Comédia escrita por Jô Bilac chega ao Teatro Procópio Ferreira para comemoras os 40 anos de carreira da atriz
Por Ubiratan Brasil
Para festejar os 25 anos de casamento, H e M recebem um presente dos filhos: um cruzeiro em direção ao Caribe. Ao contrário de alguns casais, eles seguem sexualmente ativos e até com uma certa compulsão sexual. Assim, depois de transarem impunemente em diversas áreas públicas do navio, são flagrados por câmeras de segurança fazendo sexo na proa. Com isso, H e M são gentilmente “convidados” a desembarcar em uma praia colombiana, onde são alojados em um apartamento com um casal de mochileiros, que vive com o dinheiro conquistado em um canal “caliente” da internet, no qual fazem sexo com parceiros pescados em apps de relacionamento.
“Eu queria uma comédia para festejar meus 40 anos de carreira”, conta a atriz Drica Moraes, que vive M na peça Férias, que estreia no Teatro Procópio Ferreira. Escrito por Jô Bilac a pedido da atriz, o espetáculo é dirigido por Enrique Diaz e Débora Lamm. Ou seja, a essência é a busca do riso do espectador. “A grande sacada da peça é que esse casal é extremamente criativo, pois inventa a realidade, e a dramaturgia usa os atores como autores da própria história. Os personagens estão sempre reescrevendo uma nova narrativa para a própria vida, como em um teatro”, completa Drica.
Ela divide o palco com Fábio Assunção – juntos, eles vivem todos os papéis, desde o casal M e H, como o capitão do cruzeiro, a dona do apartamento do Airbnb e X e Y, os jovens colombianos que desafiam os brasileiros a participarem do negócio. Como querem aproveitar a vida, H e M se metem em outra enroscada. Resultado: vão parar na delegacia.
“Não sei o que é ficar 25 anos casado e acho que nunca saberei. Eu tenho inveja desses que conseguem, que são felizes”, comenta Assunção, de 52 anos e que viveu dois enlaces. “Meus casamentos foram catastróficos. Ou quase. Casamento é algo difícil, muito pessoal. A minha vida também nunca teve uma rotina. Acredito que o casamento demanda uma certa estabilidade de agenda. Mas é muito difícil. No ano passado, fiquei no Ceará durante 65 dias filmando Motel Destino (de Karim Aïnouz). Para essa peça, passei um mês e meio no Rio ensaiando, só agora voltei. É uma peculiaridade da minha profissão estar cada hora em um lugar. Quando estou trabalhando, entro em imersão profunda, quase não uso o celular. Há pessoas que são mais empáticas com as outras e conseguem entender quando o outro está em um momento mais difícil. Situações do cotidiano mesmo. A mágica é essa, mas comigo não aconteceu.”
“Eu queria falar sobre casais contemporâneos, em uma comédia com alma e reflexão, que não fosse de humor inconsequente. Ela fala de um homem e uma mulher na faixa dos 50, é sobre sexo e prazer, sobre o tempo, a relação com dinheiro, filhos e o mundo moderno“, conta Drica, que esperava voltar logo aos palcos.
Em 2010, logo após fazer 40 anos, ela descobriu uma doença grave e rara, a leucemia mieloide aguda. A atriz fez quimioterapia, perdeu os cabelos e ficou meses à espera de um doador de medula óssea, já que os seus irmãos não eram compatíveis. Encontrou em um eletricista chamado Adilson, de Presidente Prudente, por quem ela desenvolveu um carinho muito grande.
“Exatamente hoje (terça-feira, dia 4) faz 14 anos que fiz o transplante, como se fosse o plantio de uma sementinha“, conta, emocionada. “No dia, nem consegui comemorar, cheia de dor combatida com morfina.” O fato reordenou sua carreira. “Passei a ter mais consciência dos meus limites e das minhas potências. Agora, faço escolhas mais pensadas sobre qual trabalho posso pegar, qual carga horária estou disposta a enfrentar.”
Outro fator determinante é o filho Mateus, de 15 anos, que Drica adotou ainda bebê. Como mãe solo, ela reforçou seu olhar mais seletivo e também evita a exposição do rapaz, buscando uma discrição na rotina particular. “Também sempre tentei ser discreto, mas não consegui”, comenta Assunção. “Sempre houve muita exposição, intromissão na minha vida. Minhas relações ficam expostas, assim como meus filhos. É como se a sociedade também participasse da sua vida. Busco hoje realmente separar a pessoa física da jurídica. Preservar mesmo o namoro, os filhos.”
Fabio e Drica dividem o palco pela primeira vez, mas já contracenaram como um casal na série de comédia A Fórmula, da TV Globo, em 2017. Esta é a primeira comédia estrelada pelo ator em mais de dez anos.
Assim com Drica, ele enfrentou problemas ligados à saúde. Em 2008, ele se internou para tratar do vício em cocaína e abuso de álcool, e teve uma recaída que se tornou pública em 2017. “Eu preferia não ter passado por esses momentos, mas agora vejo como algo positivo. Tive muitos ganhos pessoais como desenvolver um autoconhecimento que me permite investigar e entender meus limites.”
Serviço
Férias
Teatro Procópio Ferreira. Rua Augusta, 2823
Sexta e Sábado, 21h. Domingo, 18h. R$ 140
Até 4 de agosto (estreia 7 de junho)
