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Mostra SCENA reúne panorama italiano que discute as tensões do presente

Terceira edição do evento apresenta ‘Sátiros’, da Compagnia Virgilio Sieni, ‘O Presente Não Basta’, de Silvia Calderoni e Ilenia Caleo, e ‘CA-NI-CI-NI-CA’, de Greta Tommesani 

Por Malu Barsanelli

Uma espécie de “nostalgia do futuro” percorre os trabalhos que compõem a SCENA – Semana da Cena Italiana Contemporânea. Seja pela dança, pela comédia ou pela performance, a programação desta terceira edição da mostra, que acontece de 5 a 10 de dezembro no Sesc Pompeia, em São Paulo, busca responder a temas caros do presente, como a ascensão conservadora que se vê mundo afora. Debruça-se sobre nossos tempos, sempre de olho num futuro mais esperançoso.

“A SCENA mantém, como nas edições anteriores, seu formato e o desafio de condensar, em uma semana, um recorte que dê conta do que tem sido experimentado e consolidado nos últimos anos nas artes cênicas italianas”, diz a curadora Rachel Brumana. Na primeira edição, em 2019, a mostra focou trabalhos de vanguarda do país, e na segunda, em 2022, a produção artística feminina. Agora, ressoa a insegurança de um mundo que vê recrudescer regimes e relações de opressão.

Cena da peça Sátiros. Foto de Virgilio Sieni

“Se é difícil definir a complexidade de um país, seja o Brasil ou a Itália, a partir de traços culturais ou geopolíticos, a arte tem a possibilidade de se aproximar de muitas questões propondo perguntas nem sempre literais”, continua a curadora.

De fato, os três espetáculos presentes na programação, todos inéditos no Brasil e criados muito recentemente (entre 2022 e 2023), transitam por caminhos muito diversos para abordar a política e a sociedade atuais. A mostra procura, assim, comunicar-se com públicos diversos e explorar “a diversidade de linguagens nas artes cênicas, hibridismos e contaminações”, segundo Brumana.

Em “Sátiros (Satiri)”, a companhia Virgilio Sieni bebe na mitologia para encontrar formas de compreensão e empatia. A coreografia de Sieni, um dos nomes mais experimentais e reconhecidos da dança na Itália, traz dois bailarinos em gestos contíguos, como se buscassem uma espécie de democracia do corpo. Acompanhados por uma violoncelista e composições de Bach, se reconhecem em suas diferenças e semelhanças e olham para a figura do sátiro (ser metade humano, metade bode) como aquele que diz sim à vida.

Cena de CA-NI-CI-NI-CA. Foto Cosimo Trimboli

A atriz, dramaturga e diretora Greta Tommesani mescla realidade e ficção em “CA-NI-CI-NI-CA”, um monólogo que debate a precariedade das relações de trabalho, em especial do mercado de molhos de tomate. Como num solo de stand-up, a artista costura uma narrativa leve e cômica a uma profunda reflexão política. Trata do poder do mercado e da obsessão pela produtividade, que leva à resiliência e à auto exploração de trabalhadores.

Por fim, Silvia Calderoni (que apresentou o solo “MDLSX” na MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo) e Ilenia Caleo se inspiram nas experimentações da cena queer nova-iorquina dos anos 1970 e 1980 para vislumbrar futuros possíveis. Em “O Presente Não Basta (The Present Is Not Enough)”, a dupla, ao lado de um elenco de performers-criadores, cria um ambiente que remete a um armazém abandonado, carregado de um estado de excitação, mas também de um senso de comunidade, carinho por estranhos. Surge ali a liberdade de corpos diversos, sem norma.

Cena da peça O Presente Não Basta. Foto Rebecca Lena

“Uma das características da arte contemporânea é o aspecto estético político da criação. Isso permite que uma obra como O Presente Não Basta’ possa se relacionar diretamente e colocar em questão um panorama atual e discursos políticos, ainda que seja um espetáculo sem palavras. A busca dos gestos simultâneos e simétricos em uma dança em duo pode estar falando de democracia. Uma jovem Greta ativista política em cena em uma performance com elementos autobiográficos é mais do que uma simpática coincidência”, diz Brumana. 

“Penso que toda forma de fazer artístico que intencione um diálogo com a sociedade seja uma ação política. Me interessam também as decisões micropolíticas que penetram uma ideia de curadoria e  acredito que o potencial do encontro desses grupos de artistas com o nosso público não se encerre nos espetáculos, mas tenham continuidade nas reflexões que eles provocam bilateralmente”, continua.

Serviço

3ª SCENA – Semana da Cena Italiana Contemporânea

Sátiros (Satiri). 5 e 6 de dezembro, terça e quarta, às 21h

CA-NI-CI-NI-CA. 7 e 8 de dezembro, quinta e sexta, às 21

O Presente Não Basta (The Present Is Not Enough). 9 e 10 de dezembro, sábado, às 21h, domingo, às 18h

Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93. R$ 18 a R$ 60

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Malu Barsanelli

Jornalista, formada pela UnB - Universidade de Brasília. Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, G1, Galileu e Folha de S.Paulo, onde foi repórter de teatro e editora-assistente do caderno Ilustrada. Integra o júri do Prêmio Shell-SP e produz conteúdo para festivais e instituições, como Sesc-SP e MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. Atualmente, coordena a comunicação do escritório sul-americano da Pro Helvetia – Fundação Suíça para a Cultura.
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