O melhor do teatro está aqui

2

“Afterplay” se inspira em Tchekhov para falar de melancolia e esperança

Sinopse

Peça do irlandês Brian Friel ganha montagem delicada com Bia Bologna e Luiz Eduardo Frin, no Galpão do Grupo Tapa

Por Ubiratan Brasil (publicada em 16 de dezembro de 2025)

Um dos maiores dramaturgos irlandeses do século passado, Brian Friel (1929-2015) explorou a vida social e política na Irlanda e na Irlanda do Norte, investigando os laços familiares, a comunicação e a criação de mitos como necessidades humanas, bem como as relações complexas entre narrativa, história e nacionalidade. Suas peças incluem Dançando em Lúnassa, O Fantástico Reparador de Feridas e Translations, traduzidas e encenadas em vários países, inclusive no Brasil.

Friel também traduziu de um de seus autores favoritos, o russo Anton Tchekhov, as peças Tio Vânia e As Três Irmãs, textos que influenciaram uma de suas peças mais interessantes, Afterplay, em cartaz em São Paulo.

Bia Bologna e Luiz Eduardo Frin em cena de Afterplay. Foto Ronaldo Gutierrez

Em cena, Sônia Serebryakova (papel de Bia Bologna), personagem de Tio Vânia, encontra-se por acaso com Andrey Prozorov (Luiz Eduardo Frin), de As Três Irmãs, em um café decadente da Moscou dos anos 1920. Em um espetáculo conciso e delicado, nenhum deles consegue dar um passo sem esbarrar em um antigo arrependimento. Cada um veio à cidade por motivos revelados durante o encontro e, enquanto conversam, também relembram suas histórias e expressam apreensão em relação ao futuro.

Enquanto Sonia aos poucos revela as dificuldades financeiras que enfrenta no que sobrou de sua enorme fazenda, Andrey também afasta a mentira de que é um músico de uma orquestra sinfônica para confessar que consegue alguns trocados tocando no meio da rua.

“É aquela tundra infinita de solidão, de isolamento, que se estende diante de mim”, diz Sonia. “Na maioria das vezes, consigo reunir coragem suficiente para continuar.” “Sou um grande entusiasta“, vangloria-se ele, no começo da conversa. “Minhas irmãs dizem que é da minha natureza: efervescente.”

Luiz Eduardo Frin e Bia Bologna estão na peça Afterplay. Foto Ronaldo Gutierrez

Quanto mais o espectador aprende sobre esses dois, mais percebe as mentiras que contam a si mesmos e aos outros. “A peça tem a delicadeza de quem olha para as ruínas e ainda encontra beleza. É um texto sobre a fragilidade, mas também sobre a possibilidade de encontro”, diz Frin, também diretor da montagem. “Gosto de pensar que Afterplay fala de nós hoje, de nossas tentativas de reconstruir sentido em meio ao colapso de tudo que parecia sólido”, completa Bia, responsável pela tradução.

Não é necessário nenhum conhecimento prévio de Tchekhov para entender Afterplay (nem para apreciar as atuações magistrais). “Esses dois personagens poderiam ser qualquer um de nós, assombrados por passados ​​que, com muita frequência, se infiltram no presente. ‘Uma ruptura completa com o passado – isso sim seria uma libertação’, fantasia Sonya”, escreveu o crítico do jornal The New York Times, sobre uma montagem de 2016.

Com atmosfera intimista e texto ágil, o espetáculo é encenado no Galpão do Grupo Tapa, localizado na Barra Funda – bairro eleito pelo guia britânico Time Out como o terceiro mais ‘cool’ do mundo, reconhecido por sua efervescência cultural e vida noturna. Até chegar à sala de encenação, o público passeia por salas onde estão boa parte do acervo de figurinos e peças cenográficas do Tapa, uma verdadeira viagem no tempo.

Serviço

Afterplay

Galpão do Grupo Tapa. Rua Lopes Chaves, 86, Barra Funda.

Sexta e sábado, 20h. Domingo, 19h. R$ 60

Até 21 de dezembro (estreou 31 de outubro)

[acf_release]
[acf_link_para_comprar]

Ficha Técnica

[acf_ficha_tecnica]

Serviço

[acf_servico]