabalho, mas a ambição não parece ter limite. Fã de Walt Disney, Aniela tem uma frase do criador do Mickey pintada em seu apartamento, no Rio: “Eu gosto do impossível porque lá a concorrência é menor”.