Com direção de Isabel Teixeira, espetáculo apresenta dramaturgia construída pelo próprio elenco – oito histórias formam um caleidoscópio de situações inusitadas que valorizam a fabulação inerente a todas as pessoas
Por Redação Canal Teatro MF (publicada em 27 de outubro de 2025)
O Teatro de Contêiner passa por um momento delicado. Depois de uma ofensiva de setores da Prefeitura para desmobilizar o teatro e uma imensa reação pública envolvendo muitos nomes do teatro em prol da permanência do espaço, a ordem de despejo segue adiada, mas não cancelada. Enquanto isso, a Cia Mungunzá, que reúne artistas que idealizaram e mantêm este inusitado teatro, estreia o seu mais novo espetáculo no próprio Contêiner, após passar por uma temporada no Sesc Pompéia.
Elã, com direção de Isabel Teixeira, é uma teia permeada por oito histórias criadas por atores-escritores. As histórias se passam em diferentes tempos e espaços e flertam com linguagens cênicas plurais. A dramaturgia, criada pelo elenco de sete intérpretes e mais uma artista convidada, mãe de dois atores deste coletivo, faz parte de um método de trabalho, criado e pesquisado por Teixeira desde 2008. Ele parte da premissa de que toda atriz e todo ator são escritores, que escrevem com o corpo, com a voz e com o espaço durante a cena.

Segundo a diretora, não há hierarquia entre as histórias. “Não há história protagonista. Mais do que destacar um ponto de vista individual, o processo teatral, aqui, protagoniza o espaço, uma ambiência, que rege o movimento, organiza os corpos e define os ritmos da narrativa. As histórias são um exercício de fabulação; fabular é algo inerente a qualquer ser humano. A sua fabulação é tão potente e poderosa quanto a minha e quanto a de uma criança, que para na praça pra ver um teatro de rua, por exemplo”, revela.
As oito histórias desenvolvidas pelo elenco compõem uma espiral do tempo e se cruzam em camadas sobrepostas. Cabe ao público escolher seu ângulo e montar a teia da narrativa, desenhada pelas presenças de um andarilho; um ator vendedor de morangos; duas mães, uma de um diretor de teatro e outra que enfrenta um luto; uma mulher que decide matar a própria família; um homem que descobre na morte o maior empreendimento capitalista de todos os tempos; uma mulher que acredita ser uma aranha; e um homem-bomba.

Para deixar essa experiência cênica ainda mais interessante, as narrativas transitam entre diferentes gêneros, de acordo com as pulsões propostas por cada criador. Em alguns momentos, a peça tem encenação mais naturalista e dramática; em outros, flerta com os universos dos musicais e da performance. “Mas, a palavra é sempre o foco do trabalho”, ressalta a diretora.
Serviço
Elã
Teatro de Contêiner. R. dos Gusmões, 43
Sextas e segundas, 20h. Sábados, 19h*. Domingos, 11h (*Excepcionalmente a sessão do sábado dia 1º/11 acontece às 11h)
Grátis – retirada de ingresso via plataforma Sympla – https://www.sympla.com.br/produtor/teatrodeconteiner
Até 17 de novembro (estreou em 24 de outubro)
