O espetáculo traz Matheus Nachtergaele, Elcio Nogueira Seixas e Renato Borghi no elenco, com direção de Diego Fortes
Por Fabiana Seragusa
O que Caetano Veloso tem a ver com Molière? No espetáculo dirigido por Diego Fortes, a conexão é forte. “Tem um argumento sensacionalista que eu tentei emplacar no passado, mas ninguém me deu bola. Dizia eu que considero que Caetano está para a língua portuguesa assim como Molière está para o idioma francês”, explica o diretor, que também assina a adaptação da obra da mexicana Sabina Berman.
“Quanta palavra, expressão e tempo verbal eu aprendi com a obra dele! Que nós aprendemos. Quanta referência ácida a nossa realidade e a nossa elite!”, continua Diego, que destaca que a peça dificilmente seria a mesma sem começar com “Odara” ou sem as transições com “Trilhos Urbanos”, “De Noite na Cama”, “O Ciúme”, “O Estrangeiro” e “Circuladô de Fulô”, entre outras canções.
“Molière” volta a São Paulo após cinco anos, agora no Teatro Liberdade, depois de uma turnê no Rio de Janeiro e pelo Nordeste. Na história, acompanhamos, de forma bem-humorada, uma disputa entre a Comédia, representada por Molière (papel de Matheus Nachtergaele), e a Tragédia, simbolizada pelo poeta Jean Racine (Elcio Nogueira Seixas). Já Renato Borghi interpreta o Arcebispo de Paris, Monsenhor Péréfixe, que aproveita esse embate para tentar banir o teatro e os artistas do reino. Ao, todo, são 14 atores e atrizes em cena.
“Este texto é muito engenhoso”, diz o diretor. “Logo de cara, percebi o quanto ele se parecia em estrutura e tom com ‘Amadeus’, de Peter Schaffer, mas com Molière e Racine no lugar de Mozart e Salieri. Com a grande diferença que, lá, Salieri tinha inveja do talento de Mozart, mas na peça mexicana o que move a rivalidade é provocada pelo arrivismo de Racine, dado que ambos são grandes autores. Também há essa luta entre a Comédia e a Tragédia, que é muito interessante e penso que a autora soube dosar bem as viradas da história.”
Segundo Diego, o texto é permeado por elementos com os quais adora trabalhar, como metalinguagem, excessos e oscilação entre o registro cômico e o dramático, recursos também utilizados de forma magistral em “O Grande Sucesso”, outra obra sua, pela qual recebeu o Prêmio Shell em 2017 como melhor autor. Desta peça, inclusive, veio parte do elenco e da ficha técnica de “Molière”, como é o caso de Gilson Fukushima, diretor musical.
Fusões de linguagens em “Molière”
“A linguagem do espetáculo foi se construindo a partir da ideia de tocar no Tropicalismo. E eu, muito tiete, estava deslumbrado com a presença do Renato. Então, minha cabeça foi para ‘O Rei da Vela’, o Teatro Oficina, o movimento artístico brasileiro daquela época que supunha exatamente a fusão de linguagens”, conta Diego.
Ele revela, ainda, que o que tornou o convite para o projeto irresistível foi exatamente a possibilidade de trabalhar com Renato Borghi, antes mesmo de saberem que Nachtergaele faria o papel-título. “O Renato é um ator incrível: sofisticado, constante, metódico e surpreendente. Acho que conseguimos formar um dos elencos mais geniais que eu já vi. E mesmo depois de alguns anos, tivemos muita sorte nas substituições.”
Ainda sobre a mistura de linguagens utiliza na peça, o diretor reforça o fato de que o próprio Molière foi um artista de fusões. “Na França do século XVII, quando estava na moda os dramas burgueses e as comédias de costume, ele lançou mão do Teatro Dell’Arte, com sua linguagem mais debochada e popular, e criou uma terceira coisa. Um novo paradigma para aquele momento”, explica.
“Também era uma forma criativa de nos afastarmos de qualquer tentativa de emular uma espécie de teatro francês de época, tal qual nosso imaginário possui e que nossas especificidades certamente trairiam. Nossa vontade sempre foi a de criar nosso próprio jeito de contar essa história.”
Data: Até 26/11/23
Horário: Sextas e sábados à 21h00 e domingos às 20h00
Duração: 120 min
Gênero: Musical
Classificação: 12 anos
End: Rua São Joaquim nº129 – Liberdade – São Paulo
Local: Teatro Liberdade