O coletivo de palhaços, liderado por Hugo Possolo e Raul Barretto, promove festival que explora temáticas natalinas e de réveillon
Por Dirceu Alves Jr. (publicada em 11 de dezembro de 2025)
Tudo começou em 2004. O Centro Cultural Banco do Brasil encomendou ao grupo Parlapatões um espetáculo para a grade de dezembro. A ideia era um programa familiar que brincasse com o espírito natalino sem solenidade.
Assim, O Auto dos Palhaços Baixos reuniu os comediantes Hugo Possolo, Raul Barretto, Claudinei Brandão e Henrique Stroeter, além de alguns convidados, e mal eles sabiam que começaria uma tradição que já dura 21 anos.
O Auto dos Palhaços Baixos conta, entre outras histórias, as trabalhadas de um cineasta, que, depois de perder o patrocínio do filme, é obrigado a usar o elenco na montagem de um presépio. As quatro sessões deram tão certo que, em 2005, os Parlapatões repetiram a dose em São Paulo e estenderam a receita para a unidade carioca do CCBB. “No Rio, a gente fez em um bar, com gente conversando e bebendo, e criamos um clima de cabaré em que a interação colaborou nos improvisos”, lembra Possolo.

Nos anos seguintes, o espetáculo natalino ocupou o Teatro Folha, atual UOL, no Pátio Higienópolis e, a partir de 2007, com a inauguração do Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, o evento cravou lugar na agenda de fim de ano. “Apresentamos direto até a pandemia e, mesmo no isolamento, fizemos uma experiência on-line com A Missa do Galho”, conta Possolo.
Desde a última sexta, dia 5, Farsas de Natal, o nome adotado pelo projeto ao longo dos anos, pode ser visto no Espaço Parlapatões até o dia 21. A programação é formada por peças, stand-ups comedies, shows e a participação de convidados, como a Trupe de Festim, que exploram temáticas natalinas e de réveillon. Entre os assuntos, aparecem o nascimento de Jesus, os boletos pagos e as dívidas contraídas em dezembro e uma retrospectiva das idiotices dos últimos 365 dias.
Neste fim de semana, o destaque é Evangelho Segundo Nóiz!, uma coletânea de esquetes com os Parlapatões e a Trupe de Festim que poderá ser vista na sexta, 12, no sábado, 13, às 23h. Entre as cenas está aquela que Possolo interpreta fragmentos do solo O Primeiro Milagre do Menino Jesus, do dramaturgo italiano Dario Fo (1926-2016) e, a cada noite, um convidado é recebido. O Palhaço Klaus marca presença na sexta, o humorista Guilherme Mazzuccato aparece no sábado e, na semana seguinte, no dia 19, é a vez do coletivo Barbixas.

O artista carioca João Carlos Artigos apresenta no sábado, 13, às 16h, a performance Cabeça de Nego, um espetáculo-brinquedo que celebra para a criançada o poder da imaginação. Um sarro em cima da retrospectiva do ano é o que promete Cabaré Parlapatões – Revista 2025, com as participações da atriz e bailarina Márcia Dailyn e da banda Índigo e Reticências.
No último fim de semana, a Missa do Galho, celebração cômico-ecumênica conduzida pelo Papa Possolo faz o balanço dos principais fatos com as presenças do ator Mario Matias, do Coletivo Paladar e do caricaturista Toni D’Agostinho.
“Em um primeiro momento, chegaram a nos questionar se estávamos zombando da fé, só que não é nada disso”, diz Possolo. “A gente pode até criticar quem manipula a fé, mas ficamos em um lugar que não é o da religião e só queremos divertir e emocionar o público.”
O ator Raul Barretto, que, ao lado de Possolo, é integrante da formação original dos Parlapatões desde 1991, afirma que o grupo nunca perdeu a noção de que o Brasil é um país católico e, se a fé rende polêmicas, o humor não fica atrás. Ele, porém, tem a noção de que o público de teatro é infinitamente menor que o da televisão ou da internet e isso pode dar liberdades maiores ao artista desde que, claro, a responsabilidade não seja abandonada.

“A minha formação vem do circo-teatro e as piadas populares envolvem um jogo de duplo sentido, então é claro que fazemos brincadeiras com Jesus, mas, avalizado pelo clima farsesco, usamos o bom senso”, afirma Barretto.
Para se adaptar aos novos tempos, Barretto garante que esse entendimento se dá com naturalidade e nada melhor que conviver com gerações mais jovens. Ele elogia a Trupe de Festim, coletivo formado há uma década por Alberto Vizoso, Darlan Júnior e Thiago Cardoso, que divide as farsas deste ano com os Parlapatões e apresenta a peça O Natal de São Longuinho nos dias 19 e 20.
“São três palhaços com uma vitalidade cênica encantadora que me lembra como a gente era há 20 anos”, compara Barretto. “Estamos trabalhando ainda com a Andreas Mendes e a Suzana Aragão, um ganho tremendo para a nossa turma.”
O carro-chefe das Farsas de Natal, O Auto dos Palhaços Baixos, recebeu adaptações que conversam com as pautas feministas e identitário. Em meio às novas improvisações, o diretor de cinema surta durante a encenação do presépio. Quem termina o trabalho e salva a produção é a estagiária preta, interpretada por Suzana Horácio. “Os Parlapatões sempre foram um grupo de meninos e, agora, estamos em um lugar de busca do protagonismo feminino”, conclui Possolo.
Serviço
Parlapatões em Farsas de Natal
Espaço Parlapatões. Praça Franklin Roosevelt, 158
Sexta, 20h30. Sábado, a partir das 16h. Domingo, a partir das 18h. R$ 20 / R$ 60 (de acordo com a atração). Os shows musicais são gratuitos. Programação completa em www.parlapatoes.com.br.
Até 21 de dezembro (estreou em 5 de dezembro)
