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Alessandra Negrini protagoniza “A Árvore”, solo sobre a expansão feminina pela liberdade

Sinopse

Monólogo com a direção de Ester Laccava e escrito por Silvia Gomez flerta com o surreal para enfocar uma mulher em transformação

Por Dirceu Alves Jr.

A dramaturga Silvia Gomez acaba de ser indicada ao Prêmio Shell da temporada carioca por Lady Tempestade, solo interpretado por Andréa Beltrão. Foi seu primeiro monólogo a ganhar o palco, mas, antes, no começo da pandemia, ela escreveu A Árvore, que sai do ineditismo presencial em montagem dirigida por Ester Laccava para o protagonismo de Alessandra Negrini, no Centro Cultural São Paulo. O texto gerou em 2021 uma versão on-line, de impactante plasticidade, com direção compartilhada de Ester e João Wainer e, claro, a atriz diante das câmeras.

Também estreante em monólogos, Alessandra interpreta A, uma mulher trancada em seu apartamento que ganha de presente uma planta e atravessa um processo de metamorfose. Um dia, ao regar o vaso, ela se vê presa ao vegetal por um fio de cabelo e, tomada por sensações, percebe que é chegada a hora de se tornar algo que não a mulher que sempre foi.

“Usei a metáfora da planta para tratar da expansão feminina pela liberdade e não pela violência, como trabalhei naquela que tinha sido minha peça anterior, Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante”, explica Silvia. “Da mesma forma que não podemos dominar os elementos da natureza, como vamos querer controlar o corpo e as emoções de uma mulher?”

Alessandra Negrini em A Árvore. Foto Priscila Prade

Na compreensão de Ester Laccava, a personagem é uma pessoa machucada que precisa se munir de coragem para superar o fim de um relacionamento amoroso. Em sua jornada, ela experimenta os sentimentos comuns a esse tipo de luto, como a tristeza, a raiva, o medo e o estranhamento de si mesma, o que se manifesta na surreal impressão da perda da forma humana. “Ela está dilacerada, frágil, mas tem a consciência de que é um caminho sem volta e deve encarar essa metamorfose”, observa a diretora.

A protagonista complementa a colega ao lembrar que, por se tratar de um texto repleto de camadas, as questões planetárias e do meio ambiente também saltam, em sua visão, como um dos cernes da dramaturgia. “Considero era peça mais atual que nunca porque trata de assuntos que precisamos abordar, como a transformação íntima vivida por essa mulher que também pode ser coletiva e nos atravessa da infância ao fim da vida”, explica.  

Alessandra e Ester se conheceram ao contracenarem na peça Uísque e Vergonha, dirigida por Nelson Baskerville em 2019. Brotou dali uma amizade carregada de admiração que levou Alessandra a se lembrar de imediato do seu nome para a direção do projeto. Intérprete consagrada de solos, como A Árvore Seca, Ossada e Curtume, Ester era a provocação carinhosa e passível de saudáveis atritos capaz de desafiar Alessandra. “Uma das razões que me fez levar A Árvore para o palco é que queria aprofundar a minha experiência com a Ester e sentia a intuição de que só poderia ser com ela, uma atriz e criadora como poucas neste país”, reconhece Alessandra.

Cena de A Árvore, com Alessandra Negrini. Foto Priscila Prade

Ester rebate de imediato os elogios da colega e diz que essa temporada é o resultado de um trabalho intenso. Em janeiro, ela começou uma nova decupagem do texto para zerar qualquer referência da versão digital. Com a nova concepção na cabeça, a diretora e a protagonista ficaram dois meses e meio trancadas na sala de ensaios em uma rotina que ocupava, pelo menos, cinco dias da semana.

“Convenci a Alessandra de era necessário ralar porque devemos oferecer uma performance surpreendente ao espectador que chega para ver a Alessandra Negrini da televisão”, justifica Ester. “As pessoas precisam se desligar dessa imagem tão forte e enxergá-la como a personagem.”

Alessandra mergulhou na disciplina proposta pela encenadora, embora confesse que o processo não é a etapa que mais a seduz no teatro. Ela prefere estar no palco, diante do público e do jogo da luz. É o que a faz se sentir viva. A atriz garante que a energia de se colocar de forma tão pessoal no ato de interpretar é a afirmação do seu pensamento artístico. “Eu não me preocupo em provocar ninguém ou nada, é o meu jeito de sentir e fazer e o mesmo vale para uma novela, uma peça como A Árvore ou um filme do cineasta Júlio Bressane”, garante.   

Alessandra Negrini em A Árvore. Foto Priscila Prade

Se Ester e Alessandra encararam a estreia presencial de A Árvore como o começo de um trabalho, Silvia Gomez treinou um forte desapago nesta trajetória tão incomum. Depois de entender que para chegar ao audiovisual a sua linguagem passaria dor diferentes filtros, a autora deixou a concepção teatral nas mãos de Ester e sequer assistiu aos ensaios até as vésperas da estreia.

“Quando a gente tentar controlar muito as coisas, acaba se perdendo, então sinto que é importante ver como outros olhares em contato com a obra podem ser enriquecedores”, afirma a dramaturga. “A Ester e a Alessandra conheciam o texto de cabo a rabo, e o espetáculo só vai ganhar quando for invadido por camadas geradas pelas experiências delas.”

Em um percurso tão atípico, Silvia tem colhido diferentes impressões sobre A Árvore – o que comprova a importância de deixar a escrita correr solta entre outras mãos. No começo do ano, a peça foi traduzida para o espanhol e recebeu uma leitura dramática por artistas bolivianas no Encuentro Internacional de Artes Escénicas Expandidas Yvyrasacha, em La Paz, e, no início de agosto, ganhou voz no Encuentro Iberoamericano de Dramaturgia, em Bogotá, na Colômbia. “A leitura colombiana tive a oportunidade de assistir e foi linda”, conta. “Fiquei feliz de ver como a peça se comunica com as questões latino-americanas e temos pontos parecidos.”

Serviço

A Árvore

Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho. Rua Vergueiro, 1000, Paraíso

Terça a sábado, 21h; domingo, 19h. R$ 40

Até 1º de setembro. A partir de quinta (15)              

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Ficha Técnica

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Serviço

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