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“Copo Vazio”, livro de Natalia Timerman, ganha a cena como metateatro para falar de responsabilidade afetiva

Sinopse

O espetáculo, dirigido por Bruno Perillo e protagonizado por Carolina Haddad e Vinícius Neri, mostra uma mulher abandonada pelo namorado 

Por Dirceu Alves Jr.

Várias escritoras brasileiras despontaram nos primeiros anos da década de 2020. Entre elas se destacam Aline Bei, Carla Madeira, Natalia Borges Polesso e Natalia Timerman. Em comum, estas vozes tratam de transformações sociais e comportamentais, vinculados ao momento político, ao feminismo e às influências externas, como as redes sociais. É de Natalia Timerman, autora e psiquiatra paulistana, o romance Copo Vazio, lançado em 2021, e que, depois de vender 31.000 exemplares, ganha adaptação para os palcos.

Sob a direção de Bruno Perillo, o espetáculo Copo Vazio recebeu formato teatral pelas mãos da dramaturga Angela Ribeiro e tem como protagonistas a atriz Carolina Haddad e o ator Vinícius Neri. A montagem, que estreia nesta sexta, 31, no Sesc Belenzinho, enfoca a superficialidade dos relacionamentos em tempos de aplicativos.

Cena de Copo Vazio com Carolina Haddad e Vinícius Neri. Foto Bruna Massarelli

Mirela é uma arquiteta bem-sucedida que mergulha em dúvidas e perturbações ao ser abandonada por Pedro, com quem namorou três meses. Ele desaparece sem justificativa e, na visão dela, tampouco o romance dava sinais de desgaste. “Muitas amigas comentaram comigo sobre o livro e falavam que já tinham vivenciado situações parecidas com a da personagem”, comenta a protagonista e idealizadora do projeto. “Eu criava imagens na minha cabeça a cada página que lia e pensei que precisava levar essa história para um outro lugar, que, no meu caso, só poderia ser o teatro.”

Carolina diz que Natalia não criou só mais uma entre tantas histórias de relacionamentos frustrados, mas, através de um ponto de vista contemporâneo, aborda como se lida com a responsabilidade afetiva. “A gente tem a falsa impressão de que hoje todo mundo está próximo e acessível, só que é fácil alguém te bloquear e você ficar sem a menor pista dessa pessoa” justifica a intérprete. A ilusão do mundo virtual gerou expectativas em Mirela que talvez Pedro não tenha se sentido capaz de cumpri-las e, quem sabe, até por defesa, ele escapou do diálogo. “Por todas as heranças culturais, os homens não conseguem falar sobre assuntos difíceis ou assumir sentimentos e fica mais fácil sumir mesmo”, completa a artista.

Para encenar a prosa de Natalia, Angela criou uma dramaturgia apoiada em uma metalinguagem que coloca uma outra peça em processo dentro da própria peça. Assim, Carolina e Neri representam dois atores em busca da compreensão dos personagens Mirela e Pedro para melhor interpretá-los. “Realizar uma adaptação é sempre complexo, e a Mirela pode ser amada ou odiada, mas ela é fruto de uma construção social, da ideia do amor romântico, enquanto o Pedro não pode ser demonizado, porque é um homem que carrega o medo de amar, de errar e está acostumado a se isolar”, justifica Angela.

Carolina Haddad e Vinícius Neri em Copo Vazio. Foto Bruna Massarelli

Assim como Natalia Timerman, de 43 anos, Carolina e Angela fazem parte de uma geração que busca a ampliação dos significados dos seus discursos. A atriz, de 39 anos, nasceu no Rio de Janeiro, morou oito anos na França, passou um tempo no Bahia e vive em São Paulo desde 2018. Na cidade, ela participou dos espetáculos Chernobyl e O Beijo no Asfalto, os dois dirigidos por Bruno Perillo, e, com Copo Vazio, investe em projeto artístico mais maduro. “É importante estabelecer um diálogo entre diferentes linguagens, como, neste caso, o teatro e a literatura, porque um alimenta o outro”, declara. “Nós deixamos tudo em aberto, queremos que o público saia questionando até mesmo quem abandonou ou foi abandonado e talvez queira buscar mais respostas no livro da Natalia.”

A paraense Angela Ribeiro, de 48 anos, é contemporânea de, entre outras, Dione Carlos, Michelle Ferreira e Silvia Gomez, autoras que, na última década, assinaram títulos expressivos da cena paulistana. Com passagem pelo Círculo de Dramaturgia do CPT do diretor Antunes Filho, Angela ganhou reconhecimento com a peça Refluxo, que lhe deu o Prêmio Shell em 2018, e comprovou a capacidade de superar o chamado lugar de fala no recente Chroma Key, um texto contundente sobre os conflitos do universo masculino. “O que me interessa é abrir espaço para o debate e prezo muito a escuta na hora de desenvolver uma obra”, diz. “Claro que sou uma feminista, mas existem maneiras e maneiras de transformar uma sociedade e tudo precisa ser feito de forma humanizada e sem maniqueísmos.”  

Serviço

Copo Vazio

Sesc Belenzinho. Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho.

Sexta e sábado, 21h30; domingo, 18h30. R$ 40.

Até 23 de junho. A partir de sexta (31).

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Ficha Técnica

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Serviço

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