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Crônicas de Paulo Mendes Campos inspiram “Aurora”, peça em homenagem ao autor

Sinopse

Sob a direção de Rodrigo Penna, montagem que estreia gratuitamente no CCSP evoca a sensibilidade da obra de um autor pouco lembrado

Por Dirceu Alves Jr. (publicada em 26 de novembro de 2025)

Os escritores, entre tantas outras coisas, Paulo Mendes Campos (1922-1991), Fernando Sabino (1923-2004), Otto Lara Resende (1922-1992) e Hélio Pellegrino (1924-1988), mineiros e grandes amigos, ficaram conhecidos no meio intelectual como “os quatro cavaleiros do íntimo apocalipse”. O apelido fazia jus a uma sensibilidade pouco exposta pelos homens da época e, nos textos deles, não faltavam emoções, reflexões existenciais e observações cotidianas quase imperceptíveis, mas que, aos olhos deles, calibrados pelo álcool, eram óbvias.

Do quarteto, Paulo Mendes Campos é o que menos ficou badalado nas décadas recentes. O ator, diretor e produtor carioca Rodrigo Penna, de 51 anos, deste que descobriu a obra do cronista há quase duas décadas começou a ficar incomodado com o apagamento. A cada texto lido, maior era a vontade de compartilhar aquelas palavras com mais gente. De que jeito faria isso? Presentear os amigos com livros já não era suficiente. De que forma divulgaria Paulo Mendes Campos? Pelo teatro, claro.

O elenco de Aurora – Uma Homenagem à Obra de Paulo Mendes Campos. Foto Larissa Vieira

Em 2015, Penna decidiu levar o escritor aos palcos e, finalmente, Aurora – Uma Homenagem à Obra de Paulo Mendes Campos estreia nesta quinta, 27, na Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo, em temporada gratuita. Com dramaturgia, concepção e direção-geral de Penna, os atores Gustavo Damasceno e Kadu Garcia e a atriz Júlia Konrad mergulham em textos do escritor, a maioria extraída do livro O Amor Acaba – Crônicas Líricas e Existenciais, publicado pela Civilização Brasileira em 1999. 

Foi essa obra que fez o diretor descobrir o autor através de um exemplar presenteado pela amiga e escritora Adriana Falcão em 2008. O Amor Acaba, Ser Brotinho, Por Que Bebemos Tanta Assim? e Achando o Amor são algumas das crônicas reunidas na coletânea. “Eu sempre fui mais ligado em literatura que em teatro e, quando abri este livro, fiquei louco, li e reli inúmeras vezes”, conta. “Como ele diz, o amor acaba, mas está presente o tempo todo em qualquer situação e a gente se esquece do caminho da beleza.”

Aurora – Uma Homenagem à Obra de Paulo Mendes Campos é um espetáculo na contramão das chamadas pautas urgentes dominantes nos palcos brasileiros. Penna tem consciência disto e garante que no teatro existe lugar para qualquer mensagem e não considera a sua menos relevante. “Falar do belo e da gentileza é uma forte contribuição para quebrar o ciclo de intolerância que vivemos”, justifica. “Na obra de Paulo, o amor é descrito como algo simples que passa pelo respeito a um colega, o cumprimento a um vizinho e o exercício da escuta, pequenos gestos que, às vezes, deixamos de lado.”

No palco, Júlia, Garcia e Damasceno se revezam na pele do próprio Paulo Mendes Campos, de suas musas e dos personagens das crônicas em narrativas na primeira ou na terceira pessoa. Trata-se um grande jogo cênico que, por vezes, ganha um clima de sarau e, em outras, parece um happening, atravessando diferentes linguagens, como vídeo, dança e artes plásticas. A trilha sonora vai da contemporânea música eletrônica até criações do começo do século 20, passando pelos compositores do mineiro Clube da Esquina e uma homenagem a Lô Borges (1952-2025), que morreu no dia 2 deste mês. “Tudo tem um dedo meu e confesso que a única coisa que não senti vontade neste projeto foi de estar no palco”, garante.

Como ator, Penna deu os primeiros passos na infância. Fez sucesso em O Menino Maluquinho, peça inspirada no personagem de outro mineiro, Ziraldo (1932-2024), e ganhou popularidade na adolescência nas novelas Top Model (1989) e Vamp (1991), escritas por Antônio Calmon para a Rede Globo. Na década de 2000, a música ocupou papel de destaque, e ele assinou as trilhas sonoras das peças Ensina-me a Viver e Doidas e Santas, dirigidas por João Falcão e Ernesto Piccolo, respectivamente. 

Outro momento de Aurora – Uma Homenagem à Obra de Paulo Mendes Campos. Foto Larissa Vieira

O talento como DJ rendeu um sucesso empresarial inesperado, a festa Bailinho, que há 18 anos movimenta as pistas de dança pelo Brasil afora. “O Bailinho não deve acabar nunca, só que estou ficando velho e a noite virou algo mais esporádico na minha vida”, comenta Penna. “Este espetáculo está de pé graças à experiência de produtor e ao dinheiro que ganhei com o Bailinho.”  

Aurora – Uma Homenagem à Obra de Paulo Mendes Campos não é estreia de Penna na direção teatral. Em 2006, ele assinou Eu Nunca Disse que Prestava, peça baseada em textos de Adriana Falcão e Luciana Pessanha, com a participação de, entre outros, as atrizes Lorena da Silva, Natália Lage e Ana Barroso. 

O hiato de quase duas décadas entre uma direção e outra não é culpa do Bailinho, mas pode ser justificado pela extensa agenda da festa que deixou a sua energia mais focada. “Eu gosto de falar no teatro de coisas que tem a minha cara, como o amor, a ternura, os recomeços e, por isso, me encantei por Paulo Mendes Campos”, justifica. “Não sei se saberia dirigir um Nelson Rodrigues ou um William Shakespeare.”

Serviço

Aurora – Uma Homenagem à Obra de Paulo Mendes Campos

Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho. Rua Vergueiro, 1000

Quinta a sábado, 20h. Domingo, 19h. Grátis. Ingressos disponíveis no site centrocultural.sp.gov.br ou através de retirada presencial na véspera da sessão a partir das 14h

Até 14 de dezembro (estreia dia 26 de novembro)

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Ficha Técnica

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Serviço

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