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Essa tal juventude mergulhada em curtidas e engajamentos

Sinopse

“Por Um Fio”, para crianças a partir de 10 anos, propõe discussão sobre a falta de conexão presencial no mundo de hoje, contando a história divertida de duas adolescentes, uma delas com espectro autista

Por Dib Carneiro Neto

Pedro Garrafa é reconhecido já há alguns anos, em São Paulo, por criar trabalhos teatrais de qualidade para o público jovem. Neste feriado de 7 de setembro, ele traz mais uma dessas criações à cena paulistana, Por Um Fio, que ficará em cartaz até o fim de outubro no Teatro Jardim Sul, no shopping de mesmo nome, que fica no bairro do Morumbi. A produção recomenda que se levem crianças a partir dos 10 anos de idade. 

Veja que instigante a sinopse enviada: a peça conta a história de duas garotas que se conectam com o mundo de maneiras bem diferentes. Lorena é um sucesso nas redes sociais. Mesmo tendo somente 13 anos, já atingiu a marca de 890 mil seguidores e passa os dias “produzindo conteúdo” para as redes sociais. Já Maria Augusta é uma garota de 14 anos diagnosticada dentro do espectro autista (TEA). Ela ama o mundo das marionetes e sabe tudo sobre elas. Quando os pais das duas resolvem morar juntos, a vida delas se transforma.

Cena de Por Um Fio. Foto João Neto

“O teatro que me interessa não é exatamente aquele voltado só para o público jovem, mas o teatro que tem personagens jovens e que discute questões interessantes a todas as idades”, diz o diretor Pedro Garrafa. “Acho que essa talvez seja uma linha que conecta todos os meus trabalhos. Gosto de escrever textos com personagens jovens que não são nem modelos nem contraexemplos, sabe? Personagens que tenham conflitos, angústias e questões tão complexas como as da plateia que está ali assistindo. E nessa nova ‘aventura’ (porque montar um espetáculo é sempre uma), o espetáculo  Por Um Fio não é diferente! Essas duas garotas, protagonistas da história, são, ao mesmo tempo, cativantes e questionáveis.”

Mais jovens e mais doces

O encenador conta o que acha que há de novidade na peça, se compararmos com seus espetáculos anteriores, tão premiados. Ele diz: “O que existe de novidade em Por Um Fio é uma certa doçura inegável dessa relação que se cria entre as duas protagonistas. Desta vez, as personagens são um pouco mais jovens do que as de O Alvo, Nomo e mesmo Espartanos. Então, naturalmente a narrativa é mais doce, mais divertida e mais solar. Mas nem por isso mais ingênua. Além disso, dessa vez a dramaturgia teve muita influência de criadores da idade dessa galera, uma vez que foi escrita inicialmente para uma apresentação de um grupo de teatro de uma escola na qual dou aula. Isso fez muita diferença na segunda versão do texto, dessa vez para o palco profissional.” 

Falar de autismo nos palcos é bem delicado e o tema já começa a ser até frequente no teatro infantojuvenil. Pedro Garrafa comenta a preparação, a pesquisa, as condutas que o grupo teve de tomar para falar desse tema: “O espetáculo procura abrir uma discussão sobre o tema das conexões humanas nos dias de hoje. A ideia de colocar uma personagem dentro do espectro autista veio para dar um contraponto (e criar um paralelo) à outra personagem que é uma ‘influenciadora digital’. Essas duas formas de se conectar ao mundo têm suas peculiaridades e suas precariedades. Nesse sentido, colocar o autismo em cena é mais um recurso para falar sobre esse paralelo do que sobre o TEA propriamente dito. Mas é inevitável o desafio que se apresenta quando se trata de um tema ainda desconhecido e cheio de preconceitos.  Por isso, a pesquisa para a montagem começou ainda em sala de aula, com um grupo de jovens que, inclusive, contava com alunos dentro do espectro. Ouvimos experiências, falamos com profissionais, pedagogos e gente que pesquisou muito sobre a inclusão dessas pessoas no ambiente escolar (afinal, estávamos dentro dele). E, na segunda versão, agora nos palcos profissionais, ainda tenho a sorte de ter, no elenco, atores e psicólogos que também são professores de teatro para jovens. Isso rendeu muita discussão e elaboração de um jeito de contar a história que, ao mesmo tempo, encontrasse a realidade e que não ficasse moralista.  Afinal, o teatro é uma possibilidade de gerar uma discussão acerca de um tema e não de fechá-las em uma ‘moral’ da história.”

Estimular encontros presenciais

Por Um Fio, segundo Pedro Garrafa, não tem a intenção de “demonizar” o universo digital no qual a juventude atual vive mergulhada. Ele explica suas intenções: “A ideia do texto é abrir uma discussão para que o uso dessas ferramentas tecnológicas seja mais bem elaborado e, portanto, cauteloso.  Acima de tudo, Por Um Fio tem como objetivo valorizar as conexões feitas com o contato humano presencial. Nosso objetivo é que essa discussão saia da sala de teatro e se estenda para o almoço em família, para uma reunião de um grupo de amigos no parque, e até para a escola. Um bom teatro não só promove um encontro com os artistas sobre o palco, mas também instiga novos encontros entre a plateia.”

Cena do espetáculo Por Um Fio. Foto João Neto

Como professor de teatro para jovens, Pedro Garrafa ainda se espanta ao perceber o quanto hoje predominam as interações digitais, por meio de compartilhamentos, engajamentos e curtidas, em detrimento das conexões reais, como as que o teatro proporciona e promove. “No público jovem, a questão se torna ainda mais grave”, diz, “porque estamos falando de pessoas em formação. Assim, o espaço do teatro tem se tornado um espaço de resistência. Uma forma de se enxergar como indivíduo pensante e criativo para além das redes sociais. E até por conta disso, vemos a procura pela atividade teatral aumentar. Depois da pandemia, eu e meus colegas professores de teatro encontramos dois efeitos diferentes: O primeiro é um certo torpor, uma acomodação atrás das telas que insiste em isolar o sujeito em seu próprio mundinho. Isso afastou as pessoas da vontade de estar junto, de criar com o outro e, consequentemente, de fazer parte de um grupo de teatro.  Mas outro efeito, em uma outra galera, foi o de virem ávidos para a conexão! Para o fazer junto. Quebrar o isolamento.”

“No começo, foi bastante difícil lidar com isso”, prossegue ele. “Minha equipe de professores (a Equipe Flavia Garrafa) tinha 600 alunos antes da pandemia e, em 2021, começamos o ano com 120. Foi uma insistência enorme para fazer aquele primeiro grupo dar uma acordada e se juntar ao segundo. Mas hoje, passados alguns anos, já temos de volta os mesmos 600 alunos, 35 grupos de teatro com um monte de gente a fim de largar o celular e se envolver em algo que não envolva likes e compartilhamentos, mas aplausos!”

Serviço

Por Um Fio

Teatro Jardim Sul – Shopping Jardim Sul – Rua Itacaiuna, 61 – 2º andar – Vila Andrade

Sábados, 19h30. R$ 80

Até 26 de outubro (estreia 7 de setembro)


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Ficha Técnica

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Serviço

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