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“As 3 Cores Primárias”, de Yukio Mishima, ganha montagem inédita no Brasil

Sinopse

Com direção de Aury Porto, peça é a primeira criação da residência artística da mundana companhia no Instituto Capobianco

Por Ubiratan Brasil (publicada em 24 de setembro de 2025)

Com uma escrita ao mesmo tempo sutil e brutal, Yukio Mishima (1925-1970) é considerado um dos principais escritores japoneses do pós Segunda Guerra Mundial. Em uma obra formada por 36 volumes, ele apresentou sua personalidade, cultivada entre fatos contrastantes que caracterizaram a história do Japão no século XX do delírio triunfante do pré-guerra à vergonha pela derrota e pela ocupação, após 1945.

Mishima foi uma febre entre as pessoas da minha geração. Ele era importante para nós, jovens gays no final da década de 1980. Ele tinha uma forte ligação com as ideias ocidentais, nos encantava com sua paixão pelo extremo das coisas, pelo perigo; nos emocionava o risco presente em sua literatura, também presente no nosso processo de autodescoberta. Além de ser um artista que conciliava uma criação sofisticada com popularidade”, afirma Aury Porto, diretor da peça As 3 Cores Primárias, primeira criação da residência artística da mundana companhia no Instituto Capobianco.

Escrito em 1955 e inédito no Brasil, o texto trata de temas como amizade, erotismo e poliamor ao acompanhar, em uma tarde quente de verão à beira mar, o casal Ken e Yoko, que recebe a visita do amigo Shun. Entre questionamentos existenciais e mergulhos no mar, uma rede de desejos sexuais entre os três personagens vai, paulatinamente, se revelando ao espectador.

Cena da peça As 3 Cores Primárias. Foto Yghor Boy

Segundo Porto, a peça é decisiva para a compreensão da estética em desenvolvimento de Mishima (pseudônimo de Kimitake Hiraoka) e da sua forma de abordar essas questões humanas e sociais. “Uma obra tão diferente de tudo que eu havia conhecido do autor, quase um anti-Mishima. O final é positivo, a obra é propositiva e utópica”, comenta.

A interpretação dos signos emitidos pelas forças da natureza ao seu redor e o amor levam o trio a tomar uma decisão sobre seu relacionamento. Eles entendem que, assim como as três cores primárias que criam todas as outras, o equilíbrio nos relacionamentos humanos encontra-se nos três.

Além de obras de ficção que focalizavam a dissolução de costumes no Japão, Mishima escreveu peças para o teatro nô e kabuki, estilos ancestrais de seu país.

Em uma viagem a Nova York, conheceu o existencialismo e desenvolveu um “niilismo ativo”, doutrina na qual o suicídio aparece como um gesto supremo para se conquistar a liberdade. Foi o que fez em uma tarde de novembro de 1970, quando praticou o harakiri, o suicídio ritual da classe dos samurais, polêmico gesto em defesa da integridade da cultura japonesa.

A questão da homossexualidade de Yukio Mishima é complexa e objeto de debates, mas o tema é recorrente e explorado na sua obra, como no romance autobiográfico Confissões de uma Máscara, que retrata um protagonista homossexual a viver sob uma “máscara” social.

André Mourão, Julianne Hamaoka e Dom Capelari, o elenco de As 3 Cores Primárias. Foto Yghor Boy

As 3 Cores Primárias, que é interpretada por Dom Capelari, André Mourão e Julianne Hamaoka, se insere em uma temática recorrente na obra literária de Mishima e presente em sua vida pessoal: o erotismo entre corpos humanos, independente de gênero. Com a peça, Aury Porto inicia a residência artística da mundana companhia no Instituto Capobianco, que contará também com a exibição gratuita de filmes alusivas ao autor japonês.

O ciclo começa no dia 7 de outubro, às 19h, com o já clássico Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos, em que o cineasta Paul Schrader traça um paralelo entre a polêmica biografia de Mishima e suas aclamadas obras, intercalando episódios reais com dramatizações de acontecimentos dos seus livros. Em 45 anos de vida, Mishima preparou o corpo e a mente para a morte que julgou a maior de todas as glórias.

Serviço

As 3 Cores Primárias

Instituto Capobianco. Rua Álvaro de Carvalho, 97

Sextas e sábados, 20h; Domingos, 18h. R$ 30

Até 16 de novembro (estreia em 26 de setembro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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