Com estreia no dia 30 no Sesc Ipiranga, “Quim & Tal”, do grupo Maracujá, é uma divertida volta às antigas infâncias criativas e tem a missão de mostrar aos pais e avós de hoje o quanto eles precisam brincar mais com suas crianças
Por Dib Carneiro Neto
Dois palhaços velhos buscam objetos e brinquedos deixados em quintais, para criar e relembrar de jogos e séries de TV das suas infâncias, como forma de manter vivas suas memórias. Esse é o ponto de partida do espetáculo Quim & Tal, que o grupo Maracujá Laboratório de Artes estreia no dia 30 no Sesc Ipiranga. Os dois palhaços em cena são Guto Togniazzollo e Sidnei Caria, este último também o dramaturgo, diretor de arte e autor das canções originais.
O grupo Maracujá é velho conhecido do público paulistano. Em 2025 completa 20 anos de existência. Uma equipe animada, que já criou nove espetáculos durante sua bem-sucedida trajetória em São Paulo. São eles: As Aventuras de Bambolina, Rabisco – Um Cachorro Perfeito O Buraco do Muro; E.Terra ; SPon SPoff SPend, Nerina – A Ovelha Negra; Sonhei que era Gulliver; Quim & Tal e Vacamundi. Sem dúvida, uma companhia sólida, sempre preocupada em garantir qualidade nos palcos para públicos de todas as idades.

“Pensando na velocidade dos jogos eletrônicos disponíveis na atualidade, a encenação buscou dinâmicas que valorizassem o encontro de amigos para brincar e a importância do contato com o quintal, com a rua, com o mundo desprotegido da infância”, diz a premiada Cris Lozano, diretora convidada pelo grupo. “Miniaturas, máscaras, conduítes, telas, teatro de sombras vão construindo um quebra-cabeça, as narrativas do brincar. A ideia é contagiar as crianças da atualidade com o desejo do brincar presencial, sair das telas restritas e colocar o corpo em forma de imaginação e criação de novos mundos.”
“Queremos mostrar que a Maracujá continua valorizando muito a força da imaginação e segue querendo misturar linguagens e técnicas, formas de contar as histórias”, completa Sidnei Caria. “São vinte anos de trajetória perseguindo isso tudo para o público infantil. E também queremos, com Quim & Tal, continuar na linha de atrair o interesse dos adultos – que eles possam ver e se lembrar do quanto brincavam em suas infâncias.”
Séries antigas de televisão, cinema mudo, os mais variados super-heróis, cachorros, sombras, um varal, um lençol e um quintal – o divertido Quim & Tal tem tudo isso e muito mais. “A mistura de personagens clássicos remete ao quanto a gente gostava de brincar assim na infância, fingindo ser os personagens, chamando os amigos no nosso quintal para cada um ser um super-herói”, comenta Caria. “É uma mistura que parece ser aleatória, Robinson Crusoé com Lobisomem, seriados antigos de TV com Harry Potter, e assim por diante. Mas é que esses personagens vão surgindo no fluxo de memória embaralhada dos dois palhaços velhos em cena. Um convida o outro para brincar, exatamente como era nos nossos quintais de antigamente.”

Dentro dessa proposta, a linguagem de palhaçaria não poderia faltar. “O humor contribui muito com o desenvolvimento linguístico da criança, a forma de se comunicar e se sociabilizar”, explica Sidnei Caria. “Brincadeiras de duplo sentido ou surpresas que acabam em situações jocosas – isso tudo se fixa muito na cabeça de uma criança. Se a criança ri de algo, demonstra que ela entendeu a cena.”
Caria aponta duas frentes desafiadoras na realização de Quim & Tal: “O desafio da proposta é mostrar para pais e avós o quanto o uso de tecnologia na infância chegou em um ponto muito grave. Queremos que os adultos reflitam sobre o quanto eles precisam brincar mais com as crianças. E o meu desafio pessoal é conseguir fazer nossa companhia continuar firme e forte, resiliente, insistente. O espaço para realizar novos trabalhos vai se fechando conforme o grupo vai amadurecendo e virando veterano. O etarismo traz consequências. As pessoas acham que um artista sessentão já não tem mais projetos, já não tem mais vontades.”
“O brincar é como imitar a vida com inocência e com uma riqueza imensa de criatividade, ludicidade, fantasia”, define lindamente Sidnei Caria. “As regras das brincadeiras ensinam limites, comportamentos, vão lapidando essa criança para a vida. Além disso, a criança vai criando habilidades físicas que não tinha. O corpo se desenvolve, amadurece, a partir das brincadeiras mais ativas. Tudo pode virar brincadeira proveitosa. Ir para a cozinha fazer um bolo com os pais é brincadeira também. Arrumar os brinquedos espalhados pela sala também pode ser lúdico. E assim seguimos.”
Serviço
Quim & Tal
Sesc Ipiranga. Rua Bom Pastor, 822
Domingos, 11h. R$ 40 – Grátis para criança até 12 anos
Até 27 de abril (estreia 30 de março)