Musical traz Vanessa da Mata no papel da cantora que popularizou o samba quando músicas internacionais dominavam as rádios
Por Ubiratan Brasil
A voz cristalina era uma de suas principais qualidades, mas, acima de tudo, Clara Nunes (1942-1983) ajudou a quebrar uma importante barreira no mercado de música: a de que cantoras não vendiam discos – ela chegou a vender 100 mil cópias de apenas um lançamento. Também ajudou a popularizar o samba em uma época em que as emissoras de rádios privilegiavam cantores internacionais. É sobre essa importante personagem que trata o musical Clara Nunes – A Tal Guerreira, em cartaz no Teatro Bravos, localizado no Complexo Aché Cultural, que também abriga o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
Com direção de Jorge Farjalla e Vanessa da Mata no papel principal, o espetáculo acompanha a trajetória da mineira Clara Francisca Gonçalves Pinheiro que, aos 6 anos já era órfã de pai e mãe, foi criada pelos irmãos. Cresceu ouvindo Carmem Costa, Ângela Maria e, principalmente, Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira, das quais sempre teve muita influência. Logo, porém, foi moldando a voz potente e cristalina, que a tornaria única na música brasileira.
Nos anos 1960, por influência do produtor musical Cid Carvalho, adotou o nome artístico de Clara Nunes. Viveu até 1965 em Belo Horizonte, onde chegou a comandar um programa na TV local. Decidida a conseguir mais projeção, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se apresentou em escolas de samba, clubes e casas noturnas do subúrbio carioca, onde acabou conhecendo terreiros de religião de matriz africana, optando por deixar o kardecismo e converter-se ao candomblé.
Inicialmente cantava rumbas e boleros, mas logo aderiu ao samba até se firmar, em 1972, como grande intérprete do gênero. Logo, gravou canções de grandes compositores da MPB como Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulo César Pinheiro, Chico Buarque, entre vários outros. “Interpretar esse ícone brasileiro, é uma imensa responsabilidade”, comenta Vanessa da Mata, que é substituída por Badu Morais nas sessões em que a cantora tem shows previamente marcados.
“Construir e dirigir esse espetáculo é um dos maiores orgulhos de minha carreira. Eu, junto de meu parceiro André Magalhães, fizemos uma vasta pesquisa em toda a carreira de Clara Nunes”, conta Farjalla. “Sua carreira fonográfica e cênica são, sem dúvida alguma, riquíssimas. Durante esse processo, tivemos a ideia de compor suas letras e músicas geniais de uma forma diferente da tradicional do teatro musical. No espetáculo, elas serão inseridas de duas maneiras: como momentos solos e únicos, mais tradicionais do gênero teatral, mas também como trechos específicos, compondo diálogos e cenas.”
A morte veio prematuramente. Em 5 de março de 1983, submeteu-se a uma cirurgia de varizes e teve reação alérgica a um componente da anestesia. Clara sofreu uma parada cardíaca e permaneceu durante 28 dias internada, no Rio. Na madrugada de 2 de abril do mesmo ano, a quatro meses de seu 41º aniversário, foi declarada morta em razão de choque anafilático. O corpo foi velado por mais de 50 mil pessoas na quadra da escola de samba Portela. O sepultamento no Cemitério São João Batista foi acompanhado por uma multidão de fãs e amigos.
Serviço
Clara Nunes, A Tal Guerreira
Teatro Bravos. Rua Coropé, 88, Pinheiros
Sextas, 21h. Sábados, 17h e 21h. Domingos, 16h e 20h. R$ 150 / R$ 300
Até 29 de setembro