O solo, escrito e dirigido por Giovani Tozi, explora a faceta de cantor do protagonista, que, entre as histórias do personagem, interpreta dez músicas
Por Dirceu Alves Jr. (publicada em 1º de agosto de 2025)
Uma peça pode ganhar o palco menos de dois meses depois de a ideia ser conversada pela primeira vez? O monólogo cômico musical Bet Balanço, escrito e dirigido por Giovani Tozi para o ator Érico Brás, prova que sim. Enquanto muitos projetos levam até anos para sair do papel, a dupla peitou o desafio de se bancar sozinha, e o resultado pode ser visto no Teatro Itália a partir deste sábado, dia 2, às 23h. “É o horário popularizado pelos stand-ups, mas não se trata de um stand-up, ok”?, avisa o autor e diretor.
No fim de maio, Tozi aproveitava férias nos Estados Unidos quando Brás lhe fez uma ligação. O ator tinha terminado as gravações da novela Mania de Você, da Globo, e queria voltar ao teatro. O seu último espetáculo, o musical O Frenético Dancin’Days, dirigido por Deborah Colker, saiu de cena em 2019, antes da pandemia. “Avisei o Giovani que gostaria de falar sobre ambição, a vontade de ganhar dinheiro fácil e de quanto vale a ética de cada um”, conta o ator. “Não tenho a ilusão de acabar com o capitalismo, mas achei que esse tema poderia render algo legal.”

Tozi se lembrou do conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis (1839-1908), que, em 1881, criou uma história próxima ao universo dos influenciadores digitais da atualidade. É uma conversa entre pai e filho sobre o fato de que, em uma sociedade fútil, aparentar ser rico é mais importante que ter dinheiro. Em uma semana, o argumento ganhou um esboço de dramaturgia e nasceu Jurandir, o protagonista de Bet Balanço.
É o mesmo nome do personagem da série Tapas e Beijos, exibida pela Globo entre 2011 e 2015, que popularizou Brás na pele do malandro carioca envolvido com Sueli (papel de Andrea Beltrão) e Bia (a atriz Malu Rodrigues). Tozi garante que é uma homenagem. Para o intérprete, o batismo pode ser justificado por um conceito mais amplo, além de uma mera citação a um tipo conhecido. “Vejo muitos Jurandir por aí como a representação do típico brasileiro, o cara preto e pobre, que vive no limiar de se dar mal, mas acredita que logo vai aparecer a chance de se dar bem”, explica Brás.
O Jurandir da vez acredita que pode se tornar um influenciador digital, mesmo com cerca de 3 mil seguidores. Envolvido em um incidente, ele viraliza e mais de 3 milhões de pessoas passam a acompanhá-lo nas redes sociais. É chegada a hora de capitalizar com o engajamento e vem o convite para anunciar uma casa de apostas.
O anti-herói brasileiro dribla crises de consciência e, incapaz de resistir ao cachê, se assume como divulgador dos jogos eletrônicos. “O Brás fica bem livre para comentar notícias da semana, conversar com a plateia e deixar o público naquela dúvida de ‘será que eu não faria o mesmo?’”, antecipa Tozi. “O fato dele ainda cantar o aproxima mais do espectador.”
O pianista Rafael Gama e o baterista Gabriel Ferrara oferecem o suporte para o ator soltar a voz em dez canções, como Beleza Pura (Caetano Veloso), Pecado Capital (Paulinho da Viola), Bete Balanço (Cazuza/Frejat) e O Mundo É um Moinho (Cartola), além de Sorte Grande, sucesso de Ivete Sangalo composto por Lourenço.

Cantar para o protagonista não representa risco ou novidade alguma. O ator, que se profissionalizou no Bando de Teatro Olodum, coletivo dirigido por Marcio Meirelles em Salvador, chegou a participar – e se destacar – da primeira temporada do reality show Popstar, produzida pela Globo em 2017.
Ao contrário do personagem de Bet Balanço, Brás é um defensor do estudo e não sonha em ver o dinheiro cair do céu. É bem categórico até quando afirma que rejeitaria um convite para se isolar na casa do Big Brother Brasil. “Acho preocupante essa ilusão dos influenciadores que não pensam em como se sustentarão daqui a quatro ou cinco anos”, declara. “Hoje, eles até podem ganhar dinheiro e empurrar alguns atores para o limbo, mas são completamente descartáveis.”
Quem também tem o trabalho como nome e sobrenome é Giovani Tozi. Ator, produtor, diretor e dramaturgo, o artista é um dos nomes mais frequentes da cena paulistana na última década e enfileira espetáculos no currículo. Em abril, ele colocou em cartaz em São Paulo o monólogo Não se Mate, protagonizado por Leonardo Miggiorin, e, neste final de semana, além de Bet Balanço, estreia o musical Aqui Jazz, com Felipe Hintze, Camilla Camargo, Nando Pradho e Marcus Veríssimo.
Na gaveta, Tozi tem o solo Tá Lindo!, escrito para o ator Leandro Lima, que espera uma brecha nas novelas que tem emendado para colocá-lo no palco. Em janeiro, está confirmada a estreia de Dois Patrões, uma adaptação própria de Arlequim, Servidor de Dois Patrões, clássico da commedia dell’arte do italiano Carlo Goldoni, dirigida em parceria com Neyde Veneziano.
“Acredito que cada projeto se conecta ao seu tempo e como vou esperar dois anos para montar uma peça se nem sei como ficará o mundo até lá?”, diz. “Encontrei o Brás no Prêmio Bibi Ferreira no ano passado e, como o nome dele ficou na minha cabeça, estamos aqui juntos, falando de um assunto do momento.”
Serviço
Bet Balanço
Teatro Itália. Avenida Ipiranga, 344
Sábado, 23h. R$ 80
Até 30 de agosto (estreia em 2 de agosto)
