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“A Filha Perdida”, inspirada em Elena Ferrante, questiona a maternidade

Sinopse

Peça adaptada do romance da misteriosa autora italiana traz uma visão ambígua em relação à responsabilidade das mães

Por Ubiratan Brasil

Não é novidade o fascínio que a escritora italiana Elena Ferrante desperta em uma legião de leitores pelo mundo com sua ficção que apresenta um senso rigoroso de tempo e espaço, sem lugar para nostalgia ou sentimentalismo. Com isso, já vendeu milhares de exemplares no planeta. Também não é novidade o fato de Elena Ferrante ser um pseudônimo de alguém misterioso que prefere o anonimato.

Diversas especulações já foram levantadas para revelar sua verdadeira identidade, mas nada foi definido. Mas, ao preferir que a obra supere a persona, ela dá o devido valor à sua escrita, o que torna cada lançamento um fato extraordinário.

Maristela Chelala, Alex Huszar e Juliana Araújo em A Filha Perdida. Foto Julio Aracack

Entre seus livros, A Filha Perdida é um dos mais conhecidos e fascinantes. Publicada em 2021, a obra ganhou uma adaptação estrelada por Olivia Colman e produzida pela Netflix e agora ganhou sua primeira montagem para os palcos brasileiros, produção da Oceânica Companhia de Teatro, no Sesc Bom Retiro.

Trata-se da história de Leda, professora de literatura que viaja sozinha para umas férias na Grécia. Lá, em um determinado dia, ela observa a jovem Nina, que parece perfeitamente à vontade no papel de mãe, brincando ao lado de sua pequena filha. Isso a obriga a encarar o passado, marcado por uma relação conflituosa com a maternidade, tanto com as filhas quanto com sua própria mãe. As duas se aproximam e o sumiço de uma boneca vai desencadear uma série de conflitos.

Juliana Araújo, Maristela Chelala e Alex Huszar em A Filha Perdida. Foto Julio Aracack

Para Ferrante, o mistério que cerca determinados atos tomados à revelia pelas pessoas faz parte da vida. A relação entre mães e filhas é mercada por amor, mas também ciúmes, hostilidade, às vezes ódio e vergonha. Todo esse emaranhado de sentimentos confusos é apresentado, no livro, em uma narrativa em primeira pessoa, o que ofereceu um desafio extra para sua adaptação para o palco.

As atrizes Juliana Araujo – também autora da dramaturgia – e Maristela Chelala dividem o palco com o ator e músico Alex Huszar, autor da trilha sonora do espetáculo que, além de interpretar os personagens masculinos, executa a trilha ao vivo. Os três se revezam nos diferentes papeis do romance, criando uma estrutura difusa de temporalidade que potencializa cenicamente as palavras de Ferrante – ora no presente, ora no passado, ora num delírio/escape da realidade. Um balé que os fará deslizar de uma personagem à outra, de um tempo-espaço a outro.

Alex Huszar, Maristela Chelala e Juliana Araújo em A Filha Perdida. Foto Julio Aracack

Além do respeito ao texto da autora italiana, o espetáculo (dirigido por Fernanda Castello Branco e Paula Weinfeld, parceiras de mais de vinte anos na Companhia Delas de Teatro) oferece um deslumbrante desenho de luz assinado por Marisa Bentivegna, que alterna projeções criadas por Sol Faganello com uma iluminação que ora destaca um personagem, ora um ambiente. Já a direção de arte, composta por adereços, cenário e figurinos, tem a assinatura e a experiência de Mira Haar.

A dupla de diretoras, que trouxe para a cena referências de filmes clássicos como Persona, de Ingmar Bergman, alterna com habilidade as sequências do passado e do presente e faz do silêncio da protagonista seu maior aliado.

Serviço

A Filha Perdida

Sesc Bom Retiro. Alameda Nothmann, 158

Sextas e sábados, 20h. Domingos e feriados, 18h. R$ 50

Até 28 de julho

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Ficha Técnica

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Serviço

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