Peça estrelada por Helena Ranaldi, Patrícia Gaspar e Márcia de Oliveira resgata o cheiro, as cores e a escuta do silêncio
Por Kyra Piscitelli
Três irmãs – Madalena (Helena Ranaldi), Carminha (Patrícia Gaspar) e Teresa (Márcia de Oliveira) – vivem à margem do rio São Francisco, na cidade de Carinhanha, fronteira da Bahia com Minas Gerais. A partir do simples cotidiano dessas mulheres, a peça Cordel do Amor Sem Fim apresenta ao público uma história simples, universal e familiar para aqueles que passam a vida à procura de um sentido maior, para quem vive ou quer viver em função do amor e para quem se alimenta da difícil procura de se encontrar no outro.
Com direção de Daniel Alvim, a montagem escrita por Cláudia Barral cria um universo lúdico para trazer à cena o feminino, o destino, o tempo e a espera pela simplicidade. A partir de uma narrativa poética e da execução de canções originais, essa história de amor e esperança permeia as relações entre as três irmãs.
Aparentemente distante da realidade e das referências urbanas, as personagens conduzem a plateia rio adentro. Por vezes ingênuas e paradoxalmente grifadas em cores marcantes, elas são completamente identificáveis pelos espectadores na alegria de viver, na força da atitude, na paixão, no desejo e na saudade.
Pequeno Cais
“Em tempos difíceis de polarização, Cordel do Amor sem Fim oferece ao público a oportunidade de tentar resgatar o tempo e o verdadeiro sentido das relações humanas. Cordel resgata o cheiro, as cores e a escuta do silêncio. Estar diante desse texto, é como estar à beira de um pequeno cais à espera de uma embarcação soprada pelo vento. Cordel do Amor sem Fim é tentar encontrar o amor, é tentar encontrar-se consigo mesmo”, esclarece Daniel Alvim.
A peça ganhou diversas experiências de palco. “O Cordel trabalha em vários formatos de palco, então estamos acostumados a mudar”, comenta Alvim. “Primeiro estreou no formato arena, no Sesc Santo Amaro, o que era muito interessante. Depois, no Teatro Sérgio Cardoso, o formato era misto, metade arena, metade palco italiano. Ali, a plateia se dividia entre palco e plateia. Finalmente, circulamos por diversas cidades paulistas, na maioria das vezes no formato convencional.”
Pandemia
Durante a pandemia, como aconteceu com diversos outros espetáculos, Cordel do Amor sem Fim ganhou uma transmissão online, a partir do Sesc Santana. “A diferença é que não tínhamos o público ali e esse calor, mas estávamos presenciais no teatro com alguns poucos técnicos, cenário e a estrutura ali”, afirmou o diretor.
A reestreia coincide com o lançamento do longa-metragem Cordel do Amor sem Fim, também produzido por Helena Ranaldi e Daniel Alvim, que estreia no Festival Internacional de Nova York e Miami, em setembro.
Segundo Alvim, a transposição do teatro para o cinema foi interessante e ele ressalta que, embora os roteiros sejam os mesmos e assinados por Cláudia Barral, o cinema aposta na imagem enquanto o teatro trabalha no campo da imaginação.
“No cinema, temos o roteiro com as imagens; no teatro, cada um imagina da sua maneira”, diz o diretor. “Por exemplo, quando falamos sobre a fronteira de Minas Gerais com a Bahia, no teatro o público é convidado a imaginar, enquanto no cinema a imagem é necessária. O mesmo acontece com o Rio São Francisco: sua cor e o tamanho de seu leito são sugeridos, mas, no cinema, a imagem real é que faz a diferença.”
Serviço
Cordel do Amor Sem Fim
Teatro Centro Cultural Fiesp – Ruth Cardoso
Avenida Paulista, 1313
Até 3 de setembro.
Sextas e sábados, às 20h, e aos domingos às 19h.