O melhor do teatro está aqui

2

Experiência com a morte precoce de uma filha marca “Etiqueta do Luto”

Sinopse

Atriz e dramaturga Daniele Tavares traduz em cena episódios da vida real e constrói uma narrativa em que memória e presença se confundem, em um esforço de elaborar o luto e a saudade que não passa

Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 10 de novembro de 2025)

Tanto a literatura como o teatro vivem um momento em que os relatos pessoais atravessam a construção e a criação de novas linguagens. O termo autoficção permeia essas novas produções. Às vezes essa forma é vista como menor e facilitadora, outras vezes é laureada com um Prêmio Nobel de Literatura, caso da escritora francesa Annie Ernaux

Depois de 30 anos afastada dos palcos, a atriz e autora Daniele Tavares funde elementos autobiográficos e ficção e estreia o solo Etiqueta do Luto – ninguém pergunta nada à mãe da menina morta, em que relata uma experiência pessoal e devastadora: a morte de sua filha, aos 21 anos, no dia 24 de novembro de 2015, em circunstâncias obscuras e sem causa definida. O espetáculo chegou ao Teatro Pequeno Ato, com direção de Marcelo Varzea

Daniele Tavares em Etiqueta do Luto – ninguém pergunta nada à mãe da menina morta. Foto Julio AraKack

“Minha filha sonhava em ser atriz e, de alguma forma, estar novamente no palco é um reencontro com ela – um modo de seguir perto, de continuar o diálogo que a vida interrompeu. No início, precisei dar espaço para que a mãe pudesse aparecer. E, aos poucos, quando ela se sentiu em um lugar seguro, deixei que viessem à tona todas as minhas dores, medos e culpas. À medida que o processo foi se delineando, fui conseguindo o distanciamento necessário para criar como escritora e como atriz”, revela Tavares.

O trabalho, de acordo com o diretor Marcelo Varzea, dialoga com a pesquisa que ele desenvolve sobre autoficção e outras narratividades e que já renderam três espetáculos, iniciada por Silêncio.Doc, inclusive com texto publicado pela editora Cobogó; Dolores e O que meu corpo nu te conta? “A partir de suas memórias sobre a perda da filha, organizamos um dispositivo dramatúrgico em que o real é atravessado por elaboração poética e exercício de imaginação. O solo inscreve-se nesse território híbrido em que memória, corpo e palavra formam um gesto político contra o esquecimento”, comenta.

Outra cena do solo Etiqueta do Luto, com Daniele Tavares. Foto Julio AraKack

Em 2023, Daniele já havia publicado o livro Parte de mim (Ed. Quelônio), em que abordava de maneira poética essa experiência da perda. Agora, junto com a estreia de Etiqueta do Luto – ninguém pergunta nada à mãe da menina morta, ela lança pela Editora Giostri o livro com a dramaturgia do espetáculo, assinada por ela e com o dramaturgismo de Marcelo Varzea, Mariela Lamberti e Bruno Rods.

Ainda sobre a encenação, o diretor acrescenta: “Minha prática tem sido criar dispositivos de presença que encenam o real e confessam o ficcional, abrindo espaço para que a plateia experimente um campo de ambiguidade produtiva entre relato e invenção. Não me interesso, de maneira contundente, por nada no teatro que tenha caráter espetacular ou virtuosístico. Tenho me atido à cena crua, ao teatro essencial, em que ator, atriz, texto, luz, alguma ambiência sonora e elementos mínimos de cenografia bastam para instaurar o acontecimento”.

Serviço

Etiqueta do Luto – ninguém pergunta nada à mãe da menina morta

Teatro Pequeno Ato. Rua Dr. Teodoro Baima, 78

Sextas, sábados e segundas, 20h. Domingos, 19h. R$ 80

Até 15 de dezembro (estreou em 8 de novembro)

[acf_release]
[acf_link_para_comprar]

Ficha Técnica

[acf_ficha_tecnica]

Serviço

[acf_servico]