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Arte e encantamento de saber contar histórias

Sinopse

Começa na segunda, dia 20, em dois endereços, mais um encontro gratuito Boca do Céu, reunindo contadores e narradores do Brasil e do mundo, agora em torno do tema ‘Aproximações do Encantamento’

Por Dib Carneiro Neto

Convidados de nove países em sua 13ª edição. Cerca de 60 atividades como oficinas, conversas, relatos de experiências e narrações. Artistas de vários estados brasileiros e de países como Argentina, Bélgica, Burkina Faso, Canadá, França, Estados Unidos, Senegal e Turquia. Assim será o Boca do Céu – Encontro Internacional de Contadores de Histórias, de 20 a 26 de maio, desta vez com o tema Aproximações do Encantamento. A múltipla programação se dividirá entre Cinemateca Brasileira e Sesc Vila Mariana. A curadoria é de Regina Machado, professora, contadora de estórias e referência nos estudos da tradição oral.

Narrações de artistas convidados abrem o evento no dia 20 de maio, segunda, às 17h, na Cinemateca Brasileira. A abertura terá ainda uma aula magna do griô de Burkina Faso radicado na França Hassane Kouyaté e, para finalizar a noite, o Trio Mana Flor enche a sala de clássicos do forró e da MPB. Entre os destaques nacionais, há quatro palestrantes que vão tocar em vários aspectos do tema do Encantamento nas tardes da Cinemateca.

Cena da edição de 2018 do evento Boca do Céu. Foto Pedro Napolitano

Na terça, 21, às 16h30, o escritor, compositor e professor Luiz Antônio Simas vai falar sobre Brasilidades Encantadas, sua pesquisa sobre escolas de samba e os terreiros das religiões de matriz africana. A pesquisadora Bia Machado discute o autoconhecimento nas tradições do Judaísmo, Cristianismo e Islam em Autoconhecimento no mundo encantado, na quarta, 22, às 16h.

O Sesc Vila Mariana será o local para as noites de narração, que muita gente chama de contação de histórias. Alguns artistas internacionais farão sua estreia no Brasil, como a narradora turca Beyza Akyüz, que se apresenta na terça, 21, às 19h30, e o griô senegalês Boubacar Ndiaye, acompanhado do músico também do Senegal Baye Cheikh Mbaye, que sobe aos palcos para narrar histórias na quinta, 23. 

A convite do Canal Teatro MF, a curadora Regina Machado respondeu a algumas perguntas sobre o evento, seu ofício e sua vocação. Vale a pena conferir. Ela sempre nos ensina e nos comove com tanta resiliência e carisma. Acompanhe. 

Para você, o que é saber contar uma história?

É estar dentro da história estando lá, não mostrando que está lá, mas estando mesmo  lá . Pois não há como narrar sem ver, respirar, sentir com os olhos, com  o corpo, os ouvidos, a pele, o que está acontecendo, de verdade no instante em que a história é. E ao mesmo tempo tendo a intenção de levar pela voz, junto comigo, quem quer que estiver  escutando as palavras do conto, porque se não fosse a sua escuta, não faria sentido eu estar ali.

Qual a história oral de tradição popular que mais marcou a sua vida e por quê?

É difícil escolher uma só. Há uma estória, talvez a que  contei mais vezes desde o início da década de 80, quando comecei a me atrever a narrar. Também o porquê é intraduzivel em palavras, mas muito perceptível nos efeitos. Ela sempre conversa comigo, cada vez de um jeito diferente, sempre me trazendo alguma aprendizagem , me tirando o fôlego quando estou com muita ‘certezinha’ de alguma coisa. É a  estória da Fátima, a Fiandeira. 

Regina Machado, curadora do Boca do Céu. Foto Pedro Napolitano

De onde veio o nome Boca do Céu para este evento?

Ai, meu Deus, outra pergunta sem resposta definida. Este nome me “veio”, me chegou , como tantos outros títulos que se apresentaram pra mim, assim, numa hora em que eu não esperava nada. Como sempre, escrevi-o num caderno, estranhei – mas no fundo gostei -, perguntei pra muita gente o que achavam, respostas variadas, fiquei insegura – será que este nome funciona? –  e o tempo foi passando. Hoje não só esse nome se acomodou com sentido dentro de mim e de muitas pessoas, como não consigo imaginar outro. Mas juro que não veio com propósito juramentado, não veio com explicação, nem com nenhum objetivo oculto, tipo “a nível de”. Como tudo na vida, tem gente que gosta, gente que não gosta, gente que entende na hora, gente que pensa que é congresso de dentista, e assim vai… 

Por que o tema deste ano é Aproximações do Encantamento?

Já faz tempo que queremos encarar o desencanto que está invadindo não apenas o mundo, mas a arte de contar histórias também. Por falta de informação, coragem, curiosidade, humor, descaso de si mesmo, busca de likes e afins, as pessoas têm  praticado  a narração de histórias de maneiras que ,muitas vezes,  ficam muito aquém do que esta arte merece, no mínimo por respeito à sua idade: é tão velha quanto a história do ser humano, está presente em todas as culturas, não é mesmo? Muitos(as) educadores(as)  e narradores(as) querem de bom coração mergulhar nesse universo das palavras encantadas, mas encontram tantas palavras de ordem, modelos e exemplos estereotipados,, milhões de cursos pela internet de terceira mão, que se fosse eu, desanimaria, mais do que me sentiria segura em um caminho a seguir. Então pensamos que seria bom recebermos diferentes tipos de estudiosos do Encantamento, com diversas perspectivas, para abrir horizontes de compreensão, para cada pessoa poder ter diante de si muitos pontos de vista, para relacionar, ponderar questionar e, quem sabe, ter vontade de perceber coisas que nunca percebeu antes.

Qual o prazer maior que você tem ao realizar este evento?

Ver as pessoas chegarem de tantos cantos do Brasil e de outras partes do mundo, serem recebidas pelas três grandes bacias de alumínio – dessas de lavar roupa, mesmo –  em que boiam crisântemos amarelos e brancos,  serem acolhidas pelas queridas pessoas  da nossa equipe e devagarzinho irem se encontrando. O Boca do Céu não é um festival, por isso tem o nome de Encontro: a cada edição acontecem mil e um encontros, desencontros, encontrões, solavancos e abraços. O Sotigui Kouyaté falou que um verdadeiro encontro só pode acontecer por meio da escuta, o que não quer dizer apenas “ouvir com os ouvidos”, mas ser sensível ao outro. É uma alegria enorme dispor uma situação como o Boca do Céu, em que as pessoas se encontram e podem escutar a elas mesmas, aos outros, ao mundo e às palavras encantadas  dos contos de tradição oral. Quando a gente vê isso acontecendo ao longo da semana, as imensas dificuldades que enfrentamos na  preparação deixam de ter importância e nossa equipe toda celebra junto.

E qual a maior dificuldade para que ele se concretize?

A incompreensão generalizada de que narrar histórias é muito importante no mundo de hoje pode gerar grandes empecilhos financeiros: estamos operando com menos da metade do orçamento aprovado. Gera necessidade de termos de explicitar inúmeras vezes  por que as escolas , os educadores e as famílias  podem se beneficiar desse Encontro, aprendendo, se divertindo, se maravilhando, se perguntando sobre as coisas valorosas desse mundo, a partir da escuta de contos de sabedoria ancestral. Apesar de tudo, conseguimos, mais uma vez, espaços que nos vão acolher, agradecemos muito e honramos a luta diária para estarmos nesses lugares durante o Boca do Céu. Desde 2001 realizamos muitas vezes esse evento, e continuamos até hoje, pois acreditamos  que muitas pessoas têm na memória histórias lindas que viveram no Boca do Céu, nem que seja apenas para se lembrar num final de tarde, com um leve sorriso de satisfação.

Serviço

Boca do Céu – Encontro Internacional de Contadores de Histórias

Cinemateca Brasileira. Largo Sen. Raul Cardoso, 207. Abertura na segunda, 20, 17h

Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas, 141

Ingressos: Grátis (sujeito à lotação dos espaços).

De 20 a 26 de maio

Programação completa no site https://bocadoceu.com.br/

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Ficha Técnica

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Serviço

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