Encenado por Augusto Zacchi, monólogo de Daniela Pereira de Carvalho investiga a trágica coincidência do Clube dos 27, formado por astros do rock que morreram aos 27 anos
Por Ubiratan Brasil (publicada em 24 de novembro de 2025)
Uma série de coincidências originou a criação espontânea do chamado Clube dos 27. Trata-se de um grupo de músicos populares que morreram tragicamente aos 27 anos de idade, a maioria de forma involuntária – ao menos, naquele momento. As figuras mais conhecidas incluem Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Brian Jones, Robert Johnson, Kurt Cobain e Amy Winehouse. E o que chamou atenção para tal coincidência foi uma sequência de mortes: Brian Jones em 1969 e de Jimi Hendrix e Janis Joplin, no ano seguinte.
Tais ídolos são lembrados no monólogo 27’s, que inaugura um novo espaço do Teatro Estúdio, em São Paulo. Escrito por Daniela Pereira de Carvalho e dirigido por Gustavo Rodrigues, o solo acompanha o martírio de Virgílio, astro do rock decadente que rememora sua vida, glórias e fracassos. Sua tragédia começou ao completar 27 anos, quando duas perdas o condenaram a uma existência marcada por remorsos.
“Aos 27 anos, ele perdeu tudo em vida”, comenta Augusto Zacchi, intérprete de Virgilio. “E, como não morreu naquela idade fatídica, é condenado a viver com essa memória. É como Sísifo, figura da mitologia grega cujo mito foi estudado por Albert Camus, para quem o homem vive sua existência em busca de sua essência, do seu sentido, e encontra um mundo desconexo e ininteligível.”
Virgílio busca dar cabo da vida, mas suas tentativas são infrutíferas. “Ter sobrevivido, na verdade, é sua grande tragédia. Ele lamenta não ter morrido como seus ídolos do rock. Como ele mesmo diz, virou um cadáver que respira. O que aconteceu? Por que ele entrou nesse clube e convive com eles? Por que não morre? E porque sobreviveu, são perguntas que aguçam a curiosidade do público no decorrer da peça”, aponta Zacchi.
“Vejo também alguns resquícios de Werther, personagem criado por Goethe e que vive um estado de angústia, solidão e melancolia, pois a vida só tem sentido com a amada”, completa Pedro Osorio, que divide a direção de produção com Maira Chasseraux.
A escrita de 27’s foi muito intensa, segundo a autora. “Primeiro, escrevi separadamente sobre Janis, Jimi, Jim, Kurt e Amy. Passei um tempo só estudando e ouvindo cada um deles. Depois misturei as histórias deles com a do Virgílio. Ele foi meu ponto de partida na escrita, decidi mesclar historiografias reais com uma biografia imaginária, todas permeadas pela suposta ‘maldição’ do Clube dos 27, que teria começado com Robert Johnson”, conta Daniela.
Em cena, Zacchi toca guitarra e canta trechos de canções imortalizadas pelos ídolos do rock. O momento, porém, é desconfortável para o ator. “Sou muito tímido nesse quesito e não me sinto à vontade”, conta ele, que adquire características daqueles músicos, como falar rapidamente como Joplin ou encontrar um tom vocal muito próximo do de Jim Morrison.
“A música é o que restou dessas vidas excepcionais, que influenciaram gerações”, observa Gustavo Rodrigues. “Ela continua representando seus criadores em discursos ácidos e sociais, provocando as novas gerações. Em 27’s, transitamos por momentos marcantes da vida dessas estrelas do Rock, através de suas canções e pulsões criativas, o que acaba oferecendo ao público um deleite diante da beleza de algumas obras primas do Rock.”
27’s é o segundo texto de uma trilogia escrita por Daniela Pereira de Carvalho, que integra a Cia. Fotiá. O primeiro é Realpolitik, agora em cartaz no Teatro Estúdio, e o terceiro será A Sobrevivência da Espécie, com estreia em janeiro de 2026 na mesma Sala Experimental do Teatro Estúdio.
Serviço
27´s
Teatro Estúdio – Sala Experimental. Rua Conselheiro Nébias, 891
Sábados, 19h. Domingos, 20h. R$ 100
Até 21 de dezembro (estreou 22 de novembro)
