Atriz volta, agora no Teatro Bravos, com “Sra. Klein”, peça sobre a relação tóxica entre a psicanalista austríaca Melanie Klein e sua filha
Da Redação Canal Teatro MF
Foram temporadas em São Paulo, Brasília e no Rio, todas com ingressos esgotados. Agora, Ana Beatriz Nogueira, atriz de múltiplos recursos, volta à capital paulista, no Teatro Bravos, com a peça Sra. Klein, sobre casos familiares da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960). “A história é sobre uma família disfuncional, a relação tóxica entre mãe e filha. O público vai se identificar demais porque sempre há dificuldades nesses vínculos”, explica o diretor Victor Garcia Peralta, que montou esse texto na Argentina há 33 anos.
Embora ambientado há quase 90 anos, o drama do autor inglês Nicholas Wright (com adaptação brasileira de Thereza Falcão) segue atual. “É um texto muito bem feito, que remete aos clássicos em termos de estrutura, e com o qual o público se identifica demais. Eu me lembro que fiquei com a peça na cabeça desde que a vi. Pensei comigo: ‘Quando for mais velha, eu quero fazer’. A gente deseja fazer certos papeis mais velhos, com a idade da personagem, embora em teatro tudo seja possível. Só que é mais interessante estar mais madura como atriz”, comenta Ana Beatriz Nogueira, também produtora da peça.
Ela se refere às duas montagens nacionais que já ocorreram da peça: nos anos 1990, com Ana Lúcia Torre, e, em 2003, com Nathália Timberg à frente do elenco, ambas sob a direção de Eduardo Tolentino de Araújo. Detalhista, Ana Beatriz mergulhou em uma longa pesquisa sobre a obra e a personalidade da psicanalista. “Essa peça é mais sobre lidar com a vida do que com a morte, e isso inclui, claro, questões cotidianas e os lutos das nossas certezas e crenças”, explica.
Melanie vive um conflito com a filha, Melitta, vivida agora por Fernanda Vasconcellos, que direciona a peça. Durante o processo, a atriz conta ter mergulhado em estudos psicanalíticos, o que provocou muitas reflexões. Essas mulheres são muito inteligentes, mentes privilegiadas que estão lidando com suas fragilidades dentro da complexa relação de mãe e filha. Mesmo para quem já faz análise, é muito interessante e novo”, afirma.
Como Klein testou seu método psicanalítico nos dois filhos, Melitta se sente violada na sua intimidade e questiona essa mistura de vida pessoal com profissional, o que resulta em uma discussão aberta sobre intimidade. O processo é acompanhado de perto por Paula (vivida por Kika Kalache), que também é psicanalista e funciona como mediadora entre a mestra que tanto admira e a amiga Melitta. “O encontro das três é forte. A minha personagem é muito observadora, tem menos embates, pois é mais contida. Paula acaba tendo um ponto de vista da história parecido com o do público”, explica Kika.
Victor Garcia Peralta conta ter seguido um caminho mais contemporâneo nesta nova encenação. “Os figurinos da Karen Brusttolin remetem aos anos 1930, mas também dialogam com a moda de hoje. Temos três mulheres e 18 cadeiras em cena, é como um quebra-cabeça. Acho curioso que essas três analistas, tão experientes em ouvir o outro e tratar das questões de seus pacientes, não conseguem se ouvir e ver o óbvio da questão que estão enfrentando. Em muitos momentos, o humor delas sarcástico é maravilhoso”, observa o diretor.
Serviço
Sra. Klein
Teatro Bravos. Rua Coropé, 88, Pinheiros, São Paulo
Sábados, 21h. Domingos, 19h. R$ 80 / R$ 100 / R$120
Até 30 de junho. Estreia 4 de maio