O melhor do teatro está aqui

1

Denise Stoklos retorna ao clássico “Mary Stuart”

Sinopse

Espetáculo de 1987 que lançou a linha estética criada pela atriz e batizada de Teatro Essencial ganha o palco do Teatro Estúdio, em horários alternativos

Por Ubiratan Brasil (publicada em 6 de agosto de 2025)

Denise Stoklos já era uma artista com carreira consagrada quando partiu para os Estados Unidos em 1987. Na bagagem, carregava a experiência de ter sido dirigida por Ademar Guerra, Antunes Filho, Luiz Antônio Martinez Corrêa e Fauzi Arap. Sob a batuta de Antônio Abujamra, participou do solo Um Orgasmo Adulto Escapa do Zoológico, de Dario Fo e Franca Rame, conquistando grande repercussão especialmente pelo uso de soluções mímicas e clownescas.

Foi nos EUA, porém, na Nova York daquele 1987, no lendário Café La MaMa, que Denise criou e estreou Mary Stuart, espetáculo em inglês que se tornou lendário por não só servir de trampolim para sua projeção internacional como principalmente por sedimentar uma linha estética criada pela atriz e batizada de Teatro Essencial. Exatos trinta anos após sua última temporada em São Paulo, o espetáculo está de volta, agora no Teatro Estúdio, em horários alternativos. Feliz oportunidade para se comprovar a atualidade do trabalho.

Denise Stoklos em cena do solo Mary Stuart. Foto Ariel Cavotti

O que seria exatamente o Teatro Essencial? Em linhas gerais, seria uma linguagem radical ancorada na presença solitária do ator no palco, que utiliza unicamente sua voz e o gestual como recursos expressivos. O Teatro Essencial poderia ser definido também como um teatro da potência do ser humano e, entre seus princípios, está o tratamento de temas universais.

Em cena, dispondo apenas de uma cadeira e iluminada por somente uma luz, Denise se desdobra entre dois personagens, as primas Mary Stuart e Elizabeth I que, há 400 anos, travaram uma batalha sangrenta pelo trono inglês. A partir do texto clássico de Friedrich Schiller, ela ela transforma a disputa em uma metáfora para explorar temas universais como poder, opressão e liberdade. Não se trata, porém, de um drama – o equilíbrio entre tragédia e comédia permite à montagem construir um discurso politicamente agudo, sem ser de modo algum panfletário e sem perder seu alcance sensível e reflexivo.

“Tudo o que Mary Stuart sofre se baseia na afirmação de que o poder aniquila as relações humanas. Para mim, como mímica e atriz, isto é ótimo, pois minha preocupação central é com o poder, as injustiças sociais, os comportamentos padronizados e todos os males que isso causa”, afirma Denise, que não oferece uma interpretação dramática no sentido tradicional: ela comprova que o ator tem potencial para criar o que quiser onde e como estiver.

No palco, a intérprete cria imagens cênicas inesquecíveis, executadas por uma partitura que articula gesto e palavra com liberdade e criatividade desconcertantes. Uma linguagem teatral fundada sobre princípios que vão além da simples definição de solos com recursos de mímica e acúmulo de funções: na maioria deles, Denise Stoklos dirige, atua, cria a cenografia e o texto.

Denise Stoklos em imagem de divulgação da estreia de Mary Stuart, em 1987. Foto Isla Jay

Depois de uma aclamada estreia, com direito a uma entusiástica crítica do jornal The New York Times, Mary Stuart chegou ao Brasil em 1987, quando estreou no Teatro Cultura Artística, em São Paulo. No ano seguinte, seguiu para o Rio de Janeiro, onde já era admirada – seis anos antes, o crítico Yan Michalski, do Jornal do Brasil, já observava que, “por trás do resultado convincente, está não só uma inteligência criativa, mas também uma técnica segura e variada”.

Michalski continuou: “Gestos nítidos, precisos, desenhados com elegância; um domínio do corpo que permite extrair efeitos surpreendentes desse fundamento da gramática mímica que é a variação rítmica; um rosto expressivo, versátil, capaz de intensas mutações; e uma arguta escolha dos poucos objetos usados como apoios, quer se trate de máscaras ou de objetos de uso cotidiano transformados em símbolos”.

Depois do Rio de Janeiro, Denise Stoklos iniciou uma histórica circulação internacional, levando Mary Stuart para mais de 30 países e sete idiomas. “Remontar repertório sempre cria a oportunidade de oferecer ao público a possibilidade de revisitar uma peça e aos novos públicos mesmo de assisti-la pela primeira vez. E para mim é um grande exercício positivo em todos os sentidos”, comenta Denise que, em 2025, comemora 75 anos de vida e 57 de carreira.

Serviço

Mary Stuart

Teatro Estúdio. Rua Conselheiro Nébias, 891

Quinta, 20h. Sábado, 17h. R$ 100

Até 27 de setembro (estreia 9 de agosto)

[acf_release]
[acf_link_para_comprar]

Ficha Técnica

[acf_ficha_tecnica]

Serviço

[acf_servico]